Sergio Torres A presidente Dilma Rousseff anunciou ontem, em discurso no Rio, que o governo, apesar da crise financeira global, não interromperá os investimentos e continuará a incentivar o consumo como meio de impulsionar a economia. Para ela, ainda há uma margem grande de crescimento econômico e social e, em consequência, do consumo no País. Na assinatura de contrato de financiamento de R$ 3,6 bilhões do Banco do Brasil ao governo do Estado do Rio, a presidente disse que o País "tinha e tem um consumo reprimido", pois "milhões e milhões de brasileiros não têm acesso a vários bens de consumo". "A mim espanta aqueles que dizem que o momento do consumo no Brasil passou. Ora, como pode ter passado se este País tem uma demanda reprimida?", disse ela, para quem os brasileiros pobres ainda "vão ter acesso (aos bens de consumo)" e formam "um grande mercado consumidor". O governo persistirá na estratégia de incentivo ao consumo, já executada quando da crise mundial de 2008, assegurou ela. "Nós vamos continuar ampliando o consumo da população brasileira, sim. E mais. E mais. Esse mercado é um mercado ainda incipiente do ponto de vista de crédito. (...) Agora, por favor, não nos comparem com aqueles países que estão com desemprego de 54% na faixa jovem. Porque nós não somos um país que não esteja gerando emprego. Nós somos um país que gerou emprego. E tem uma força do seu mercado interno", afirmou Dilma. Escolha No discurso, a presidente sustentou que o governo não usará "uma vírgula do Orçamento da União para enfrentar qualquer percalço" no combate aos efeitos da crise mundial no Brasil, que "é um outro país". "Este país tem condição de, apoiado nos próprios pés, enfrentar essa crise porque nós trabalhamos ao longo de um período de mais de uma década para criar essas condições", falou, referindo-se à resistência do Brasil à crise. A questão dos juros foi abordada por Dilma no discurso de 24 minutos. Segundo ela, "não há razão técnica" para manter os juros altos, pois "o Brasil é um País que sabe controlar a inflação" sem deixar de investir. Ela falou que a "escolha de Sofia" entre ajuste de finanças e crescimento social e econômico "não é correta", já que o "Brasil só encontrou o rumo quando cresceu, incluiu". "Aliás, é bom que se diga: nós somos um dos melhores mercados de varejo do mundo. Por que é que nós somos um dos principais mercados de varejo do mundo? Por conta dessa demanda reprimida, dessa demanda ainda não saciada. (...) Não há razão técnica para manter as taxas de juros que o País veio mantendo ao longo dos anos. Não há (...) porque nós temos hoje uma solidez fiscal que não tínhamos. (...) Mostramos que somos capazes de controlar a inflação por nós mesmos, sem imposição de ninguém", discursou. Comemoração. Aliado político do governo Dilma, o governador Sérgio Cabral Filho (PMDB)comemorou, ao lado dela e de 86 dos 92 prefeitos fluminenses, o financiamento do Banco do Brasil, o maior já concedido a um Estado. A presidente ressaltou que o dinheiro é "política de desenvolvimento", não "um presente" ao governador. Os recursos somam R$ 3,645 bilhões, para o Programa de Melhoria da Infraestrutura Rodoviária e Urbana e da Mobilidade das Cidades do Estado do Rio de Janeiro (Pró-Cidades). Dilma disse ainda ficar "perplexa" ao ouvir falar em atraso na produção da Petrobrás por causa das regras de conteúdo local. Setores da indústria do petróleo criticam a estratégia, sob a alegação de que encarecem os produtos e impedem o cumprimento de prazos. "O que está atrasado são as sondas contratadas no exterior", afirmou.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.