Pedro Scooby não mede suas aventuras pela adrenalina que descarrega no corpo e sim pelo sorriso que desperta em seu rosto. Quanto maior a felicidade, mais esse surfista vai querer mergulhar de cabeça, seja em ondas gigantes ou conhecendo novos lugares ao redor do mundo.
Durante a pandemia de covid-19, ele precisou se reinventar. Ficou mais tempo com os filhos e ampliou essa família com agregados durante o período mais rígido de lockdown. Entre eles estava Leticia Bufoni, atleta do skate que vai representar o Brasil nos Jogos de Tóquio. "Ela é a melhor do mundo, tenho certeza de que ela vai ganhar uma medalha", aposta Scooby em entrevista ao Estadão.
Seus palpites vão além da amiga, com quem conviveu durante a quarentena e viajou de motor home pela Europa. Ele vê Rayssa Leal e Pâmela Rosa com chances, Felipe Gustavo e Kelvin Hoefler também, no street masculino, além de Pedro Barros, que considera o melhor do mundo no park. "Skate e surfe são medalhas garantidas. Para o Brasil, a entrada dessas modalidades no programa olímpico foi maravilhoso. Medina e Italo têm ótimas chances no surfe", comentou.
Ele acha que o surfe terá mais dificuldade de empolgar nos Jogos de Tóquio que a outra modalidade estreante. "O skate tenho certeza de que vai ser incrível, porque o formato para a Olimpíada é ótimo e vai atrair os jovens. Acho que o surfe vai precisar de adaptação porque depende da natureza e acredito que os organizadores vão ter dificuldade para fazer a competição perfeita. Achava que a piscina de onda seria o mais indicado. De qualquer forma, são esportes bem irreverentes."
Aos 32 anos, sua fama transcende as páginas esportivas dos jornais e é bem comum vê-lo em reportagens sobre celebridades. Mas ele gosta mesmo é do esporte, apesar de estar sempre ao lado de famosos. Até por isso, não se incomoda em ver que seu lado esportista fica às vezes em segundo plano no interesse dos fãs.
"Isso não me incomoda porque não dou valor a isso. Eu não ligo para o julgamento. Estou preocupado em acordar de manhã e ver o que vou fazer para ser feliz, para curtir minha vida e ter momentos bons. Gosto de trabalhar para fazer as coisas acontecerem. Acho que as pessoas pecam em sempre querer mais", diz.
Quando se faz uma busca do nome do atleta no Google sempre aparece sugestões como "fortuna", "quanto ganha" ou "o que faz da vida", além de relacionamentos que já teve, como com sua ex-mulher Luana Piovani, com quem teve os filhos Dom, Bem e Liz, Anitta ou sua atual mulher Cintia Dicker.
"Eu vivo um sonho. Tudo que é diversão, quando passa para trabalho, vira trabalho. Se entra um swell gigante em Nazaré, eu vou pra lá, mesmo que não esteja em um dia tão bom. Eu consigo juntar as coisas. Fui para a Indonésia recentemente e foi trabalho, caí e abri a cabeça, mas também foi demais", conta.
Poucos sabem, mas a rotina de um atleta de ondas grandes é bem pesada. "Acabei de sair de um preparo físico, faço curso de apneia, existem várias coisas. Às vezes preciso ir para o Brasil porque tenho ensaio fotográfico ou reunião. Mas acontece que investi em outras coisas. Um amigo viaja uma vez por ano, tem uma Ferrari e tem uma vida maravilhosa no Brasil. É questão de prioridade para cada um. Já torrei algumas Ferraris", diz, rindo.
Ele atualmente mora em Cascais, em Portugal, e todo tempo livre que tem se esforça para estar ao lado dos filhos. "Não quero ser mais rico, nem mais famoso. O que está acontecendo comigo está bom. Meu sonho é conseguir manter minha vida do jeito que está e fazer isso durar por muito tempo. Quero dar longevidade ao meu estilo de vida. Por isso tento equilibrar o lado pessoal com a carreira de atleta, e invisto em algumas marcas."
O sucesso na carreira não veio facilmente. Scooby cresceu em Curicica, no subúrbio do Rio. Onde morava, só ele pegava onda na época. "Eu passava com a prancha na frente do comércio e ouvia o pessoal falando "olha esse vagabundo, maconheiro". Eu ia de lotação para a praia, no mesmo horário que a galera saía para trabalhar. Tenho até uma tatuagem de Kombi por causa disso", revelou.
Só que o talento apareceu rápido e muito novo ele começou a treinar, surfar e ganhar campeonatos. Só que quando tinha 15 anos seu pai foi embora e ele precisou virar o homem da casa. Sua mãe teve depressão por muito tempo e ele viu no surfe uma maneira de trabalho para pagar as contas. "Eu tinha um salário muito baixo e teve até um momento que me perdi um pouco, mas logo depois retomei. Minha educação aprendi na rua e tive alguns pais, pois sempre busquei uma figura de alguém que me identificasse. Encontrei pessoas boas que me deram uma direção na vida", diz.
Hoje ele consegue dar uma vida boa para sua mãe, ajuda o irmão e sempre que pode faz ações beneficentes, como distribuir cestas básicas para pessoas necessitadas durante o período mais crítico da pandemia. E acaba tendo uma relação muito próxima com os filhos, sua maior conquista da carreira. "O maior presente é eles chegarem e falarem te amo. A prioridade é a felicidade da minha família", avisa.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.