Não importa o tamanho da carreira de um atleta no esporte, as pessoas parecem insistir que ela só fica completa com um grande título. Foi assim com Messi até a Copa de 2022. É assim com Marta. A rainha teve a chance para a redenção três vezes, em Atenas 2004, Pequim 2008 e Paris 2024. Em todas, bateu na trave e ficou com a prata. Alguns podem chamar de injustiça dos Deuses do futebol. Outros podem ver como um sinal. “Não era para ser”.
Junto com a lamentação, vem a dúvida. O que vai ser daqui para frente? Há seis anos, na Copa do Mundo da França de 2019, Marta alertou. “Não vai ter uma Marta para sempre”, disse a jogadora em lágrimas, após a eliminação do Brasil, na ocasião. Quis o destino que a despedida dos Jogos Olímpicos viesse no mesmo lugar. O mesmo choro. Surpresa. Indignação. Emoção. Redenção. Tristeza. Dúvida. Raiva. Esperança.
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Ter ou não ter Marta na equipe nunca foi uma pergunta fácil de se responder. Em sua última apresentação com a camisa da seleção brasileira em Olimpíadas, ela foi essencial na primeira fase, tendo participação direta nos dois únicos gols marcados, se tornando a líder de assistências da equipe.
Nas quartas e na semifinal ela ficou fora do time, cumprindo efeito suspensivo após ser expulsa. Os resultados positivos e o bom desempenho da seleção fizeram com que a titularidade da rainha fosse questionada para o jogo final.
Quando grandes jogadores surgem, existe uma confiança natural de que são capazes de resolver o jogo em uma bola, e um medo de perdê-los. Nas partidas em que Marta esteve ausente, o Brasil conseguiu achar soluções, e conseguir os resultados desejados.
Nem sempre a equipe contou com o refino técnico, e se aproveitou dos erros das adversárias, como a trapalhada da zaga francesa que originou o gol de Gabi Portilho. Ou ainda o erro da goleira Cata Coll na semifinal que fez com que o Brasil abrisse o placar logo cedo contra a Espanha.
Contra a seleção campeã do mundo, foi quando o Brasil fez sua melhor exibição, deixando pistas que um futuro sem Marta em campo pode não ser algo tão sombrio. Afinal, jogadoras como Marta tem uma importância que transcende as quatro linhas do gramado.
Na grande final, junto com a expectativa pelo ouro inédito, a esperança de que a conquista poderia vir após um bom primeiro tempo contra a equipe dos Estados Unidos. A dificuldade de criação de jogadas na segunda metade, porém, trouxe de volta as dúvidas.
Quando as dificuldades apareceram, o nome dela foi levantado para tentar solucionar os problemas. Marta, que começou no banco, entrou depois do gol dos EUA, e pouco tocou na bola. Não resolveu. Mas vale ressaltar que nas três únicas finais que o País participou, ela é a única jogadora que esteve presente em todos.
Para a Copa do Mundo de 2027 Marta não revelou se vai estar atuando nos gramados, mas disse que vai estar presente “de alguma maneira”. O “para sempre” de Marta, é o legado que fica pelo respeito à bola e à luta do futebol de mulheres. A valorização da modalidade rendeu investimentos, uma seleção de base forte, recordes de público no campeonato nacional.
Muito disso graças à Marta, que é uma jogadora consciente do seu papel, da briga pela equidade de gênero, do protesto em busca de patrocínios justos, e da noção de que o reinado nos gramados tem fim. Ao chegar na final, em jogos nos quais ela não estava presente, a seleção mostrou que pode usar desses ensinamentos, para ter um futuro digno da coroa que carrega Marta. A renovação de ciclo para as próximas competições vai indicar como o Brasil vai se comportar sem a jogadora eleita seis vezes campeã do mundo. Uma medalha é um início promissor. A ver.
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