PARIS - O Comitê Olímpico do Brasil saiu de Tóquio, há três anos, festejando o recorde que os atletas brasileiros haviam conquistado, com 21 medalhas. Entusiasmados, os dirigentes elevaram o sarrafo e tinha em mente ser possível que o Time Brasil superasse em Paris o desempenho obtido na capital japonesa. Não deu. A delegação brasileira terminou sua participação nas Olimpíadas parisienses com 20 medalhas - 3 de ouro, sete de prata e 10 de bronze.
O COB viu crescer sua arrecadação e ampliou os investimentos no esporte olímpico. Era factível igualar ou superar os números de Tóquio, mas, com ouros, pratas e bronzes, não foi possível subir mais degraus no quadro de medalhas. O Time Brasil, 12º em Tóquio, espera fechar sua participação em Paris em 20º.
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O Time Brasil superou na França os resultados da Rio-2016, mas somente em número de medalhas. Na quantia de ouros, o desempenho piorou, já que, oito anos atrás, nas Olimpíadas em casa, a delegação brasileira subiu sete vezes ao degrau mais alto do pódio, feito repetido em 2021, em Tóquio.
O investimento no esporte olímpico aumentou do ciclo anterior para o atual, que termina com o fim das Olimpíadas de Paris e foi mais curto, de três anos, devido à pandemia, responsável por adiar os Jogos de Tóquio de 2020 para 2021.
O valor dos repasses financeiros do COB às confederações olímpicas por meio da Lei das Loterias cresceu. O comitê repassou R$ 160 milhões em 2022, R$ 250 milhões em 2023 e faz a projeção de que, até o fim deste ano, pagará R$ 225 milhões às federações. Além disso, gastou cerca de R$ 52 milhões na Missão Paris, o que contempla investimento na base do Time Brasil na capital francesa, e R$ 44 milhões na Missão pré-Paris - gastos relacionados a tudo que antecedeu os Jogos. No total, o COB investiu aproximadamente R$ 730 milhões neste ciclo olímpico.
Menos ouros e menos medalhas
Antes dos Jogos, a meta do COB era de que o Brasil terminasse no segundo escalão, entre o décimo e o vigésimo colocados, mas mais perto do top 10. A projeção não se concretizou. O País fechou as Olimpíadas de Paris em 20º, distante das potências e próximo das nações emergentes.
Mas por que não foi possível suplantar o desempenho de Tóquio? “Porque assim é o esporte, assim são os Jogos”, responde, de forma pragmática, Sebastian Pereira, gerente de alto rendimento do COB, em entrevista ao Estadão. Ele havia feito o cálculo de que eram de 80 a 90 as possibilidades de pódio para atletas brasileiros em Paris. “A gente teve vários quartos, quintos, sextos lugares”, pontua. No seu levantamento, cerca de 14 atletas “bateram na trave”. “Isso são Jogos Olímpicos”, resume.
“Pequenos detalhes fazem a diferença para o ouro, a prata e o bronze. Algumas coisas não estão no nosso controle.
Rogério Sampaio, diretor geral do COB e chefe da Missão Paris
Para cartolas do COB, natureza atrapalhou desempenho do Brasil
Em apresentação dos resultados a jornalistas na Casa Brasil, em Paris, os cartolas do COB alinharam o discurso e culparam fatores imponderáveis para o Time Brasil não repetir o desempenho de Tóquio ou superá-lo. “Se não tivessem acontecidos alguns contratempos, possivelmente teríamos quebrado recordes”, acredita Ney Wilson, diretor de esportes de alto rendimento. A gente entende que o resultado foi muito bom. Alcançamos os objetivos e temos uma nação muito orgulhosa”.
O presidente Paulo Wanderley argumentou que a natureza é um desses contratempos que atrapalhou a performance dos atletas, mencionando a falta de ondas para Gabriel Medina que tirou o brasileiro da final do surfe no Taiti - ele ganhou o bronze depois. “A gente não controla variáveis. Não consigo fazer com que a natureza faça onda ou ventos para a vela”. Ele usou um discurso na condicional para se justificar.
Foram 11 atletas que foram para a disputa de medalha. Se ganhassem, teríamos 31 medalhas.
Paulo Wanderley, presidente do COB
Entre os esportes que decepcionaram estão a vela e natação, que saíram da capital francesa sem uma medalha sequer. Esperava-se mais também do boxe. Entre os pugilistas, somente Bia Ferreira conseguiu medalha, uma de bronze. Entre os esportes coletivos, falhou novamente o vôlei masculino, que caiu nas quartas. O futebol masculino sequer se classificou para Paris-2024.
Lesões
Lesões de atletas importantes também pesaram e ajudam a explicar a incapacidade de o Brasil bater o recorde de Tóquio. O ciclo foi mais curto, de três anos, para todos os países. Acontece que alguns atletas brasileiros não descansaram. Esticaram a corda na preparação, atingiram resultados expressivos em Mundiais e no Pan-Americanos e não tiveram um respiro quando era necessário para chegar aos Jogos no auge de sua forma.
Daí a razão de muitos atletas terem se lesionado, casos, por exemplo, de Alison dos Santos, o Piu, o dos judocas Daniel Cargnin e Mayra Aguiar e do nadador Bruno Fratus, que desistiu de tentar a vaga para Paris justamente em razão das contusões. “Não consegui me preparar da maneira como gostaria, como deveria, foram períodos longos de recuperação, meses de dores, limitação de movimentos, e isso tudo impactou demais no planejamento”, havia dito Fratus, quando anunciou sua desistência da seletiva.
“Tivemos muitos problemas de lesão ao longo do processo, principalmente com atletas que eram favoritos”, constata Sebastian Pereira. “Juntamos os cacos e fomos contornado para tentar a Paris numa melhor condição. Alguns deram certo, outros bateram na trave”.
Foram 58 finalistas brasileiros em Paris. O COB destaca 11 provas em que atletas “bateram na trave”, isto é, ficaram muito perto de subir ao pódio, e faz menção a competidores como Ana Sátila, quarta colocada na canoagem slalom, e Pedro Barros, quarto no skate park. “Temos muito orgulho deles. É importante citá-los”, diz Mariana Mello, gerente de planejamento e desempenho esportivo do COB e subchefe da Missão Paris.
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