Com custos até 60% mais altos na produção de automóveis em comparação à China e 20% maiores em relação ao México, o Brasil continua atraindo montadoras que ainda não estão no País e novas fábricas de marcas já instadas. Há 13 projetos em construção ou em análises só de fabricantes de veículos. O número é bem maior quando somadas novas fábricas de autopeças. Mercado interno em crescimento contínuo desde 2004, com projeção de chegar a 6 milhões de veículos em menos de dez anos e bons lucros obtidos nas operações locais fazem do País atraente polo para o setor automobilístico mundial. Apesar das reclamações contínuas do chamado "custo Brasil" - que tira a competitividade do produto nacional na exportação -, a Fiat e a Toyota estão construindo novas fábricas em Pernambuco e São Paulo. A japonesa Nissan confirmou unidade de US$ 600 milhões e 4 mil empregos, ainda sem local definido. Renault, PSA Peugeot Citroën e General Motors estudam novas filiais. No grupo de empresas que estão chegando está a coreana Hyundai, a japonesa Suzuki e as chinesas Chery e Lifan - esta em parceria com o brasileiro Effa, num projeto de US$ 100 milhões. Entre os que ainda estudam fábricas estão BMW, Paccar/DAF e EBX, de Eike Batista. O país já abriga 19 montadoras de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus. Juntas, elas mantêm 24 fábricas, sem contar as de componentes. A maioria está ampliando capacidade produtiva. A GM constrói unidade de motores em Santa Catarina e a Mitsubishi ao lado de sua linha de montagem em Goiás. No segmento de autopeças, há pelo menos 15 multinacionais que vão abrir a primeira subsidiária em terras brasileiras. "O custo para produzir no Brasil é maior, mas o lucro obtido também é maior do que em outros países", diz Fernando Trujillo, consultor de mercado da CSM WorldWide. Ele ressalta, contudo, que esse quadro está mudando. "Com a chegada de carros importados a preços competitivos as empresas estão reduzindo margens de lucro para enfrentar a concorrência." Exemplo comentado nos últimos dias é o do Honda City, fabricado em Sumaré (SP) e vendido por R$ 55 mil. A montadora exporta o modelo para o México, onde é revendido por R$ 26 mil. Segundo representantes do setor, além do real valorizado, o Brasil tem custo de venda diferente. Impostos, frete, manutenção de lojas, mão de obra e vários outros itens são mais caros. Alegam ainda que quase tudo é mais caro no País: roupas, perfume, cosméticos e eletrônicos. O Big Mac, feito pela rede Mc Donald's com os mesmos ingredientes em todos os países, custa US$ 1,95 na China, US$ 2,50 no México, US$ 3,73 nos EUA, US$ 2,82 na Coreia e US$ 4,91 no Brasil, mostra o Índice Big Mac, parâmetro internacional de preços. Para Wim van Acker, sócio da consultoria americana Hunter Group, o lucro que as montadoras obtêm é um chamativo mas, em sua opinião, "mais atrativo ainda é o crescimento esperado para o mercado brasileiro". "Todos os grandes grupos querem garantir presença nos mercados emergentes como o Brasil, que está entre os que mais crescem, assim como China, Índia e Rússia, os países do Bric", confirma Michael Hanley, responsável global pela área automotiva da Ernst & Young. O interesse também ocorre dentro do próprio bloco. "Como os mercados têm características similares, é mais fácil para um grupo chinês ou indiano vir para o Brasil do que para países como Alemanha e França", diz Hanley. Em 2004, os brasileiros compraram 1,57 milhão de carros, número que saltou para 3,5 milhões em 2010, fazendo do País o quarto maior em vendas mundiais. Este ano deve ficar perto de 3,7 milhões. Para 2020, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos (Anfavea) projeta 6 milhões de unidades, mas teme que fatia importante seja de importados. Hoje, 20% do que é vendido aqui vem de fora.
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