O Comitê Olímpico do Brasil (COB) terá um novo presidente a partir de 15 de janeiro. Marco Antônio La Porta, de 57 anos, foi eleito nesta quinta-feira na Assembleia Geral da entidade. O dirigente esportivo tem história no triatlo, fez boa parte de sua trajetória no Exército e acumula experiência como gestor, tendo sido vice do próprio Paulo Wanderley, seu adversário neste pleito, na eleição de 220.
La Porta e sua vice, Yane Marques, vão comandar o COB no ciclo olímpico dos Jogos de Los Angeles-2028. Yane foi medalhista de bronze no pentatlo moderno na Olimpíada de Londres-2012. No último ciclo olímpico, foi a presidente do Comitê de Atletas do COB, a CACOB. Ambos se desvincularam da atual gestão no início do ano para poderem se candidatar, no mês passado.
A trajetória esportiva de La Porta tem ligação direta com sua história de três décadas no Exército Brasileiro. Ele se formou em Ciências Militares na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) na década de 80. Alcançou a patente de coronel e atualmente está na reserva. Ao mesmo tempo, buscou uma formação esportiva, com bacharelado em Educação Física na própria escola do Exército.
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Nos anos 2000, fez pós-graduação e mestrado nas áreas de Ciências do Esporte e Motricidade Humana. Na prática esportiva, se envolveu mais diretamente no triatlo, modalidade que reúne natação, corrida e ciclismo. Especializado, se tornou treinador e acabou se enveredando pelo caminho da gestão esportiva ao receber convite para se candidatar à presidência da Confederação Brasileira de Triathlon.
No cargo máxima da entidade, foi chefe de missão da modalidade nas Olimpíadas de Londres-2012 e do Rio-2016. Bem articulado, La Porta entrou no COB em março de 2018, quando foi eleito vice-presidente com 44 de 48 votos possíveis. Na ocasião, ele substituiu justamente Paulo Wanderley, que era o vice eleito em 2016, mas precisou assumir a presidência diante da renúncia de Carlos Arthur Nuzman.
Em 2020, La Porta foi reeleito vice, na chapa com Paulo Wanderley. Na entidade, foi chefe de missão em Jogos Pan-Americanos e na Olimpíada de Tóquio, em 2021, cargo do qual mais se orgulha em sua carreira esportiva.
O então vice, no entanto, passou a discordar do presidente em diferentes pontos. E a divergência culminou na demissão de Jorge Bichara, então diretor de alto rendimento do COB. Era considerado o principal responsável pela campanha histórica do Brasil na Olimpíada de Tóquio.
“Em nenhum momento eu fui consultado (sobre a demissão). Eu tinha sido chefe de missão nos Jogos anteriores. Acho que tenho conhecimento técnico suficiente para opinar nestas questões, com toda a carreira que construí no triatlo. E não fui ouvido nem consultado. Achei uma decisão errada. E que mal ou bem acabou se refletindo no resultado em Paris”, disse La Porta, em entrevista ao Estadão há duas semanas.
O dirigente tinha a expectativa de ser o sucessor natural de Paulo Wanderley que, de acordo com a legislação esportiva brasileira, não poderia se candidatar novamente à presidência. La Porta, contudo, foi surpreendido ao saber que o atual presidente tentaria novo mandato. “No dia em que me afastei, em 22 de março, para poder me candidatar, eu tive uma conversa muito sincera com ele. Falei que estava me afastando por uma questão pessoal, por uma ascensão profissional e também porque eu não tinha certeza de que ele iria sair candidato. Ele não sendo candidato, eu gostaria de ser o candidato”, conta La Porta.
Paulo Wanderley acabou saindo como candidato, apesar da reação e contrariedade dos atletas, que acabaram votando em bloco em La Porta. Havia o temor de que, se o atual presidente fosse reeleito, a eleição desta quinta poderia ser resolvida na Justiça em razão do eventual terceiro mandato. O Ministério do Esporte poderia vetar o envio dos recursos das loterias federais, que são a grande fonte de dinheiro do COB, se avaliasse que o COB estivesse descumprindo a Lei Geral do Esporte.
Em entrevista ao Estadão, La Porta e Yane Marques criticaram a gestão atual por ter supostamente se excedido na centralização na tomada de decisões dentro do COB, por ter investido pouco na base e também pelas dificuldades de relacionamento com os atletas.
Confira abaixo as principais propostas da chapa vencedora na eleição do COB
Agenda do COI 2020+5
“Precisamos aumentar a participação da mulher no esporte olímpico. Já houve avanço grande, mas precisa de mais ações concretas. E também precisamos abraçar a questão da sustentabilidade.”
Investimento mais assertivo
“Temos recursos suficientes, mas precisamos ser mais assertivos no emprego desse recurso. E planejamento a longo prazo: precisamos de um maior investimento na área de desenvolvimento (base). Precisamos de renovação. Vamos ampliar a participação dos atletas nos Jogos da Juventude, que é celeiro de talentos.”
Governança e Conselho de Administração
“O presidente do COB não será mais o presidente do Conselho de Administração. Isso é um erro, nas empresas isso não acontece. Na governança, vamos incentivar mais as decisões colegiadas. O Conselho faz aprovação de contratos, hoje é muito operacional, e pouco estratégico.”
Gestão
“Vamos trazer a Deloitte, que já é patrocinador do COB, para fazer uma auditoria na estrutura interna e estudar as políticas para tornar os processos mais rápidos e ter uma redistribuição de diretorias e gerências mais eficiente. E vamos para o mercado para buscar profissionais de qualidade que possam preencher essas possíveis novas vagas que vão aparecer.”
Recuperação das confederações
“Vamos ter um plano de recuperação das entidades que se encontram com problemas, caso claro do Handebol e dos esportes aquáticos. As confederações precisam ter uma chance para uma gestão boa. Precisamos ajudar.”
Recursos privados
“Precisamos fazer uma política clara de repasses de recursos privados. O COB anunciou o maior patrocínio da história, da Caixa Econômica Federal, mas não sabemos onde serão investidos esses recursos.”
Luta contra o racismo
“Vamos criar o prêmio Melânia luz para incentivar as instituições que fazem o combate ao racismo.”
Centros de Treinamento
“Precisamos pulverizar um modelo de centro de treinamento, de apoio ao atleta, para várias regiões do Brasil. Inicialmente queremos focar em três CTs, em Fortaleza, Rio de Janeiro e São Paulo. E, depois, pulverizar isso pelo Brasil inteiro. Precisamos ampliar a base da pirâmide para o topo crescer também.”
Abertura
“Vamos abrir mais o COB para os atletas, confederações, representantes de clubes, todos os atores envolvidos. Nossa chapa tem essa sensibilidade de escuta, de querer ajudar sempre, de forma responsável, sem tentar dar passo maior que a perna.”
Treinadores e medicina esportiva
“Precisamos ampliar os investimentos em treinadores e trazer a medicina esportiva mais para dentro do COB, um Núcleo de Medicina Esportiva, visando a prevenção de lesão.”
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