Atleta com o maior número de títulos na história do futebol, oito vezes ganhador da Bola de Ouro, campeão da Copa do Mundo do Catar. Considerado por muitos o melhor jogador da modalidade do mundo, Lionel Messi tem dezenas de motivos para se manter relevante na mídia. Já são mais de mil jogos como profissional, com 833 gols marcados e milhões de fãs.
No entanto, tamanha exposição nem sempre é desejada. Para sair dos holofotes e poder acompanhar mais a família — composta pela esposa, Antonela Roccuzzo, e os três filhos, Thiago, Mateo e Ciro —, o jogador decidiu, em 2023, deixar o Paris Saint-Germain, time francês pelo qual jogou por duas temporadas, e arriscar-se em uma liga de menor expressão: a Major League Soccer (MLS), dos Estados Unidos.
No novo clube, Messi já conquistou um título. Apenas um mês após sua chegada, o time venceu a Copa das Ligas. No mesmo ano, tornou-se o primeiro jogador da MLS a receber uma Bola de Ouro. Nesta temporada, é um dos grandes responsáveis por manter o Inter Miami na primeira colocação do campeonato nacional. O atleta marcou dez gols e fez nove assistências no torneio — um total de 19 participações em gols, metade dos feitos pela equipe.
O movimento de passar a atuar na liga norte-americana não é pioneiro. Na década de 70, Pelé fez o mesmo, despediu-se do Santos e começou a fazer parte do elenco do Cosmos, de Nova York. A intenção era popularizar a modalidade, ainda pouco vista pelo público nos Estados Unidos. David Beckham, ídolo do Manchester United e um dos proprietários do Inter Miami, jogou pelo Los Angeles Galaxy de 2007 a 2012.
Ivan Martinho, professor de marketing esportivo pela ESPM, comenta a decisão do atleta. “É o maior mercado esportivo do mundo, e com chances de ficar marcado na história como o homem que mudou a história do futebol jogado com os pés nos Estados Unidos, coisa que até Pelé tentou”, afirma.
Os impactos da “Messi-mania”
Com quatro ligas esportivas principais — a de futebol americano (NFL), de basquete (NBA), de beisebol (MLB) e de hóquei no gelo (NHL) —, os Estados Unidos não são os fãs mais assíduos do futebol. A título de comparação, a MLS informou que as transmissões mais vistas em sua parceria com a Apple TV, no ano passado, chegaram a um milhão de espectadores. Em 2023, o jogo de estreia da NFL bateu em média 27 milhões de telespectadores.
Ainda assim, os números e eventos demonstram que, mesmo em um local de menor visibilidade mundial, Messi continua gerando muito interesse. Neste maio, foi inaugurada em Miami a “The Messi Experience”, uma exposição de 1800 metros quadrados que conta a vida do jogador — desde sua infância até sua última grande conquista, a Copa. Itinerante, a experiência irá para Buenos Aires em julho.
Além disso, gráficos disponibilizados pelo Google Trends indicam que, com exceção do período entre maio de 2022 e maio de 2023, em que o atleta conquistou sua primeira Copa do Mundo com a Argentina e se tornou o maior vencedor isolado da Bola de Ouro, a quantidade de pesquisas pelo nome “Lionel Messi” está acima nesta temporada se comparada aos últimos anos.
Se as buscas pelo jogador não caíram, por outro lado, as pesquisas pelos jogos de futebol nos Estados Unidos e pelo desempenho do Inter Miami só crescem. O interesse pela liga americana no mundo praticamente dobrou no último ano, enquanto o time em que Messi joga saiu da zona de total desinteresse em que se encontrava.
Os impactos da chamada “Messi-mania” se refletem também nas vendas. Em 2023, a liga anunciou, que a camisa 10 de Messi foi a mais comprada na temporada. Nas arquibancadas, o preço dos ingressos de partidas que envolvem um dos jogadores mais famosos do planeta subiram. O preço médio para o ingresso no jogo de estreia da estrela no time tiveram um aumento de 500%, à época, e, ainda que no momento não se mantenham a essa taxa de aumento, continuam mais caros do que antes da chegada do atleta.
“O Messi tinha consciência que, ao ir jogar no Inter Miami, ficaria mais afastado dos holofotes em relação às grandes ligas do mundo. Por outro lado, ele foi para um centro que, comercialmente falando, será o grande polo do futebol nos próximos anos, com realização de eventos grandiosos e que, direta ou indiretamente, vai atrair a atenção e ter a visibilidade de todo o planeta”, explica Reginaldo Diniz, CEO da Agência End to End, empresa que conecta o torcedor à sua paixão e é um hub de soluções e engajamento para o mercado esportivo.
Nos próximos meses, os Estados Unidos serão palco de alguns dos maiores eventos da modalidade. Neste ano, o país sedia a Copa América. Em 2025, receberá a primeira edição do novo formato do Mundial de Clubes. Já no ano seguinte, em 2026, será anfitrião, junto com México e Canadá, da Copa do Mundo, o torneio mais importante do futebol.
Messi leva uma vida comum
“Ao optar pela MLS ao invés de continuar jogando na Europa, o Messi sabia que não teria a mesma visibilidade. Algo similar ocorreu com o Cristiano Ronaldo. A intenção do Messi ao optar pelo Inter Miami foi o de viver novas experiências e investimentos através da qualidade de vida que Miami proporciona”, pontua Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports, que é especialista em marketing esportivo e faz a captação de contratos entre marcas envolvendo profissionais do esporte.
Mesmo com os números estrondosos na mídia, Lionel Messi consegue viver uma vida mais calma em Miami do que viveria na cidade de seus clubes anteriores, Paris e Barcelona, assim como planejado. Os principais jornais locais tem o costume de focar somente nos jogos dos quais ele participa — e na animação de fãs que finalmente podem vê-lo presencialmente.
Já reconhecido por se expor pouco na mídia, o atleta poucas vezes fala com repórteres após as partidas, apesar de regras da MLS garantirem que todos os jogadores devem ter disponibilidade para falar à imprensa em períodos pré e pós jogos. Porém, em algumas entrevistas que realizou, afirmou que a adaptação a nova cidade estava sendo mais fácil do que pensou que seria.
Não à toa Messi tem sido “flagrado” em momentos rotineiros. No ano passado, pouco depois de chegar aos Estados Unidos, tirou fotos com fãs enquanto fazia compras em um supermercado. Ele estava junto da esposa e dos três filhos.
O jogador tem conseguido também aproveitar momentos de lazer. Recentemente, Messi acompanhou o jogo entre Miami Heat e Boston Celtics nos playoffs da NBA junto com a família e Luis Suárez, Jordi Alba e Sergio Busquets, antigos companheiros de Barcelona que o acompanham no Inter Miami — uma calmaria quase impensável em países que tem o futebol como principal esporte.
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