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Opinião | Raphael Veiga errou, mas erra mais quem não reconhece quem ele honra

Meia perdeu pênalti no final do segundo tempo que poderia ter empatado o dérbi

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Foto do author Mauro  Beting
Atualização:

Fã de Valdivia, o neto do Rafael se despediu no velório do avô (que fizera o pai Rubens e o pequeno Raphael palmeirenses) com um bilhetinho que deixou nas mãos dele. Mensagem entregue que o pai viu e resolveu guardar. Até a estreia do netinho no time do coração da família, em 2017, vindo como revelação do Coritiba.

Raphael Veiga chegou ao Palestra tão familiar 20 anos depois de outro craque camisa (e nota) 10 vir do Couto Pereira: Alex. Ídolo de visão que projetou, ainda na tímida apresentação do menino (que explodiria só depois de emprestado em 2018 para o Athletico Paranaense), que o Palmeiras contratara um jogador melhor do que ele para a armação alviverde...

Se tem como discutir qual o melhor entre dois talentos indiscutíveis, Raphael Veiga foi além da própria promessa e dos sonhos. Em 110 anos do clube da família, ele é o maior artilheiro em disputas decisivas, com 12 gols em 23 jogos valendo taça. Ao lado de Weverton e Gustavo Gómez, Veiga é quem mais finais jogou. Também ultrapassou Dudu como maior goleador no século.

Raphael Veiga comemora gol do Palmeiras no Paulistão Foto: Alex Silva/Estadão

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Maior artilheiro em 10 anos de Allianz Parque. Palmeirense com mais gols de pênalti no século, só foi errar uma cobrança depois de converter as primeiras 24 vezes. Goleador no século nos clássicos, Veiga superou a desconfiança inicial. Não se omitindo para armar lances e colocar nas cabeças e pés dos companheiros as bolas paradas precisas em escanteios e faltas. Junto com Gabriel Jesus, o camisa 23 é o atleta do clube que mais jogou pela seleção brasileira desde 2001. Ainda que tardiamente convocado. E, como Dudu, menos vezes do que merecia.

Injustiça que ele responde pela bola. Mandando em campo mensagens precisas que ele emociona como no bilhete que deixara para a eternidade para o seu Rafael, prometendo - e cumprindo - que daria “muitas alegrias a ele no futebol”. Só não sabia que seriam muitas mais. E para milhões de palmeirenses como eles. Todos na torcida. Como o pai Rubens ficou com o bilhete nas mãos o jogo todo contra o Flamengo, no Uruguai. Quando Raphael abriu o placar. E, como sempre acontecia, as três gerações dos Veigas ficaram até o final torcendo pelo time: Raphael lesionado no banco depois de se sacrificar taticamente, Rubens na arquibancada do Centenário, e o seu Rafael “ajudando” lá de cima o Deyverson a fazer o que fez depois de substituir o netinho, rumo ao alto da glória eterna.

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Avô, pai e filho estavam como sempre estiveram os três: na torcida. De fora para dentro dando toda a força e luz. No roteiro escrito pelo piá no bilhete que o pai segurava na festa final, no gramado em Montevidéu.

Raphael que perdeu o pênalti que acabou sendo decisivo na busca do tetra paulista que só aconteceria por ele ter diminuído o placar no Morumbi, em 2022. Por ele e Dudu carregarem o time no show nos 4 a 0 no Allianz, na volta. Por ele abrir o placar contra o Santos, de pênalti, na volta do tri, no Allianz, em 2024.

Veiga que tem perdido mais pênaltis. Não tem jogado tão bem. Mas não chuta longe a responsabilidade de cobrar os tiros. E ser cobrado e ficar na mira além da conta pelo erro - e mais um acerto de Hugo Souza, que no Dérbi da fase inicial já havia defendido o de Estêvão.

Veiga perdeu. O Palmeiras foi vice. Mas ele segue campeão. Mais do que muitas cornetas derrotistas que não conhecem o passado ou não reconhecem quem ele honra.

Opinião por Mauro Beting

Comentarista do SBT, TNT Sports, Jovem Pan e Efootball. Escritor e documentarista. Curador do Museu Pelé e do Museu da Seleção Brasileira.

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