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Olimpíadas 2024: Boxeadora argelina alvo de massacre nas redes sociais vence e lutará pelo ouro

Imane Khelif responde a ataques difamatórios no ringue e derrota tailandesa Janjaem Suwannapheng em Roland Garros

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Foto do author Ricardo Magatti
Atualização:

PARIS - Alvo de campanha de ódio e de desinformação nas redes sociais sobre o seu gênero, a boxeadora Imane Khelif respondeu no ringue ao massacre difamatório. A argelina derrotou a tailandesa Janjaem Suwannapheng nesta terça-feira, dia 6, e lutará a sua primeira final olímpica na carreira. A vitória nas semifinais do peso meio-médio (até 66kg) do boxe feminino nas Olimpíadas de Paris foi conquistada por decisão unânime dos juízes.

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Se foi atacada virtualmente, Imane recebeu apoio maciço das arquibancadas. Eram milhares de argelinos presentes na famosa Philippe Chatrier, quadra principal de Roland Garros e que virou o palco do boxe após o fim do torneio de tênis nos Jogos de Paris. Eles gritaram o nome da atleta de 25 anos assim que seu nome foi anunciado, mantiveram o apoio nos três rounds e balançaram efusivamente a bandeira da Argélia quando Imane foi declarada vencedora.

Em sua segunda Olimpíada, Khelif subirá no ringue na próxima quinta-feira em busca de seu primeiro ouro. Suwannapheng levou o bronze, já que todas as boxeadoras semifinalistas sobem no pódio.

Imane Khelif, boxeadora argelina alvo de massacre nas redes sociais, vence e lutará pelo ouro Foto: John Locher/AP

Dias antes das semifinais, em uma das poucas entrevistas que deu, a boxeadora argelina disse à Associated Press que os ataques que recebeu, principalmente nas redes sociais, têm “efeitos enormes” em sua vida. Não atrapalharam, porém, seu desempenho, uma vez que ela foi dominante no combate. A argelina foi superou à oponente nos três rounds. Em todos, ganhou por 10 a 9.

Khelif tem sido acusada de ser o que não é: uma mulher transgênero. As acusações e ataques começaram depois que a italiana Angela Carini desistiu de lutar com a argelina em menos de um minuto nas Olimpíadas sob a alegação de sentir dor intensa no nariz após sofrer dois golpes. Postagens virais nas redes sociais, então, passaram a alegar, sem provas, que a lutadora africana é um “homem biológico”.

As publicações desencadearam uma campanha de desinformação, além de uma onda de ataques preconceituosos à lutadora, com comentários até de líderes políticos como a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, e o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

“Envio uma mensagem a todas as pessoas do mundo para defenderem os princípios olímpicos e a Carta Olímpica, para se absterem de intimidar os atletas, porque isso tem efeitos”, afirmou Khelif.

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“Isso pode destruir pessoas, pode matar os pensamentos, o espírito e a mente das pessoas. Isso pode dividir as pessoas. E por causa disso, peço-lhes que evitem o bullying”.

Em 2023, a lutadora não passou em um teste de gênero – por ter níveis elevados de testosterona – para competir no Mundial da modalidade e foi desqualificada. O Comitê Olímpico Internacional (COI) saiu em defesa da atleta, assim como o Comitê Olímpico da Argélia.

“O teste de testosterona não é um teste perfeito. Muitas mulheres podem ter níveis de testosterona iguais ou semelhantes aos dos homens, embora ainda sejam mulheres”, afirmou Mark Adams, porta-voz do COI sobre o caso. “Ela nasceu mulher, foi registrada como mulher, viveu sua vida como mulher e lutou boxe como mulher”, completou Adams.

Além do Comitê, a família da argelina apoio a atleta. “Minha filha é uma menina. Nós a criamos como uma menina. É uma menina forte. Eu a eduquei para que trabalhasse e fosse corajosa”, afirmou Omar Khelif, pai da boxeadora, em entrevista à AFP.

“Sei que o COI foi justo comigo e estou feliz com esta solução, porque mostra a verdade”, disse. Ela chegou a ser questionada se havia sido submetida a outros exames além dos testes antidoping, mas se recusou a comentar. Segundo a Federação Internacional de Boxe (IBA, na sigla em inglês), os exames pelos quais Imane passou são “confidenciais”.

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