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Opinião | CBF acena com a possibilidade de ouvir jogadores para escolher técnico da seleção: isso é um avanço

Mas entidade insiste em Carlo Ancelotti: alguns se ‘oferecem’, como Jorge Jesus, outros não querem, como Abel Ferreira, e nomes são relacionados nas redes por falta de opção, como Dorival Júnior e Fernando Diniz

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Foto do author Robson Morelli
Atualização:

É preciso saber quanto, de fato, a CBF está disposta a levar adiante sua disposição de ouvir jogadores para definir o nome de um novo treinador para a seleção brasileira, cujo cargo está com teias de aranha desde a saída de Tite no ano passado. Se isso acontecer, como disse o presidente Ednaldo Rodrigues, será um avanço no comando da entidade e da própria equipe nacional. Desde os primórdios, quem escolhe o treinador do Brasil é o presidente. A iniciativa lembra a Democracia Corintiana. A ideia agrada.

Ednaldo Rodrigues disse que vai ouvir seus pares e os próprios jogadores para a escolha. Esse comportamento justifica, em parte, sua paciência para esperar por Carlo Ancelotti. Se tiver o mínimo de chance para ter o treinador italiano do Real Madrid no comando da seleção, ele vai esperar. Os jogadores do Real Madrid são suspeitos para falar de Ancelotti. Ele é bem quisto no clube. Os outros o têm como um técnico vencedor e boa-praça, amigos de todos. Ele é daqueles que passam a mão na cabeça do atleta, de modo a ganhá-lo na conversa e no carinho e não no trato duro. Jogador gosta de técnico desse estilo, “amigão”. Mas quem não gosta de chefe assim?

Rodrygo é cumprimentado pelo técnico Carlo Ancelotti, do Real Madrid: treinador é a única aposta da CBF para a seleção Foto: Jose Breton / AP

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De qualquer modo, os jogadores da seleção podem apontar outros nomes. Jorge Jesus deixou boa impressão no comando do Flamengo lá atrás. Não é do estilo de aliviar para os jogadores, cobra mais, mas sabe o que faz, pelos menos mostrou isso quando esteve à frente do Flamengo.

Ele vive se ‘oferecendo’ para trabalhar no Brasil. Não teve a mesma competência em outros clubes. Disse nesta semana que não voltará para Portugal. Deixou a Turquia, é sondado para comandar a Arábia Saudita e tem seu nome impregnado em clubes do Brasil. O Fla já foi atrás dele em outras ocasiões. A CBF não fala dele, mas também não desmente interesse. A CBF comentou apenas sobre o nome de Ancelotti até agora.

Não tendo a menor chance de contratar o italiano, Ednaldo terá de partir para outra opção. E aí vai ser obrigado a reavaliar todos os nomes em sua mesa, se é que há algum. São nomes fracos, mas terá de escolher um. Abel Ferreira seria outro bom nome, mas não há brechas no Palmeiras para isso. Nem do próprio treinador português. Ele disse estar feliz no time paulista. A partir daí, tudo, na cabeça do presidente Ednaldo, teria o caráter de uma aposta. Dorival Júnior, Renato Gaúcho, Fernando Diniz...

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Os jogadores que atuam fora do Brasil nem teriam condições de avaliar a personalidade desses outros técnicos. Renato já foi ventilado quando ganhava tudo no Grêmio. Ele agora recupera terreno com o time do Rio Grande do Sul. Mas com menos força do que no passado. Diniz é uma grande aposta. Ousadia pura. Não sei se os atletas falariam bem dele. Dorival está em outra fase da carreira. Estava desempregado e agora tem uma boa chance no São Paulo. Mano Menezes não é mais cotado, mas por ora. Vive às turras no Inter.

Na Europa, não há nenhum outro treinador identificado com as coisas do futebol brasileiro, o que deixa a CBF literalmente na estaca zero. Os medalhões são caros e estão todos empregados, bem empregados, diga-se, como Pep Guardiola e José Mourinho. Gostam do Brasil, mas não largariam tudo pela seleção.

Apostar em um treinador novo, como fez a Argentina com Lionel Scaloni, estaria fora de cogitação. Há sim um problema, portanto, para a CBF neste momento. Como deixou passar muito tempo e não tem nada nas mãos, vai começar a ser cobrada por esse vazio no comando. Ramon faz a vez de interino com total desinteresse. Ele está focado no trabalho com as bases. Não é culpa dele.

Opinião por Robson Morelli

Editor geral de Esportes e comentarista da Rádio Eldorado

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