Quando Rebeca Andrade deu início ao seu exercício de solo na classificatória da ginástica artística nos Jogos Olímpicos de Paris, a torcida brasileira parou para prestar atenção na atleta. Além da desenvoltura e a aplicação nos movimentos, a brasileira costuma incrementar seus “shows” com uma trilha sonora cativante. Misturando Beyoncé, Anitta e Baile de Favela, ela é cuidadosa na escolha das músicas, elemento particular das disputas femininas, mas não entre os homens.
A ginástica é competida pelos homens em Olimpíadas desde a primeira edição na era moderna, em 1896, em Atenas, na Grécia, quando a força era o principal atributo a ser julgado. Quando as mulheres passaram a competir, em 1928, em Amsterdã, a modalidade foi adaptada para se adequar aos papéis de gênero daquele momento, ressaltando a feminilidade das atletas.
O exercício de solo feminino foi introduzido pela primeira vez no Campeonato Mundial de 1950, com as atletas competindo sem música. Uma das maneiras de dar maior gracejo ao exercício foi introduzir uma trilha sonora de composições clássicas ao fundo. A Federação Internacional de Ginástica (FIG) chegou a discutir em um congresso uma proposta da Hungria para ginastas homens se apresentarem com música nas Olimpíadas de 1952, em Helsinque, na Finlândia, mas a ideia foi rejeitada.
Foi somente em 1958 que a música foi introduzida nas rotinas individuais de solo, com o exercício tendo como objetivo a exibição de habilidades acrobáticas combinadas à força para os homens, ou dança, para as mulheres. A prova dura 90 segundos no feminino, e 70 no masculino. Nos Jogos Olímpicos de 1972, em Munique, foi permitido às equipes escolherem a própria trilha sonora entre algumas opções oferecidas pela organização.
“A música deve ser impecável, sem cortes abruptos, e deve contribuir com um senso de unidade para a composição geral e desempenho do exercício. Deve fluir e deve ter um início e um fim claros. A música escolhida também deve ajudar a destacar as características e o estilo únicos da ginasta. O caráter da música deve fornecer a ideia/tema norteador da composição”, diz o código de pontuação da FIG.
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“Deve haver uma correlação direta entre os movimentos e a música. O acompanhamento deve ser personalizado para a ginasta e deve contribuir para a arte geral e a perfeição de sua performance”, completa o trecho.
Na década de 1960, era comum as equipes levarem o seu próprio músico para tocar o instrumento cedido pela organização. A partir das Olimpíadas de Los Angeles, em 1984, quando a fita cassete facilitou a reprodução em diferentes lugares, a trilha sonora ficou diversificada. As equipes receberam permissão para levar uma música de sua própria escolha à organização, que faria uma cópia para a tocar durante o evento. Não era permitido o uso de discos de vinil justamente pela fragilidade do equipamento e possibilidade e mau funcionamento no momento do exercício.
A tecnologia ajudou a pavimentar um caminho para o uso de canções populares no exercício de solo. Em Barcelona-1992, na Espanha, a tendência foi o flamenco. Quatro anos depois, em Atlanta, canções-temas de filmes caíram no gosto das atletas. Cabe ressaltar que uma das regras da FIG é que a música não deve apresentar nenhum tipo de letra. É por isso que Rebeca Andrade, por exemplo, sempre se apresenta com versões instrumentais do “Baile de Favela”, ou alguma outra canção de sua preferência.
As finais individuais da ginástica artística nas Olimpíadas de Paris começam na quinta-feira, 1º de agosto. Além do solo, rotina cuja nota na classificatória foi menor somente do que a de Simone Biles, Rebeca Andrade disputa medalhas no individual geral, salto e trave, além da disputa por equipes.
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