O empate com gosto de vitória do Corinthians contra o Palmeiras no fim de semana reuniu num mesmo jogo, nos seus últimos minutos, todos os ingredientes do que é um dérbi e da história e tradição do time do Parque São Jorge. Foi lindo para o torcedor corintiano, uma vez que a derrota parecia iminente. Mas algumas verdades precisam ser ditas sobre o time de António Oliveira dias antes de ele estrear na Copa do Brasil, uma das principais competições da temporada.
Foi pífia a apresentação do Corinthians diante de seu maior rival. O empate, da forma como ele aconteceu, não pode esconder a fragilidade do Corinthians durante os dois tempos daquela partida. Tente pensar no que foi o Corinthians neste jogo. Os gols nos últimos minutos, de dois erros dos jogadores palmeirenses, um deles do goleiro Weverton, não podem abafar um Corinthians aberto na defesa, com um meio de campo inferior tecnicamente e com menos atletas no setor e um ataque que não funcionou em nenhum momento, com Romero pela direita, Yuri Alberto centralizado e Wesley aberto na esquerda. Foi jogo de um time só, mesmo a despeito do resultado final.
Nem Cássio permaneceu em campo, após falta em Rony ao perder o tempo da bola. Ele foi expulso. É inegável que foi um jogo de superação, de raça, de vontade, de sorte, de pegada, de rivalidade. Isso só aumenta e valoriza o empate. Mas no quesito futebol, técnica, controle da bola e do meio de campo, força na defesa e opções no ataque, o Corinthians não funcionou. Foi uma equipe frágil e sem nada.
Dizer que o time melhorou com a saída de Mano Menezes e a contratação de António Oliveira é chover no molhado. O elenco não queria mais o antigo treinador. Estava na cara. E também é cedo para cobrar qualquer coisa do português no comando. Ocorre que calendário não para e o Corinthians vai encarar o Cianorte pela primeira rodada da Copa do Brasil nesta quinta-feira. É jogo único e eliminatório. O visitante joga pelo empate. O time da casa, no caso o Cianorte, tem de ganhar o jogo. São 90 minutos perigosos pelo que o Corinthians mostrou contra o Palmeiras.
Cássio tomou vermelho no Paulistão, mas poderá jogar na Copa do Brasil. O problema é Yuri Alberto. Ele se machucou feio na entrada de Murilo por trás, com o joelho, e não terá condições de atuar. O garoto vinha fazendo gols desde a saída de Mano. Portanto, o time perde sua referência na estreia da Copa do Brasil. Yuri não vinha jogando bem, mas estava balançando as redes, que conta muito para um atacante de área que andava sem confiança.
António terá de resolver esse problema. Para as pretensões do Corinthians, com todas as suas mudanças no futebol e no comando do clube, cair na Copa do Brasil na primeira rodada seria uma tragédia sem tamanho, tanto do ponto de vista esportivo quanto financeiro. Certamente o treinador português sabe o tamanho da encrenca desse jogo nesse momento. O Corinthians, pelo que vem jogando, mesmo tendo força em sua história e peso na camisa, não assusta os adversários. Mais ou menos como a seleção brasileira. Tem peso, mas vem jogando mal e todo rival acredita que pode vencer.
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O Cianorte vai por esse caminho. O Corinthians terá de se precaver e precisa de todos os seus jogadores concentrados. Sei que o torcedor não tem paciência de esperar, mas a arrumação do futebol do time não é para esta temporada. É para 2025, se tudo der certo. Entenda por “dar certo” não mudar de treinador a cada três meses ou menos, continuar peneirando o elenco com dispensas e contratações ao longo do ano e colocar os pés nos chão. Viver o que é e não o que foi, como fizeram Palmeiras e Flamengo nos últimos anos. O mesmo vale para a turma das finanças do clube.
Vale lembrar que o time terá de se preparar para dar o bote nas rodadas finais do Paulistão. Ocupa a última colocação do seu grupo e estaria fora da fase seguinte. Não depende só dele, mas se ganhar suas partidas, poderá sonhar com a vaga. Faltam três jogos para o fim da etapa classificatória. Ou seja, o Corinthians vive sua primeira bifurcação na temporada.
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