O começo do mito Brasil

Sem Pelé, Garrincha e Vavá, seleção segura pressão da Áustria, ganha na estréia por 3 a 0 e arranca para o título

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Quatro minutos do segundo tempo. Nilton Santos avançou pela esquerda e ultrapassou Zagallo, que gritou: "Vai, que eu fico." O lateral invadiu a área, anotou o segundo gol do Brasil e esfriou a reação dos austríacos, que sufocavam a seleção. Com outros dois gols de Mazzola, o Brasil estreou na Copa do Mundo de 1958 com vitória por 3 a 0 sobre a Áustria, "uma das mais fortes e homogêneas equipes européias", como apontava O Estado de S. Paulo de 8 de junho de 1958. Num jogo difícil, em que mais foi atacado do que atacou, o Brasil começou a forjar o mito que dura até hoje. "Gilmar praticou magníficas intervenções", destacou o Estado. O goleiro aparece mais do que qualquer outro jogador nas fotos da época. Sem Pelé e sem Garrincha, que só virariam titulares ao longo da competição, a seleção arrancava, há exatos 50 anos, para conquistar o primeiro de cinco títulos mundiais. Como acontece até hoje, o triunfo não calou os críticos. "Apesar de obter a valiosa vitória, o quadro brasileiro jogou mal", estampou o Estado do dia seguinte à vitória. "E não jogamos bem mesmo", reconhece Zagallo, 50 anos depois, por telefone do Rio. "Eles vieram para cima e nós jogamos no contra-ataque", conta. "Foi um jogo tão duro que nem comemoramos. Depois do jogo, voltamos para a concentração e no dia seguinte já começamos a treinar para a partida contra a Inglaterra." A vitória significou também uma resposta para quem desconfiava daquele time. "Saímos do Brasil sem esperança nenhuma", segue Zagallo. "Havíamos perdido em 1950 e em 1954, não ninguém acreditava na gente. E foi por isso que aquele jogo foi tão importante." Naquela tarde no Stade Rimervallen, em Uddevalla, Suécia, Zagallo cumpriu pela primeira vez, na seleção, a função de "falso-ponta", pedida pelo técnico Vicente Feola. Foi assim que surgiu o segundo gol do Brasil, quando ele ficou para cobrir o avanço de Nilton Santos. Naquele jogo, a linha de frente foi formada por Mazzola, Joel e Dida. "Depois daquele jogo a Europa passou a nos conhecer", repete Zagallo. De fato. Após a partida o técnico da União Soviética, Gavril Kachalin, já apontava o Brasil como favorito. E olha que Vavá, Garrincha e Pelé ainda nem haviam entrado...

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