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Opinião | A mudança na jogada: não tem mais como os mesmos cartolas brincarem de Banco Imobiliário ou War

Não por acaso, vivemos na forca e a fórceps. Temos aversão à academia e à teoria nestes trópicos. Bestas que acham que só a prática se basta

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Foto do author Mauro  Beting

“A mudança na Economia que todos esperavam; Joelmir no Estadão”. Era o outdoor na cidade de São Paulo, em 1991, quando você, Babbo, veio de máquina de escrever e cuia para o jornal que este ano completa 150. Para as páginas que a partir de hoje eu também vou escrever.

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Se eu ficava feliz como você e honrado por ver meu pai nas campanhas e no jornal, agora me faltam as palavras que uso há 35 anos como jornalista esportivo. As que escrevi em 25 livros publicados (outros 12 sendo escritos). Palavras que também usei em quatro documentários que dirigi. Para fazer a curadoria do Museu da Seleção, na CBF, e do Pelé, em Santos. Para comentar o videogame Efootball, desde 2010. Para hoje ainda não saber direito como as empregar em mais um trabalho que é prazer de ofício.

Babbo, você que tem frase pintada na academia do nosso clube que tenta explicar a emoção de torcer para quem tem a felicidade de ser (e para quem não tem a facilidade de não ser...); você sabe que palavra não é fácil de usar. E nós que somos empregados por elas sabemos como elas podem ser mal-usadas. Deturpadas. Incompreendidas.

E como o jogo pode virar. Quando você partiu, em novembro de 2012, o Palmeiras não tinha tutu, tutano, e nem primeira divisão entre tantas desinteligências internas e intestinas. Hoje não tem título protestado. E conquistou mais títulos que nem em sonho.

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Um dos clubes detonados, no começo de 2013, pelo “homem de visão” da década, o saudoso pai do Marcelo Moreno. Autor da lapidar burrata: “meu filho não vai jogar nesses times falidos do Flamengo e do Palmeiras”...

Justo as potências que hoje, e a partir daquele 2013, voltaram a ser o que são. Campeãs. Dominantes. Exemplos. Cada um do seu jeito. Às vezes, até sem jeito - como a deplorável “nota oficial” do Bap que não abomina a “Chita do Tarzan” do xiita presidente da Conmebol.

Dirigentes do futebol brasileiro se articulam para mudar organização do futebol no País a partir de 2027. Foto: Rafael Ribeiro/CBF

Flamengo e Palmeiras que, desde a sua partida, Babbo, fazem muito bem a lição de casa e dão aula aos visitantes. Trabalhando muito. Abusando até das palavras soberbas de seus presidentes. Mas dando voltas olímpicas nesse mundo cheio de planos e platitudes. Mas longe de ser a terraplana como muitos nestes últimos tempos de ataques à humanidade têm defendido.

Se nosso time ganhou muita coisa desde 2012, parece que em outros campos do “saber” a gente é cada vez mais sofômano. Acha que sabe. E quem se acha, você sabe, se perde.

Só não vou fazer um balanço desde 2012 que você aí de cima viu muita coisa por aqui. E até mexeu uns pauzinhos. Só isso explica aquele vento maluco em Montevidéu pro Menino Maluquinho do Deyverson fazer aquele gol, na final da Libertadores de 2021. Ali não tem explicação. Nem com sua frase famosa, Babbo.

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Mas você que sabe de Economia entende que as gestões de Palmeiras e Flamengo se explicam e justificam. Cada um com seu modelo. SAFs como a do Botafogo fazem história Monumental, em Núñez. Refazem o Galo multicampeão de 2021. Reconstroem o Cruzeiro. Não sei o que fizeram no Vasco que se desfaz desde 2008, também. O que uma SAF pode fazer com a Lusa. O que fará no Santos, em breve. O que talvez precisem fazer com as contas que não fecham no Corinthians e São Paulo, em momentos de casas cada vez mais cheias com os torcedores cada vez mais sócios, com a lealdade que paga contas e ganha ingressos.

Só dá para chutar dentro de campo. Não tem mais como os mesmos cartolas brincarem de Banco Imobiliário ou War como se esbaldam e fazem esbórnia alguns eleitos pelo planeta. É preciso profissionalizar. O que é diferente de remunerar. Não por acaso, vivemos na forca e a fórceps. Temos aversão à academia e à teoria nestes trópicos. Bestas que acham que só a prática se basta. “No jeitinho e na ginga a nossa bola dá jogo...” Esquecendo que todo o mundo não apenas nos estuda. Todo mundo estuda. E que Pelé só teve um. E era um ET.

Ainda o Brasil faz e exporta pés de obra qualificados. Mas, de fato, o último ET foi o Bilu. Lembra, Babbo, naquele vídeo tosco? Ele dava a letra, em Corguinho: “busquem conhecimento”!

E a gente não aprende.

Opinião por Mauro Beting

Comentarista do SBT, TNT Sports, Jovem Pan e Efootball. Escritor e documentarista. Curador do Museu Pelé e do Museu da Seleção Brasileira.

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