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Futebol, seus bastidores e outras histórias

Opinião|Caso Luan intensifica necessidade de frear o torcedor no futebol: ou muda ou vai dar morte

Clubes começam a pensar em soluções, polícia, entidades esportivas e líderes das torcidas organizadas precisam participar das discussões: ninguém ganha com essas confusões, ameaças e invasões a lugares privados

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Foto do author Robson Morelli
Atualização:

O caso Luan talvez tenha sido a gota d’água no relacionamento de clube e torcedor. Há um consenso de que as reclamações e impaciência das torcidas uniformizadas com seus respectivos times passaram do ponto das cobranças e dos entendimentos. Parece que virou moda bater e ameaçar jogadores de futebol. Isso preciso parar. Alguns atletas já deixaram o Brasil por causa desse problema, como o atacante Wiliam, do próprio Corinthians.

Há uma máxima no meio sobre isso em relação aos desfiles das escolas de samba. Dizem que o elenco dos times vai cobrar os passistas quando eles não ganharem o carnaval. É uma brincadeira, mas o futebol precisa dar um freio urgentemente nessas ameaças.

Cássio faz defesa em jogo contra o América pela Copa do Brasil Foto: Rodrigo Coca / Agência Corinthians

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Lutar e brigar contra os torcedores não resolve. Sou cada vez mais da opinião de que as torcidas poderiam participar das discussões do futebol, trazer os caras para dentro dos clubes e instituições, mas não esses caras do jeito que eles são, não esses caras que se propõem a mando do chefe de invadir um motel com bravatas de morte contra um jogador, armados ou não, mas sempre agressivos, com esses gritinhos de guerra do passado. Isso não existe.

Essa gente tem de desaparecer do cenário. Enquanto isso não mudar, a fervura só vai aumentar, como tem acontecido atualmente. Lá atrás, a maior agressão era invadir um treino e tumultuar o trabalho do treinador. Agora, é agredir jogador e ameaçar sua família. Como disse Cássio, vai chegar o dia em que um torcedor mais exaltado, ou um grupo, vai matar um atleta. E vamos achar que isso é normal. Vão discutir o episódio no tribunal esportivo e tratá-lo como mais um caso do futebol. Está tudo errado. Está mais do que na hora de as mazelas do esporte serem resolvidas. Tudo aqui parece brincadeira. Nada é levado a sério. Os discursos não passam de discursos. Nada anda.

Os clubes começam a se mobilizar para tentar proteger seus jogadores. Estão certos. Isso explica porque os atletas não querem mais nada com o torcedor, se fecham em seus mundinhos com fones nos ouvidos e estão se lixando para quem pega chuva e sol e paga o valor do ingresso para vê-los jogar. O torcedor não se dá ao respeito.

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As cobranças fazem parte do esporte. Mas não dessa forma, como aconteceu com Luan, que nem joga no Corinthians. Mesmo se jogasse, ninguém merece isso. Ele é um jogador sem carreira. As cobranças deveriam ser feitas em outros moldes e tons, aos dirigentes que contratam e demitem. Jogador que não vira em seis meses deveria ser repassado. Mas há muitos outros interesses e negociatas no meioo.

Os gestores têm de melhorar também e dar o exemplo. Falar com seu público, não fazer falsas promessas. Entender mais do riscado. Não ser paraquedistas atrás de holofotes nem ex-jogadores com meia dúzia de cursos sem ter outra função na vida. Os gestores do futebol estão tão em descrédito quanto os políticos de Brasília. A diferença é que no DF, eles não brincam com a paixão de 215 milhões de brasileiros. Brincam com o dinheiro, mas não com o amor do torcedor.

Mas como mudar isso no futebol?

É preciso encontrar caminhos. Um deles é deixar tudo mais transparente, mas de verdade e não só nas intenções. Todo começo de temporada, os presidentes deveriam apresentar suas intenções durante o ano. Se eles não conseguem enxergar a ‘empresa’ com doze meses pra frente, então nem deveriam estar no comando.

Outra coisa é escolher bem seus presidentes. No voto. Isso vale para todos os clubes do futebol brasileiro. Acabar com os reinos e jamais ter opção única de escolha. É preciso ter três no mínimo três opções nas urnas.

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As torcidas já são, em boa parte, ou já foram subsidiadas pelos clubes. Isso pode ser uma parceria com regras e objetivos, com compromissos, deveres e obrigações das partes. Estipular o direito de um e de outro. Buscar uma harmonia nas discussões. Isso é utopia? Pode ser. Mas essa violência não vai acabar se alguma coisa mais inteligente não for feita. Uma dobradinha dessa não impede vaias e cobranças. Mas pode impedir agressões, ameaças de morte e depredação.

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A outra saída, mas dura e de métodos tradicionais no País, é ter leis firmes, prender todo mundo e não soltar por um bom tempo. Mas aí seria como fazer um arrastão nas sedes das uniformizadas, ter um trabalho de inteligência, identificar os caras e buscá-los em suas casas. E segurá-los por anos atrás das grades. Resolve? Informações sobre o sistema presidiário do Brasil diz que não. Educar seria melhor caminho.

Tenho defendido ainda a necessidade de a CBF e federações punirem os próprios clubes. Não é justo, mas é um jeito de tentar frear essa coisa louca que alimenta os torcedores. Sem time, não há cobrança. Se um torcedor fizer com que seu time perca ponto, como ele poderá depois cobrar os resultados de campo se ele mesmo atrapalhou a temporada? Faz sentido? Talvez. Tudo precisa ser colocado na mesa para discussão, desde que as pessoal envolvidas queiram fazer alguma coisa. É preciso ter um gabinete na CBF só para isso. Caso contrário, vai ter morte.

Opinião por Robson Morelli

Editor geral de Esportes e comentarista da Rádio Eldorado

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