Sucesso durante os Jogos Olímpicos, com público três vezes maior do que o esperado, o Boulevard Olímpico, junto à Praça Mauá, às margens da Baía de Guanabara, deve voltar aos dias de glória na Paralimpíada, de 7 a 18 de setembro. Nos 17 dias do evento, a faixa litorânea recebeu 4 milhões de pessoas, com pico de 1 milhão na partida do ouro no futebol masculino, quando o Brasil derrotou a Alemanha no Maracanã. Para os doze dias de Paralimpíada, com boa parte da estrutura ainda montada, a previsão é de 1,5 milhão.
Mesmo com apenas um feriado (7 de setembro, Dia da Independência), contra quatro da Olimpíada, Gaetano Lops, diretor da Gael, empresa que organizou o Boulevard, crê que a região será um point paralímpico. "Os próprios cariocas não conheciam essa região, ainda tinham a referência do lugar abandonado que era antes", disse. Serão mantidos o balão panorâmico da empresa Skol, que sobe a 150 metros do chão, 40 foodtrucks e um palco para shows diários e transmissões de competições, entre outras atrações.
A renovação da zona portuária começou em 2011. A intenção era dar nova cara a uma área histórica e degradada havia décadas. As cidades de Barcelona – que teve como legado da Olimpíada de 1992 a renovação de sua zona portuária – e de Buenos Aires – cujo Puerto Madero foi remodelado na mesma época – serviram de inspiração.
Agora, diante do fenômeno do Boulevard na Olimpíada, as secretarias municipais de Cultura e de Turismo estão debatendo com a Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto (Cdurp) que tipo de ocupação será feita na praça, reinaugurada há onze meses, e em seu entorno. Parte dos foodtrucks deve seguir por lá passada a Paralimpíada. A continuidade do balão – agora com cobrança – está sendo negociada.
Durante essa semana, em que a cidade experimentou uma ressaca pós-olímpica, o movimento na chamada Orla Conde, que se estende da Praça 15 até a Avenida Rodrigues Alves, onde ficam os armazéns do cais do porto, foi grande. Cariocas que estiveram no Boulevard durante os Jogos ou que viram o burburinho no noticiário foram passear por lá. Somaram-se a eles turistas que esticaram a estada na cidade.
"Eu só conhecia a velha praça, e fiquei sabendo da nova pela TV. Quis vir conferir. Espero que continue bonito assim, que não seja algo só para inglês ver. O lugar é maravilhoso", disse a autônoma Vanessa Martins, de 29 anos, que foi na terça-feira com o marido e o filho de dois anos. Moradora de Bangu, na zona oeste, distante 40 quilômetros do centro, a família também foi apresentada a outra novidade: o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), que passa por ali.
A dúvida de Vanessa é compartilhada pelo arquiteto e urbanista Luiz Fernando Janot, que representa o Rio no Conselho Federal de Arquitetura: como garantir a frequência de pessoas no Boulevard Olímpico? "O ponto já havia se consolidado como área de lazer antes da Olimpíada, mas para permanecer é preciso que haja segurança. O trecho que me preocupa é o que vai da Candelária até a Praça Mauá, porque lá não há tantos atrativos. Se te assaltam ali, não há para onde correr. Também gostaria que tivesse um cuidado paisagístico maior, um calçadão mais interessante", ponderou Janot.
Como outros colegas, ele foi crítico da derrubada do Elevado da Perimetral, iniciada em 2013, e que foi o pontapé inicial para a revitalização da área do porto. Reviu a posição com o resultado pronto.
Para quem apostou no êxito da revitalização, o momento também é de expectativa. Mauricio Lobo, proprietário do mais charmoso café da área portuária, o Grão Café, abriu as portas em fevereiro de olho na Olimpíada e agora espera que o movimento seja perene. "Foi incrível, tive dias de fila na porta. Depois que passar a Paralimpíada, acredito que a frequência vá se estabilizar num outro patamar."
A prefeitura acredita que o Museu do Amanhã e o Museu de Arte do Rio serão suficientes para manter o público por lá, além da faixa litorânea. "A Orla Conde já entrou na agenda do Rio. A Olimpíada só veio consolidar isso, e agora a tendência é se intensificar. Já recebíamos 30 mil pessoas por dia, sendo de 5 mil a 10 mil só nos museus. Esse número deve passar para 40 mil ou 50 mil", estima o presidente da Cdurp, Alberto Silva. Na Paralimpíada, a expectativa é de 100 mil por dia.
Até o fim do ano, a realização de dois eventos de grandes dimensões vão garantir o fluxo de visitantes na região: a ArtRio, feira de arte entre 28 de setembro e 2 de outubro, vai ser abrigada pelos armazéns 2, 3 e 4; entre 12 e 16 de outubro, os mesmos galpões serão tomados pelo festival internacional de cerveja Mondial de La Bière.
A prefeitura busca uma ocupação permanente, e não esporádica, da área. O uso residencial de edifícios seria um caminho para tal – mas a crise econômica no País freou projetos.
A inauguração do AquaRio, empreendimento privado construído na Rodrigues Alves para ser o maior aquário marinho da América do Sul, com oito mil animais de 350 espécies, é outra aposta para a consolidação do fluxo de visitantes. Atrasada quase um ano, a inauguração é prometida para o início de novembro, passada a fase de pesca e compra de peixes, povoamento dos tanques e estabelecimento do equilíbrio biológico dos ambientes.
"O AquaRio sozinho já seria um grande atrator de público. Nosso projeto antecede a revitalização, é de 2007. Nem nos meus mais lindos sonhos imaginei que a região ficaria assim", contou o biólogo Marcelo Szpilman, diretor-presidente do AquaRio. A estimativa inicial de público é de 1 milhão de pessoas por ano.
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