PARIS - Primeira surfista brasileira a conseguir uma medalha em Jogos Olímpicos, Tatiana Weston-Webb não para de sorrir. O que a atleta filha de mãe brasileira e pai inglês mais fez nos últimos dias foi exibir, orgulhosa, a prata que conquistou na praia de Teahupo’o, no Taiti, a 15 mil km de Paris. Mas a medalha poderia ter sido dourada. De forma sutil, a brasileira-havaiana questionou a avaliação dos juízes na final, disputada na última segunda-feira, 5.
Ela acredita que sua última onda foi suficiente para desbancar a americana Caroline Marks na decisão. “Vou te falar que no momento eu achei que eles (juízes) poderiam dar ou não dar (a nota que valeria o ouro). Realmente não sabia. Mas consegui ver um pouco da bateria depois e eu gostei muito da minha última onda. Achei que valia a nota”, crê a surfista, em entrevista exclusiva ao Estadão.
Tati se refere aos 4,50 que os juízes lhe deram na bateria final, na qual a brasileira conseguiu boa manobra faltando pouco mais de um minuto. A nota foi insuficiente porque a surfista precisava de 4.68. Ou seja, ficou a 0,18 de ser campeã olímpica.
“Mas o que eu posso fazer agora? Vou ficar triste? Não. Vou ficar feliz porque consegui alcançar um sonho gigante meu. Não vou ficar nessa parte negativa, prefiro ficar na parte positiva”, diz.
O que representa essa medalha de prata pra você e para o surfe brasileiro?
Foi um sentimento maravilhoso, foi incrível. Acho que realmente o surfe no Brasil está crescendo a cada dia. Espero que essa medalha represente para o surfe no Brasil.
Fizeram muita diferença a experiência de ter já ter disputado uma Olimpíada em Tóquio e o ciclo mais calmo, sem pandemia?
Sim. Eu usei a experiência em Tóquio para me motivar ainda mais. Quando me classifiquei, eu falei pra mim mesma: ‘esses Jogos vão ser diferentes’. Sabia que precisava dar 110% e fazer meu máximo pra conseguir essa medalha. E eu fiz uma preparação diferente nesse ciclo. Mudei minha dieta, fiquei mais magra e ganhei músculo. Consegui chegar esse ano no auge da minha forma.
Além a alimentação, você mudou algo mais em sua rotina?
Perdi gordura, fiquei ‘fininha’, bem preparada. Além de musculação, fiz muito cardio para aguentar muitas baterias durante o dia e estar 110%. E teve a preparação mental também. A psicóloga, a Aline (Wolff, do COB), me ajudou muito.
Uma medalha olímpica muda muito a vida de um atleta?
Eu, pessoalmente, acho a Olimpíada o evento mais importante de todos. Sempre tive esse pensamento desde criança. Sempre quis competir numa Olimpíada e ganhar uma medalha olímpica muito mais do que um título mundial. Se me perguntar por que não sei dizer, mas sempre tive isso no meu coração. E ganhar essa medalha foi tudo. Foi duro, mas ela veio. É um sentimento incrível conseguir alcançar um sonho de criança.
Sua prata foi muito festejada aqui em Paris e no Brasil. Imaginou que receberia tanto carinho?
Antes e durante a competição, você não pensa na repercussão, não pensa como vai ser depois, só pensa no que poderia controlar no momento. Eu estou vivendo o momento, é assim que faço e não pense que teria tanta repercussão (a medalha), mas está tendo. Todo mundo do Brasil está me abraçando de uma forma incrível.
Você ficou a 0,18 do ouro. A última bateria foi muito acirrada. Concordou com a nota dos juízes?
Vou te falar que no momento eu achei que eles (juízes) poderiam dar ou não dar (a nota que valeria o ouro). Realmente não sabia. Mas, consegui ver um pouco da bateria depois e eu gostei muito da minha última onda. Achei que valia a nota. Mas o que eu posso fazer agora? Vou ficar triste? Não. Vou ficar feliz porque consegui alcançar um sonho gigante meu. Não vou ficar nessa parte negativa, prefiro me ater à parte positiva.
Das 14 medalhas conquistadas pelo Brasil até aqui, 9, incluindo a sua de prata, foram conquistadas por mulheres. É, mesmo, a Olimpíada das mulheres?
As mulheres brasileiras estão arrasando em Paris. Estou muito orgulhosa da gente e ainda mais orgulhosa de fazer parte disso. Acho que isso é resultado de dedicação das mulheres, especialmente das brasileiras. Estou realmente muito feliz.
Qual recado você daria para uma garota que hoje está começando a surfar e tem você como referência?
Se eu pudesse falar algo para quem está começando a surfar falaria para acreditar nos seus sonhos. Com bastante trabalho, você consegue. O sonho pode ser gigante, mas tudo é possível no esporte para pessoas que se dedicam.
Você é brasileira, nasceu no Brasil, mas viveu a maior parte dos seus 28 anos no Havaí. O que você mais incorporou do Brasil?
Boa pergunta. Acho que tudo. Comida, casa, marido (risos).
Anos atrás, você disse que pretendia reduzir o ritmo depois dos 30 anos e ser mãe. Os planos estão mantidos?
Tenho esse desejo sim. Mas vou pensar. Ainda não sei pra quando. Só Deus sabe.
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