GISELE TAMAMAR Em 2010, Beatriz Scarpa, de 28 anos, foi promovida de analista para coordenadora de marketing. O resultado foi um salário 30% maior, que propiciou o pagamento de sua primeira viagem ao exterior. A jovem embarca no dia 9 de fevereiro para a Europa, aonde vai passar 12 dias. "Foi um ano ótimo e o aumento salarial foi fundamental para minha viagem." O bom momento profissional se repetiu para muitos trabalhadores da região metropolitana de São Paulo, onde a renda média passou de R$ 1.428,99 em 2003 para R$ 1.615,73 no ano passado. O aumento foi de 13%, descontada a inflação do período. A taxa de desemprego caiu pela metade, de 14,1% para 7% no mesmo período. Os números são os mais positivos desde o início da série histórica da Pesquisa Mensal do Emprego (PME), iniciada em março de 2002 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A história da balconista Luana Aparecida Pereira de Oliveira, 20 anos, também é um bom exemplo do aquecimento do mercado de trabalho. Ela trabalhava na cozinha de um restaurante, mas saiu em outubro. "Achei que ia demorar para conseguir outro emprego, mas levou apenas um mês", relata. A vaga foi conquistada na franquia Subway aberta em dezembro pela empresária Lais Cecilia Cesar, 24 anos. Formada em gastronomia, ela quis investir em um negócio ligado à área. Na avaliação do diretor adjunto do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho do Instituto de Economia da Unicamp, Anselmo Santos, o Brasil conseguiu manter a tendência de queda do desemprego mesmo diante da crise mundial entre 2008 e 2009, o que mostra que a estratégia de estimular o consumo e aumentar o crédito foi adequada. Segundo ele, o aumento da renda média entre 2003 e 2010 reflete uma recomposição das perdas salariais entre os anos 80 e 2003. Essa recuperação é resultado de pelo menos três fatores: valorização do salário mínimo, melhora da estrutura ocupacional com aumento do emprego formal e postura ofensiva dos sindicatos em busca de negociações com ganho real. Só o porcentual de empregados com carteira assinada cresceu de 42,9% em 2003 para 49,7% em 2010. "Não podemos ignorar o grande número de trabalhadores informais, mas dentro dessa realidade estamos avançando", destaca a economista da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE, Adriana Beringuy. "O ano todo de 2010 registrou uma trajetória de alta." Apesar dos bons resultados de 2010, o número de empregos poderia ter crescido mais em São Paulo, segundo Anselmo Santos. A desvalorização do dólar fez com que as importações aumentassem. "Exportamos produtos primários e importamos produtos mais sofisticados. Essa situação não contribui para empregos melhores e perde-se qualidade, principalmente no Estado de São Paulo, que concentra os empregos industrializados."
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