PARIS - O duelo entre Rebeca Andrade, 25 anos, e Simone Biles, 27, na ginástica artística é uma das principais histórias das Olimpíadas de Paris 2024. A rivalidade não teve origem na capital francesa, mas cresceu e encontra o seu ápice nos Jogos parisienses, uma vez que a ginasta dos Estados Unidos desistiu da maioria das provas de que participaria nos Jogos de Tóquio para cuidar de sua saúde mental.
Biles é considerada a melhor ginasta do mundo e uma das mais completas da história. Ela já alcançou o topo em Paris, com o ouro por equipes na última terça-feira. Ostenta oito medalhas olímpica - cinco delas de ouro - e quer mais. Mas no caminho da superestrela está Rebeca Andrade, a maior ameaça à americana, como ela mesmo afirmou. “Rebeca Andrade. Ela é a que mais me assusta”, assumiu a atleta em sua minissérie documental, chamada de O Retorno de Simone Biles.
“Eu acho que é eu assusto de uma forma muito positiva, porque a gente puxa muito uma outra”, respondeu a brasileira minutos depois de levar o bronze por equipes, na mesma prova em que Biles e as americanas conquistaram o ouro. “A mesma coisa com todas as outras ginastas que estão ali. A gente, além de querer sempre estar ali, melhor, a gente torce demais, sabe? A gente deseja que o outro também vá bem, isso é muito legal”.
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Ninguém duvida que Biles, 27, ainda é superior, quase que imbatível e estabeleceu um padrão de excelência no esporte. Nem mesmo a própria Rebeca contesta isso. “É uma honra poder competir junto com a Simone, ela é referência no mundo todo, inclusive pra mim. E ela é muito importante pro esporte.”, diz a brasileira.
Mas a paulista de Guarulhos está no páreo, sobretudo no salto, sua especialidade e prova em que levou o ouro em Tóquio. Foi justamente o seu salto mágico que catapultou o Brasil rumo ao pódio na última terça e que encantou Biles, como sua reação de admiração denunciou. “Ter a melhor do mundo achando sensacional o meu salto é incrível”, afirmou Rebeca.
A brasileira recebeu a maior nota de todas no salto: 15.100. Já o salto de Biles rendeu à ginasta dos Estados Unidos 14.900. Na disputa por equipes, Rebeca também levou vantagem nas barras assimétricas: 14.533 contra 14.400 da rival. Mas a ginasta do Brasil não disputará a final deste aparelho. Ela competirá nas finais do individual geral, salto, trave e solo.
A disputa entre as duas ginastas também foi manchete no jornal americano The Washington Post. “Biles erra pouco, mas a margem está reduzida. Se uma falha manchar o brilhantismo da americana, pode ser Rebeca quem colocará a medalha de ouro no final”, diz trecho da extensa e detalhada reportagem publicada no dia 29 de julho deste ano. “Adoro competir com a Rebeca. Ela me estimula”, falou Biles, segundo o Post, repetindo o pensamento da brasileira.
Respeito mútuo e reinado
Segundo a reportagem do Washington Post, “o relacionamento entre as duas, que têm idades e origens semelhantes, tem pouca - ou nenhuma - animosidade”. “Elas são próximas, trocam elogios e mostram respeito e admiração mútuos. Nas competições, torcem uma pelo outra. E em momentos cruciais na carreira de Rebeca, em que questionou deslancharia na ginástica, Biles encorajando a atleta brasileira a ser sua principal oponente”, diz trecho destacado também no perfil de Instagram do veículo americano.
No Mundial de 2023, depois de Biles conquistar o ouro e Rebeca a prata no solo, a americana fez um gesto simbólico, passando a “coroa” para a brasileira, reconhecendo seus resultados e a trajetória até alcançá-los. Depois da competição, as duas saíram para comemorar juntas em uma boate na Antuérpia, local do torneio.
“Foi um momento íntimo, a gente não sabia que estava gravando. Foi uma coisa espontânea e carinhosa da parte dela comigo e com a Flávia (Saraiva)”, contou Rebeca ao Estadão no ano passado. “Fiquei muito feliz porque senti que foi algo muito genuíno da parte dela, foi um gesto de carinho legal. A gente estava numa conversa bem tranquila, como sempre foi. A gente está sempre torcendo uma pela outra”.
Aquela cena tem um significado. Biles perguntou a Rebeca se ela continuaria a competir depois dos Jogos de Paris. A brasileira respondeu que ainda não havia decidido e devolveu a pergunta. “Ela falou que não, que ela vai encerrar a carreira”, confidenciou a brasileira sobre a amiga e rival. Então, aquele gesto indica que Biles vai se aposentar e Rebeca, caso continue, sentará no trono da ginástica.
“Eu falei que o esporte precisa dela. Foi depois disso que ela fez aquele gesto de tirar a coroa e passar pra mim”, explicou.
Correções
A primeira versão deste texto tinha informações extraídas de extensa reportagem do Washington Post sem a devida citação da fonte. O Estadão e seus profissionais envolvidos com este conteúdo pedem desculpas pelo ocorrido.
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