A seleção brasileira de ginástica artística alcançou, nesta terça-feira, a sua melhor campanha da história na disputa por equipes em uma edição de Jogos Olímpicos, da melhor forma possível. Rebeca Andrade, Flávia Saraiva, Jade Barbosa, Júlia Soares e Lorrane Oliveira conquistaram a medalha de bronze das Olimpíadas de Paris-2024, com pontuação total de 164.497, em disputa vencida pelos Estados Unidos de Simone Biles, principal rival de Rebeca nas finais individuais. As americanas ficaram com 171.296 contra 165.494 da Itália, medalhista de prata.
Nas outras duas vezes em que o País foi para final, em Pequim-2008 e Rio-2016, a posição do time foi o oitavo lugar. O pódio histórico desta terça veio graças a uma nota 15.100 atribuída a Rebeca na última apresentação da última rotação brasileira, o salto. Foi a segunda maior pontuação em um aparelho nesses Jogos.
A disputa começou pelas barras assimétricas, em revezamento com a China na primeira rotação. Lorrane Oliveira foi a primeira brasileira a se apresentar e recebeu nota 13.000 dos juízes. Então, veio a vez de Flavinha, que sofreu um corte no supercílio durante o aquecimento. Com um curativo no local, foi um pouco melhor que a compatriota e conseguiu 13.666.
Rebeca elevou a pontuação geral brasileira com um 14.533, deixando o Brasil em quarto lugar ao fim da primeira rotação. A nota da estrela brasileira no aparelho, no qual não se classificou à final individual, foi melhor que de Simone Biles, que foi para as barras na segunda rotação e tirou 14.400.
Flavinha foi mais firme e segura em uma apresentação bastante precisa até um desequilíbrio perto do final, até encaixar um mortal lateral perfeito antes de concluir com boa saída, em exibição avaliada com 13.433. Já Júlia Soares, que vai disputar a final individual da trave, caiu e ficou com 12.400.
Em sua vez, Rebeca se desequilibrou e teve desconto na apresentação, mas realizou uma ótima saída com duplo carpado e quase cravou para ter 14.133. Ao fim, o Brasil aparecia em sexto lugar da classificação geral. Estados Unidos em primeiro lugar, Itália em segundo e China em terceiro dominavam a disputa.
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A terceira rotação da equipe brasileiro foi no solo, com grande expectativa de melhorar a nota. A apresentação de Júlia ao som de Raça Negra e Edith Piaf correu bem e rendeu 13.233 pontos para o Brasil, antes de Flávia Saraiva levar o Can-Can para o ginásio e acrescentar mais 13.533 para a pontuação total.
A esperança era de elevar o número com uma nota acima 14 de Rebeca Andrade, a última a se apresentar. A guarulhense se desequilibrou na aterrissagem após os primeiros mortais, mas voltou ao prumo cravando o tsukahara e concluindo os mortais mais difíceis para encerrar o número, ao som de uma combinação de Anitta, Beyoncé e Baile de Favela, para receber 14.200, conforme a expectativa.
Coube a Jade Barbosa, Flávia a Rebeca a responsabilidade de competir na última rotação, com disputa no salto. Primeira a se apresentar, a experiente Jade se desequilibrou na chegada e pisou fora da marcação, mas conseguiu um razoável 13.366. Em seguida, Flavinha não foi perfeita na aterrisagem, após dupla pirueta, porém finalizou melhor que Jade, por isso ficou com 13.900. Depois deste salto, o Brasil subiu para primeiro lugar na classificação geral, mas Estados Unidos e Itália estavam na rotação do solo, que demora mais tempo.
Estava nas mãos de Rebeca a responsabilidade de conseguir o inédito pódio para o País. De um cheng bem executado, como de costume para a guarulhense, veio a incrível avaliação de 15.100 para dar ao Brasil sua primeira medalha da história.
Emoção após conquista
A vitória da equipe teve um significado especial para Jade Barbosa. Aos 33 anos, a ginasta mais experiente da equipe conquistou sua primeira medalha olímpica. Um dos nomes mais relevantes da ginástica brasileira há quase duas décadas, Jade classificou a conquista como fruto da dedicação de diversas gerações da modalidade no País.
“É até difícil falar nesse momento. A gente trabalhou muito duro, dia após dia. Poucas pessoas vão saber o quão duro foi, a maioria aqui dentro do time. Estamos felizes com o que conseguimos fazer hoje. A gente treinou para cada situação dessa, cada passo fez diferença. Mas é isso que faz uma equipe, é isso que faz uma família. Tenho orgulho do que construímos nesse período todo e hoje a gente colhe o fruto de muitas gerações, é até difícil acreditar que está rolando isso”, afirma.
Já Rebeca Andrade encara o título por equipes com outro peso. O bronze em Paris é sua terceira medalha em Jogos Olímpicos, o que a coloca ainda mais perto de ser a atleta brasileira a ter o maior número de pódios em Olimpíadas na história. E foi o seu desempenho no salto que colocou o Brasil na terceira posição. Após a conquista, ela falou sobre o momento do resultado histórico no aparelho.
“Eu estava um pouco nervosa, estava cansada do solo. Mas é aquilo né, confiança no nosso trabalho não tem o que discutir. Eu fui lá e sabia o que tinha que fazer. Confiar na nossa equipe e nosso trabalho faz toda a diferença. Foi daí que saiu o 15.100″.
Recuperada da queda no aquecimento que abriu um corte no supercílio, Flávia Saraiva relembrou o momento do susto e disse que não percebeu que estava sangrando após bater o rosto. Foi o treinador Francisco Porath que viu o sangramento e auxiliou a atleta a levantar. “Depois daquilo ali eu já estava aquecida”, brincou a ginasta.
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