PUBLICIDADE

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Futebol, seus bastidores e outras histórias

Opinião|Caso Massa: Nelsinho Piquet poderia ter dito ‘não’ à armação da Renault na batida proposital na F-1

Filho do tricampeão mundial nunca foi punido por aquele toque que atrapalhou seu colega brasileiro da Ferrari na pontuação do título de 2008

PUBLICIDADE

Foto do author Robson Morelli
Atualização:

Os brasileiros ainda não se manifestaram nas redes sociais a favor do piloto brasileiro Felipe Massa em sua empreitada para corrigir um erro do passado na Fórmula 1 de que foi a maior vítima. O calor das redes, da mesma forma, poderia apontar o dedo para outro piloto brasileiro nesta história, tão protagonista quanto Massa, mas de forma negativa, mas isso também não aconteceu. Refiro-me a Nelsinho Piquet.

A história é passada a limpo 15 anos depois, em uma tentativa não somente de rever o que seria um título mundial para Massa, que ele não tem, mas também de evitar qualquer desconfiança de que a categoria continua vivendo dias de ‘arrumação’ nos bastidores e de resultados não condizentes com que os pilotos fazem dentro do seus carros e nas pistas.

Nelsinho Piquet, quando era piloto da Renault, na temporada de 2008 da Fórmula 1: carreira promissora Foto: Antonio Milena / AE

PUBLICIDADE

Felipe Massa está certo em remoer o passado com informações que tem somente agora, de que os organizadores da F-1 em 2008 sabiam de que Nelsinho Piquet e a Renault armaram um acidente para favorecer um dos pilotos da escuderia. Fizeram isso a mando do chefão Flavio Briatore. A batida proposital de Nelsinho parou a corrida, ninguém se machucou, mas Massa ficou para trás graças também a um erro da Ferrari no box. Ele perdeu pontos naquela prova que lhe faltaram lá na frente, quando Lewis Hamilton ficou com o título por apenas um ponto a mais do que Massa.

O piloto brasileiro se sente prejudicado no coração e na alma e resolveu ir até o fim na sua luta. Ele tem esse direito. E ninguém pode tirar isso dele. Massa poderia ter tido ganhos incalculáveis, financeiramente e de prestígio, caso tivesse sido campeão. Isso é inegável. O esporte já registrou muitos erros, como o gol de mão de Maradona na Copa do Mundo de 1986 contra a Inglaterra, mas o que Felipe Massa sofreu foi uma armação.

Ele não foi vítima de uma ‘malandragem’ de disputa, uma manobra arriscada e, por vezes, ilegal. Nada disso. Massa foi vítima de um plano mirabolante que foi construído por pessoas antidesportivas. Um plano que nasceu dias antes ou durante a movimentação dos pilotos naquela corrida. 

Publicidade

Então, mesmo depois de tantos anos, Massa tem, sim, o direito de mexer nesse vespeiro e exigir reparação. Nada dará a ele a emoção de ter vencido um campeonato na pista, como deveria ter acontecido em Interlagos em 2008. Nada. Mas há reparos a serem feitos pelos organizadores a Felipe Massa e também à F-1. A lisura das provas que tanto gostamos precisa ser respeitada, e quando não há isso, alguma coisa precisa ser feita. O mundo repara seu passado em todos os segmentos.

E Nelsinho Piquet?

Nelsinho Piquet não foi punido após o caso ir para investigação no ano seguinte, quando Nelson Piquet revelou a armação de que seu filho participou. Briatore foi banido e outro dirigente da Renault pegou cinco anos de gancho. Mas os pilotos da equipe nada sofreram a não ser na honra. Até hoje não se sabe se Alonso sabia dessa armação. O piloto ainda corre na categoria e não é questionado sobre o assunto. Pelo menos não até agora. Para ele é um assunto encerrado. Nas investigações da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), a conclusão que se teve foi que o espanhol não sabia de nada. 

Mas é Nelsinho Piquet? Ele bateu o carro no local e na volta combinados. Era um trecho que se sabia não deixaria a prova continuar e o safety car teria de assumir o controle da corrida. Nelsinho aceitou as ordens de Briatore e carrega isso desde então. A batida não foi aceita pelos pilotos da época, muito menos pelos brasileiros Massa e Rubinho. Nelsinho nunca foi punido porque a FIA também entendeu que ele apenas cumpriu ordens.

Mas ele poderia ter dito “não”. Poderia ter se recusado a bater seu carro propositadamente para prejudicar concorrentes e ajudar seu parceiro de escuderia Fernando Alonso. Poderia ter pensado quem ele era, sua história e a do seu pai, tricampeão mundial, e ter tomado outra decisão. Poderia ter recusado o papel de vilão. Mas isso não aconteceu.

Opinião por Robson Morelli

Editor geral de Esportes e comentarista da Rádio Eldorado

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.