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Opinião | Argentina 4 x 1 Brasil: alfajor sem porrada e um olé de dar dó

Seleção brasileira perde nas Eliminatórias, mas há problemas que vão além do campo

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Foto do author Mauro  Beting
Atualização:

O efeito Raphinha Modo Sincerão se viu quando o Brasil subiu primeiro à cancha, em Núñez: uma vaia que foi maior aos canarinhos do que o aplauso aos muchachos albicelestes tri mundiais no Catar. Mas, registre-se, uma vaia republicana, democrática, do bem, mãe de família...

Se começou pressionada como sempre (mas nada de outro mundo, que não conquistamos desde o penta), quando a pelota rolou, a seleção foi um alfajor argentino. Com 3min48s, Álvarez (o melhor do Atletico de Madrid) entrou entre Murillo e Arana como se fosse Messi contra uma zaga de teletubbies, depois de belíssima enfiada de Maradona de Almada (cada vez mais titular de Scaloni). Gol feito e fácil.

Jogadores da Argentina comemoram goleada sobre o Brasil em Buenos Aires. Foto: Luis Robayo/AFP

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Aos 7, o time argentino deu um olé de dar dó. Se a equipe deles é melhor do que a de 2022, a do Brasil parecia o nosso sub-20 deste ano nos 0 x 6 para os co-hermanos (oxalá termine igual, em 2026...).

Mas eles não pararam. Enzo Fernández escapou pela meia esquerda sem ninguém o acompanhar. Raphinha e Rodrygo abertos sem seguir ninguém, Matheus Cunha e Vini só observando pelo comando de ataque a progressão até o gol de Enzo. Arana distante, volantes brasileiros só tocando na bola para servir aos rivais.

Doze minutos e eu fazendo as contas para acabar logo o clássico. Aos 18, Bento sentiu a perna. Era um alento: alguém sentia algo no Brasil. Dorival aproveitou e chamou o time todo. Sim: os 10 foram ouvir o treinador que apostou em time muito ofensivo. Mas que só estava sendo ofensivo à história brasileira.

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O gol de Matheus Cunha, aos 25, foi uma bobeada abissal de Romero, e inegável mérito do atacante que pressionou e roubou uma das poucas bolas que o Brasil conseguiu.

Mas o nosso time não merecia melhor sorte como aquela. A Argentina chegou mais três vezes e fez o terceiro, aos 36, com Mac Allister arrastando com toda a liberdade que tanto se pede no país. E ela existe. Ainda mais para os argentinos em Buenos Aires.

No intervalo, sucesso de Sidney Magal cantado em espanhol. “Tenho”. Era o que havia de mais brasileiro na cancha do River...

A seleção voltou antes a campo. Foi o único momento de superioridade numérica brasileira até então. Dorival mexeu bastante. Sem poder tirar os 11, sacou o infeliz Murillo e colocou Léo Ortiz na direita, passando o capitão Marquinhos à esquerda da zaga; Joelinton, em nova jornada ruim, foi substituído por João Gomes (que bem poderia ter iniciado no lugar de Matheus Cunha, para não deixar a seleção tão exposta); Endrick substituiu Rodrygo, que se mexeu muito, mas pouco fez. Matheus foi aberto à direita, e Raphinha enfim foi atuar onde brilha hoje, mais por dentro.

Mas seguiu por fora de tudo. Não era o que havia mal falado a Romário. A porrada os argentinos deram na bola. Sem pau e na paz.

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Aos 15, eles tiveram sua sétima chance. E eu olhando para o relógio do telão torcendo para o tempo voar e acabar daquele jeito. Há 30 anos sem vitória neste campo. E há 52 anos eu vendo a seleção poucas vezes assistindo à atuação tão ruim.

Aos 20, Raphinha voltou à direita, Cunha por dentro, e ainda os hermanos eram mais perigosos. Logo depois, Savinho entrou aberto pela direita. Na dele. Raphinha voltou para articular por dentro. Scaloni colocou o filho de Simeone aberto pela direita. Almada, que brilhou de novo, saiu muito aplaudido.

Não deu 5 minutos e, quase sem ângulo, Simeone aproveitou belo lance que parecia tão perdido quanto Arana para encher a rede de Bento.

O caçula de Cholo dando show e a gente com um futebolixo chulo. Ninguém para dar um bico na pelota que passou por toda a nossa zaga onde está passando tudo.

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(São 28 minutos do segundo tempo neste exato momento em que escrevo o texto. E quero mesmo que acabe ontem o jogo. Eu ainda me sinto um menino desde que cheguei a Buenos Aires. Feliz como se fosse a primeira vez que aqui vim para comentar a seleção, pela Band, em 2001. Mas, de fato, agora, estou mais parecendo um chico assustado com o que não estamos vendo. Eterno agradecimento ao Estadão por esta cobertura. Mas um medo danado desta história acabar mais histérica. Meu whatsapp só deve estar recebendo menos mensagem agora do que o de Romário).

A Argentina foi tirando a cavalaria. E ainda assim obrigando Bento a se virar. Teve até uma falta que o Brasil mandou no travessão de Dibu. Mas e daí?

Ainda bem que Scaloni sacou Álvarez, aplaudido de pé, aos 36. Eles tiraram o pé. E a hinchada tirou sarro na sequência gritando olé.

Ederson substituiu o irreconhecível André. Mas a gente precisaria substituir todos eles por todos eles. Vini não é Vini. Mas não é só ele. Dorival também não é. O Brasil não pode ser só isso. Foram 11 chances deles. Duas nossas. E podia ter sido ainda pior.

Ainda bem que teremos mudanças na CBF com as novas eleições...

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Ué? Já foram?! Na véspera?!?

Mas ao menos houve oposição... Não? Voto em branco? Como?! Foi 100% de apoio ao Ednaldo!?

Eu te amo, meu Brasil. Foi apenas azar a pior derrota em 72 anos de Eliminatórias!

Opinião por Mauro Beting

Comentarista do SBT, TNT Sports, Jovem Pan e Efootball. Escritor e documentarista. Curador do Museu Pelé e do Museu da Seleção Brasileira.

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