Corinthians e Santos não são reféns apenas de jogadores medianos. São também vítimas de gestões amadoras. É fácil apontar o dedo para esses atletas e culpá-los pelos resultados ruins. Os dois times perderam na rodada do fim de semana. Mas é preciso olhar com mais profundidade para enxergar administrações pífias e desprovidas de capacidade para ajeitar a casa. Financeiramente, a matemática deveria ser simples: gastar menos do que arrecada. Mas nem Corinthians nem Santos têm essa virtude em suas características.
Tanto um quanto outro se afundam em dívidas e falta de dinheiro para pagar as contas, não somente as do mês vigente, mas também as do passado.
O corintiano Duílio Monteiro Alves e o santista Andrés Rueda estarão em breve fora de suas funções e deixarão um rombo para seus sucessores. Quem é eleito, já entra devendo e pendurado. Os presidentes que deixam o cargo vão para casa tocar a vida como se tudo no clube estivesse bem.
Não são cobrados, não têm as contas vasculhadas, seus bens continuam sendo seus bens, enquanto que os times se enterram em valas que mais parecem túmulos. Esportivamente, os dirigentes, que poderiam ser chamados de cartolas pelo amadorismo, não sabem nada. Lideram gestões ocas.
Veja o caso do Corinthians. O clube tem dívida perto de R$ 1 bilhão. Tem um elenco envelhecido. Alguns jogadores que mamam na teta do dinheiro fácil e sem suor, como Luan. E espera agora conseguir bancar seu estádio, cuja dívida com a Caixa é de R$ 611 milhões. Duílio trocou de técnico quatro vezes na temporada e se deixou envolver pelo caso Cuca. Começou o ano com um treinador novato, Fernando Lázaro, e tem um veterano no cargo, Vanderlei Luxemburgo. Como confiar então num dirigente que muda da água para o vinho em quatro meses em relação ao perfil do seu técnico?
O Corinthians ainda virou um depósito de ex-jogadores em funções administrativas, uma comunidade alvinegra onde ninguém cobra ninguém. São amigos. Para funcionar, essa confraria deveria ser desfeita.
No caso do Santos, apesar do mesmo modus operandi, há um outro problema: arrecadação menor. A bilheteria da Vila Belmiro, por exemplo, tem o dinheiro de 12 mil torcedores. Quase nunca mais do que isso. E agora nem isso porque o estádio está com seus portões fechados por causa de rojões atirados no gramado em jogo contra o Corinthians no Campeonato Brasileiro.
O elenco se vale do talento de alguns poucos garotos e outros bem poucos veteranos. Demitiu Odair Hellmann e contratou Paulo Turra. Vai mudar? Não acredito. Tem dinheiro? Nenhum. Mas há um estádio sendo negociado com a WTorre. O Santos parou no tempo. Então, se esses protestos da torcida valessem para alguma coisa, eles deveriam mirar os presidentes e não atletas e técnicos, únicos que tentam tirar o futebol da escuridão.
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