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O destino cobra

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A temporada de 2012 mal largou, e eis que Adriano já chama a atenção. Primeiro pelo corpanzil e pela lentidão que exibiu em Londrina na etapa final do amistoso de domingo à tarde com o Flamengo. Depois, ao faltar ao treino de ontem do Corinthians, pois arrumou brecha na agenda para participar da festa de aniversário da mãe, na segunda-feira, no Rio. Sabe como é, a saudade de casa e o feijãozinho com arroz da mamãe falaram mais alto do que essa chatice de treinos físicos, esteira, controle médico de começo de ano... Por que, então, não ficar mais algumas horas no ócio? Que diferença faria um treininho na terça?Eu não seria precipitado, nem fariseu, de malhar Adriano ou qualquer outro jogador por deslizes nas exibições iniciais. As derrapadas são previsíveis, porque o corpo dá uma emperrada no período de férias. Os times usam a pré-temporada para fazer ajustes, para avaliação. Arruma-se um joguinho aqui, outro ali, e mais atividades para movimentar a rapaziada, alegrar patrocinadores e preencher programação de emissoras de tevê. Estes dias servem para apontar tendências de cada elenco, e é fundamental dar-lhes tempinho para consolidação. Por isso, eu pretendia esperar mais um pouco antes de falar de Adriano, mesmo que o volumoso perfil de domingo tivesse feito brotar nova onda de dúvidas a respeito de sua condição atlética. O moço justificou a movimentação modorrenta, em apenas 45 minutos em que andou em campo, com o argumento de que sentira o desgaste dos treinos mais puxados dos dias anteriores. Citou também desentrosamento do time reserva. Ok, não são alegações infundadas. Como disse antes, travar é corriqueiro na abertura dos trabalhos, sobretudo para jogadores que tendem a ganhar peso com facilidade. No entanto, eis que a turma da preparação física e médicos do Corinthians se viram obrigados, logo de cara, a vir a público explicar a situação de Adriano. Ninguém escondeu o óbvio - o peso bem acima do ideal. Porém, houve esforço para provar que tudo seguia planejamento estabelecido. O doutor Joaquim Grava, por exemplo, calcula que o atacante deva perder cinco, seis quilos, nada além disso. Coisica à toa, que nada como três semanas de controle, suor e boca fechada não deem conta. Que não se alarmasse a torcida, pois o Imperador deveria reaparecer em forma num piscar de olhos. Ficaria fininho como os demais companheiros de elenco, pronto para atormentar defesas adversárias com sua potência. Essa conversa seria digerível, se não houvesse histórico a pesar contra Adriano. Ele perdeu 2011 por causa de contusão e operação. Até aí, nenhum reparo, já que se tratou de um desses azares a que todos estamos sujeitos. Houve paciência e boa vontade. Tanto que demorou além do previsto para voltar - e, ainda assim, ao ser liberado totalmente, teve aparições esporádicas e aquém do desejado. Mas era fim de ano, teve o gol contra o Atlético-MG, veio o título nacional e se deixou para 2012 o retorno triunfal.Logo em seguida, saiu de férias e, em 30 dias, perdeu a condição que levou meses para surtir efeito... Sei que, como todo trabalhador, tinha direito à pausa. É de lei, e ainda bem que ela existe. Mas alguém que passou um ano em branco não poderia ter sido um pouco mais maneiro e voltar menos fora de forma? Seria uma demonstração de carinho para si próprio e para os profissionais do clube que o assistiram com perseverança. Muito menos deveria dar cano em treino. O destino é generoso com alguns, mas costuma cobrar adiante.

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