Campeão olímpico em Tóquio, Italo Ferreira nunca deixou de lado a prancha de isopor de Baía Formosa

Sem esquecer suas origens, surfista potiguar escreve nome na história do esporte olímpico com ouro nos Jogos Olímpicos

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Por Paulo Favero e enviado especial/Tóquio

Italo Ferreira tinha acabado de sair do mar como o primeiro campeão olímpico de surfe. As expectativas eram altas em relação a ele e a Gabriel Medina, dois dos melhores atletas da atualidade no esporte. Então, o surfista passou diante dos jornalistas aqui na praia de Tsurigasaki, respondeu duas perguntas e foi apressado à cerimônia de pódio. "Eu volto", disse. E depois voltou mesmo, com a medalha no peito, e brincou com os repórteres que já o acompanham há algum tempo. "Não falei que viria aqui novamente?"

Carismático, ele trata todos da mesma forma. Isso ele aprendeu no berço, lá em Baía Formosa, uma praia de ondas divertidas que apareceu no mapa por causa do talento desse menino. Ele sempre frisa que não "esquece suas origens" e faz questão de ter seus amigos de infância em volta. Até ampliou sua casa no Rio Grande do Norte para caber todo mundo que o visita.

De Baía Formosa para o mundo: Italo Ferreira se tornou o primeiro campeão olímpico de surfe Foto: Jonne Rorirz/COB

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Aliás, esse foi o segredo do surfista na preparação para os Jogos de Tóquio. Depois de uma sequência de etapas do Circuito Mundial na Austrália, Italo emendou uma disputa na Califórnia, no Surf Ranch, mas então fez questão de voltar ao Nordeste brasileiro. Lá, junto aos seus, treinou na academia que ele mesmo construiu e se preparou fisicamente, mas também emocionalmente para a Olimpíada. É em Baia Formosa que o agora campeão olímpico recarrega suas energias, renova sua fé e se enche de esperança para o que der e vier.

Italo tinha certeza de que a disputa na estreia do surfe no programa olímpico seria mental. E foi assim que ele foi superando um a um seus adversários. Se a perna esquerda doía por causa de uma lesão muscular, ele não deixava se abater e se esforçava mais. Se outro atleta do Time Brasil competia, ele torcia pela televisão. É um cara de grupo. Chegou a quase quebrar uma mesa quando a skatista Rayssa Leal errou uma manobra que poderia lhe dar a medalha de ouro no street.

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E foi com essa união mesmo à distância de sua delegação que ele foi se vestindo do espírito olímpico. Uma qualidade que Italo tem é sempre querer aprender mais. É assim no surfe, é assim na vida. O garoto que começou a surfar usando as tampas das caixas de isopor nas quais seus pais colocavam peixe para vender parece o mesmo de antes, mas apenas o material usado para deslizar nas ondas é outro.

Em Tóquio, o surfista entrou no seleto grupo de campeões olímpicos brasileiros, o primeiro do surfe. Aos 27 anos, ainda vai disputar o título mundial nesta temporada e pretende abrir um instituto na sua terra para ajudar crianças no desenvolvimento social, educacional e esporte. Apesar da fama, quer tentar levar uma geração de jovens junto com ele.

Pela medalha de ouro, vai receber a premiação do Comitê Olímpico do Brasil de R$ 250 mil. O dinheiro ajuda e ele sabe quanto vale cada real. Porque quando era garoto, seu pai e os familiares o ajudam financeiramente para que ele pudesse disputar os campeonatos, comprar as pranchas quando não havia patrocinador. 

No fundo, Italo ainda é aquele garoto que se divertia nas marolas com uma prancha improvisada, que muitas vezes levava bronca do seu pai porque estragava o objeto que servia ao sustento da família, a tampa do isopor. A única diferença é que agora ele tem uma medalha de ouro. "Sou muito agradecido a todas as pessoas que me ajudaram a chegar até aqui", diz.

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