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Ninguém no mercado previu corte da Selic

Para analistas, ?cavalo de pau? na política monetária põe em xeque autonomia e credibilidade do Banco Central

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Por Redação
Atualização:

Ninguém acertou. Nenhum dos economistas das 72 instituições financeiras ouvidos pela 'Agência Estado', na pesquisa sobre o desfecho da reunião do Copom de quarta-feira, foi capaz de prever um corte de juros, muito menos de uma redução de 0,50 ponto porcentual da taxa Selic para 12%. No "day after" do Copom, o sentimento entre muitos desses analistas era de que a surpreendente decisão arranhou a credibilidade e pôs em xeque a autonomia do Banco Central. Para o estrategista-chefe da CM Capital Markets, Luciano Rostagno , quem manda na política monetária "hoje são a presidente Dilma e o ministro Mantega". Ele considera que, na visão do mercado, o BC perdeu autonomia que tinha na gestão anterior e sofre agora com a pressão política. "Depois de todas as manifestações e declarações dadas pela Dilma e pelo Mantega nesta semana e diante de todas essas pressões e também da forma como o BC atuou, não dá para ver como técnica a decisão do BC." A desconfiança do mercado em relação à autonomia do BC baseia-se, em parte, na escalada das declarações da presidente Dilma Rousseff e do ministro da Fazenda, Guido Mantega, nos dias que antecederam a decisão do Copom, de que já havia espaço para corte na taxa Selic. Em viagem ao Recife, na terça-feira, primeiro dia da reunião do Copom, a presidente Dilma fez a seguinte declaração: "A partir deste momento, nós começamos a ver a possibilidade de redução dos juros no Brasil." Na véspera, ao anunciar em entrevista coletiva o aumento da meta de superávit primário do governo central em quase R$ 10 bilhões, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que "na medida em que o governo deixa de aumentar o gasto público, abre espaço para queda de juros, quando o Banco Central entende que é possível". O que agrava o ceticismo dos analistas é que os indicadores externos da economia brasileira não corroboram o temor de uma desaceleração econômica grave nem as expectativas de inflação sancionam um estímulo monetário.   A balança comercial brasileira registrou um superávit de US$ 3,873 bilhões em agosto. No acumulado do ano até agosto, o saldo positivo da balança é de US$ 19,959 bilhões, com média diária de US$ 118,8 milhões, o que representa um crescimento no superávit de 70,8% em relação aos primeiros oito meses do ano passado. Já o déficit em conta corrente em julho, de US$ 3,497 bilhões, último dado disponível, caiu quase 24% ante igual mês do ano passado. O investimento direto de estrangeiro no acumulado de 12 meses findos em julho atingiu o elevado patamar de US$ 72,155 bilhões. Por outro lado, a pesquisa semanal Focus do BC aponta para uma inflação de 6,31% em 2011 e de 5,20% em 2012, bem acima da meta de 4,5%. "O Banco Central afirma que o cenário externo se deteriorou tão fortemente que isso terá impacto na economia brasileira com horizonte deflacionista, mas os economistas não acreditam que esse movimento é tão forte assim", disse André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos. Como outros economistas, Perfeito se mostrou surpreso com a redução da taxa Selic em 0,50 ponto porcentual e não conseguiu explicar por que não viram uma deterioração tão rápida da economia global e não alertaram seus clientes com antecedência. "Se os argumentos do BC na ata do Copom não forem suficientemente convincentes a respeito dessa dinâmica, vamos ter uma piora das expectativas de inflação, traduzindo em juros mais elevados no longo prazo, em vez de caírem", disse Perfeito.

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