A polícia de Genebra abriu nesta segunda-feira o cofre alugado por Carlos Arthur Nuzman na cidade suíça e confirmou a existência de "vários quilos de ouro" escondidos pelo brasileiro, ex-presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), preso na semana passada sob suspeita de corrupção durante o processo de votação que elegeu o Rio sede da Olimpíada de 2016. As barras foram apreendidas pelas autoridades locais. Elas são avaliadas em R$ 2 milhões. A reportagem do Estado revelou na manhã desta segunda-feira que uma operação estava sendo realizada na Suíça pelos procuradores locais. Sem dar detalhes do que encontraram, as autoridades confirmam que policiais foram até o local designado, abriram o cofre e emitiram uma ordem para que nada que esteja dentro do cofre possa ser retirado dele.
O Estado havia revelado ainda na quinta-feira que o ouro estava no Port Francs de Genebra, um armazém usado para guardar obras de arte, peças raras e verdadeiras fortunas. Implicado em escândalos no passado, o local garantiu nesta segunda-feira que foram eles quem informaram às autoridades sobre a existência de um cofre em nome de Nuzman, assim que a referência ao brasileiro foi feita na imprensa. "No momento que descobrimos na sexta-feira que essa pessoa (Nuzman) alugava um cofre em nossa empresa, imediatamente informamos ao Ministério Público de Genebra", disse Alain Decrausaz, diretor-geral do armazém ao jornal Tribune de Genebre. A declaração se contradiz ao que a reportagem presenciou na quinta-feira passada. Sem saber que falavam com o repórter do Estado, os representantes da companhia deram uma outra versão. Funcionários de alto escalão alertaram por telefone que, enquanto a polícia não entrasse em contato, qualquer pessoa com uma procuração de Nuzman poderia retirar as barras de ouro. No Brasil, o MP indicou que as barras somariam um total de 16 quilos. Mas não excluem a possibilidade de que o cofre possa conter até mais recursos. Naquele mesmo dia, o Estado foi até o local. Sem saber uma vez mais que estavam falando no mesmo recinto onde estava a reportagem, funcionários mostravam nervosismo ao se referir ao fato de que tinham revelado informações sobre Nuzman ao jornalista brasileiro. "Não fizemos nosso trabalho", dizia um dos responsáveis aos seus funcionários. Além do desembarque da polícia ao armazém, o Ministério Público da Suíça indicou também que aceitou o pedido de cooperação para investigar e bloquear as contas de Nuzman. Todas as transações do brasileiro estão sendo coletadas e os extratos bancários serão repassados aos investigadores brasileiros. O objetivo é o de identificar todos os depósitos e transferências, na esperança de traçar a "rota do dinheiro". Se os dados seguirão ao Brasil, as barras de ouro e o dinheiro em suas contas apenas podem ser repatriados quando Nuzman for condenado em último grau. Em um breve comunicado, Berna indicou nesta segunda-feira que "pode confirmar que o pedido de cooperação do Brasil está sendo atualmente executado". O MP não da detalhes das ações ou operações realizadas. De acordo com pessoas envolvidas no caso, no Brasil, a ação envolveria o congelamento de todos os ativos do dirigente e um mapeamento de todas suas transações nos bancos locais. Pela cooperação com a Suíça, os bancos são obrigados a repassar todos os extratos bancários que, então, poderão alimentar a investigação no Brasil e França. A ação também exige o bloqueio dos bens do dirigente. No dia 28 de setembro, os procuradores brasileiros encaminharam um pedido aos suíços para que as contas fossem bloqueadas, assim como o ouro mantido por Nuzman em Genebra. No dia 5 de outubro, dia da prisão do dirigente, o Departamento de Justiça deu o primeiro sinal verde para a cooperação e encaminhou a documentação para a "execução" por parte do Ministério Público de Berna. Dentro do sistema de cooperação, a aprovação inicial é considerada como um passo decisivo. Agora, os procuradores suíços deram prosseguimento. ao caso.
ROTA O trabalho dos investigadores agora é o de traçar a "rota" da fortuna do brasileiro. Documentos e envelopes encontrados durante a operação policial na casa de Nuzman, em setembro, revelaram que o brasileiro não apenas mantinha dinheiro vivo em sua residência em diversas moedas, mas também guardava informação sobre contas na Suíça. No dia 27 de junho de 2014, Nuzman escreveria para Laetitia Theophage, funcionária da Federação Internacional de Atletismo, um e-mail no qual colocava seus dados de uma conta na Suíça. Tratava-se de um depósito que deveria ser realizado no banco Socoete General Private Banking, instituição financeira dedicava a administrar grandes fortunas. Laetitia era a assistente pessoal do então presidente da Associação das Federações Internacionais de Atletismo (Iaaf, na sigla em inglês), o próprio Lamine Diack, investigado por corrupção e hoje detido. Com a conta bancária número 1720399, ele indicava para onde a Iaaf deveria fazer um depósito. O local do banco também é revelador: Lausanne, cidade sede do COI e para onde Nuzman viajou com grande frequência entre 2009 e 2016, durante a preparação do Rio. Em seu pedido de habeas corpus, Nuzman indicou que a conta servia para receber pagamentos de trabalhos realizados para a Iaaf e suas despesas. O brasileiro chegou a ser membro do Conselho de Ética da entidade. Agora, um dos trabalhos dos investigadores será o de apurar se a conta em nome de Nuzman serviu para algum outro objetivo. Para isso, o Ministério Público Federal espera a cooperação da Suíça. O Estado apurou que um fluxo ainda importante de dinheiro passou pelos EUA e pelo Caribe, o que exigiu a cooperação da Justiça americana e da Grã-Bretanha.
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