NFL: lesão de Aaron Rodgers reacende discussão sobre os gramados sintéticos no futebol americano

Associação de jogadores da liga diz que partidas em pisos sintéticos aumentam risco para os atletas; especialistas negam

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Foto do author Paulo Chacon
Atualização:

A lesão de Aaron Rodgers ainda no primeiro quarto da partida entre New York Jets e Buffalo Bills fez um dos maiores debates na NFL nos últimos anos ser retomado. A ruptura do tendão de Aquiles do quarterback provocou a Associação dos Jogadores da Liga (NFLPA) divulgar uma nota reiterando o desejo de que as partidas deixem de acontecer em campos de grama sintética, como é o palco em que Rodgers teve sua lesão. Para a organização de atletas, a grama artificial é um dos fatores que fazem aumentar o número de problemas físicos no futebol americano.

Em comunicado assinado pelo diretor executivo da Associação de Jogadores da Liga, Lloyd Howell, a entidade diz que é necessário a troca dos gramados naturais em toda a liga. Mesmo entendendo que o movimento pode gerar um custo alto para a NFL e para os times, Howell entende que o valor seria mais baixo do que a recuperação de todos os jogadores lesionados nos campos sintéticos. Em pesquisa entre os atletas que atuavam na liga em 2020, 91% disseram que a grama artificial fazia com que eles se sentissem mais cansados e mais doloridos após os jogos.

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A NFL conta com 30 estádios para as 32 franquias participantes. As duas equipes de Los Angeles, os Chargers e os Rams, e os dois times de Nova York, os Jets e os Giants, dividem seus estádios. Das 30 arenas, duas delas possuem gramados híbridos, composto com parte de grama natural e parte em grama sintética.

Dos 28 restantes, a liga está completamente dividida na metade: 14 estádios têm seu campo com grama natural e 14 já usam apenas o sintético. Durante a construção do estádio de Nova York, onde Aaron Rodgers se machucou, a justificativa para o uso de grama artificial foi as baixas temperaturas que o gramado enfrentaria durante o inverno americano. Contudo, estádios como o do Kansas City Chiefs, do Pittsburgh Steelers e do Chicago Bears, que também são abertos e em regiões frias dos Estados Unidos, usam grama natural.

Aaron Rodgers se lesionou nos primeiros minutos de sua primeira partida com o New York Jets  Foto: AP Photo/Seth Wenig

Especialistas discordam da postura da NFLPA

Apesar da posição dos atletas e da NFLPA, a medicina esportiva não vê base para este tipo de posicionamento. De acordo com especialistas ouvidos pela reportagem do Estadão, apesar da reclamação e pedido para a troca, a realidade é que faltam informações e os diagnósticos podem ser considerados inconclusivos quando comparados às lesões de atletas em gramado sintético e gramado natural.

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“Hoje não há estudos conclusivos sobre o aumento de lesões em grama sintética e natural. Um dos poucos estudos específicos que avaliam a diferença entre grama sintética e natural em casos de ruptura de tendão de Aquiles não traz diferenças significativas. Outros estudos trazem aumento de lesões de tornozelo em grama sintética, ou seja, muito inconclusivos. Eu mesma fiz um levantamento de lesões de ligamento cruzado anterior na NFL entre os anos de 2015 e 2019 e também não houve diferença estatística em relação ao tipo de superfície”, explica Nágela Freitas, fisioterapeuta especialista em ortopedia e traumatologia pela UNIFESP.

Ela continua. “A especificidade do piso em que você vai competir exige uma adaptação, treinamento, até para você ter um desempenho técnico melhor. Então, o ideal, de verdade, seria uma ambientação em ambos os tipos. E, obviamente, uma manutenção adequada do gramado. Com os resultados atuais seria errôneo afirmar algo efetivamente.”

As empresas ligadas ao assunto acompanham a discussão com atenção, mas também para elas apontar o uso da grama artificial como responsável pelas contusões na NFL é inconclusivo. “Um estudo realizado pela Premier League em 2016 mostrou que a diferença no índice de lesões entre gramados sintéticos e natural é quase inexistente. Comparando lesões em jogos do Campeonato Inglês (de futebol) entre os anos de 2013 e 2016, o trabalho mostra um índice de contusões de 1,54 por jogo no gramado sintético e 1,49 no campo natural”, diz Sérgio Schildt, presidente da RECOMA, empresa especializada em pisos e construções esportivas.

Debate para além da NFL

Apesar de não existirem dados médicos que comprovem a reclamação dos jogadores da NFL, o futebol também convive com problemas de lesões em gramados sintéticos. Apenas em 2023, Ferraresi e Galoppo, do São Paulo, Dudu, do Palmeiras, e Joílson, zagueiro do Água Santa, sofreram ruptura de ligamento do joelho em partidas disputadas no Allianz Parque, estádio que tem gramado sintético. Além disso, Messi, astro argentino que atua no Inter Miami, teria colocado em seu contrato com a equipe que não aceitaria jogar em nenhum gramado sintético durante sua estadia nos EUA.

“A grama natural proporciona uma condição melhor de jogo porque ela rompe quando há algum atrito ou alguma desaceleração. Isso ajuda bastante a minimizar o risco de lesões. Esse gramado também não cria tanto impacto porque tem um solo mais fofo e consegue dar mais aderência aos saltos e aos movimentos. Porém, se for muito irregular, é melhor que seja sintético, uma vez que dará a estabilidade para o jogo em todas as regiões. Porque um gramado irregular também provoca lesões”, afirma Sandro Orlandelli, Membro da Uefa Academy.

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