PUBLICIDADE

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Futebol, seus bastidores e outras histórias

Opinião|Cuca, Robinho e Daniel Alves: quais as diferenças dos três casos de estupro envolvendo os jogadores?

Embora as situações se pareçam é preciso entender as peculiaridades dos episódios de agressão sexual com atletas brasileiros e em momentos diferentes da sociedade

PUBLICIDADE

Foto do author Robson Morelli
Atualização:

É preciso explicar os três casos diferentes de agressão sexual e sexo sem consentimento que envolvem três diferentes jogadores brasileiros de futebol em épocas também distintas uma das outras. Eles ganharam o Brasil e correram o mundo. Em comum, todos foram praticados por profissionais da bola contra mulheres estrangeiras e longe de casa.

Todos eles resultaram inicialmente em denúncias de estupro e tiveram consequências. Refiro-me a Cuca, Robinho e mais recentemente Daniel Alves. São três episódios que tomam conta do noticiário esportivo neste ano e prometem ser um divisor de águas no comportamento da sociedade.

Antes de assumir o Corinthians na semana passada, Cuca trabalhou no Atlético-MG com sucesso dentro de campo Foto: Cris Mattos / Reuters

Caso Cuca e dos outros gremistas

PUBLICIDADE

O caso de Cuca é o mais antigo e de reações e implicações mais recentes. O treinador durou sete dias no Corinthians porque não suportou a pressão e as cobranças e decidiu sair de cena nesta semana. Cometeu estupro em 1987 contra uma menina de 13 anos, foi julgado e condenado a 15 meses de prisão e teve de pagar multa em dinheiro. Ele e outros três jogadores do Grêmio (Henrique, ex-zagueiro com passagem também pelo Corinthians; Eduardo Hamester, atualmente preparador de goleiro do Grêmio, e Fernando, que também vestia a camisa do time gaúcho naquele quarto em Berna) foram acusados, julgados e condenados pela Justiça da Suíça.

Há um processo arquivado por 110 anos e que deve ser mantido em sigilo. Eles nunca foram cobrados como são agora. Era outro mundo, em que as mulheres não tinham voz, tampouco respeito. As cobranças, que começaram em Cuca, cresceram e foram bater na porta do Grêmio. Sua torcida e dirigentes exigem a demissão de Eduardo. Isso deve acontecer em breve. Ele estava naquele quarto em Berna.

Cuca promete processar quem tem extrapolado nas informações equivocadas sobre ele, “um cidadão inocente que não se lembra direito o que aconteceu naquele dia em 1987″, mas que garantiu que a menina não o havia reconhecido, o que foi desmentido na Suíça nesta semana. No caso de Cuca, a Justiça da Suíça tomou todos os caminhos necessários para a investigação, julgamento e condenação.

Publicidade

Robinho cometeu estupro quando vestia a camisa do Milan e da seleção brasileira Foto: Tony Gentile / Reuters

Caso de Robinho

Robinho cometeu crime parecido ao Caso de Berna. Ele e amigos estupraram uma moça de 23 anos numa boate em Milão em 2013, portanto, numa época bem mais remota e já com uma sociedade em transformação, mais acelerada e com outros valores se comparada ao ano de 1987, quando Cuca e seus parceiros do Grêmio levaram uma menina de 13 anos para o quarto.

Da mesma forma, Robinho foi acusado, julgado e condenado pela Justiça da Itália. O processo cumpriu todos os seus trâmites e ritos até a condenação de nove anos. Mas como Robinho não estava mais na Itália, a pena não pôde ser aplicada. Se Robinho estivesse na Itália ou fora do Brasil, ele teria sido capturado e levado para ser preso em Milão. Como o Brasil não extradita seus cidadãos, Robinho passou a viver na cidade de Santos sem ser incomodado.

Isso mudou quando o caso também ganhou pressão popular. Ele não conseguiu voltar a atuar no time da Vila Belmiro, onde foi formado. A torcida, homens e mulheres, barrou sua contratação. Robinho ficou vagando pelas praias até que a Justiça brasileira resolveu intervir e tentar encontrar brechas legais para que a pena fosse aplicada no País. A Justiça da Itália trabalha em conjunto com a Justiça do Brasil.

Esse trâmite ainda está em andamento. Robinho teria de entregar seu passaporte no Brasil. Se a Justiça entender que a pena pode ser executada, Robinho será preso em Santos por estupro. E terá de pagar os nove anos de prisão. Seu caso não será reaberto e ainda não prescreveu. Isso é diferente do caso de Cuca porque sua condenação de 1989 já perdeu a validade.

Daniel Alves disputou a Copa do Mundo do Catar, em 2022: seu caso na Justiça da Espanha ainda não foi julgado Foto: Alex Silva / Estadão

Caso Daniel Alves

O jogador da seleção brasileira teria cometido sexo sem consentimento com uma mulher em uma boate em Barcelona no fim do ano passado. Aqui é preciso usar os verbos no condicional porque Daniel não foi julgado nem condenado. Isso precisa ficar claro. Ele sofreu, como Cuca e Robinho, acusação de ter forçado o ato, cometido agressão ou estupro pela vítima.

Publicidade

Desse ponto de vista, os três episódios envolvendo jogadores brasileiros de futebol são parecidos. Ocorre que no caso de Daniel Alves, o processo ainda está sendo investigado, com depoimentos dos dois lados, com advogados atuantes tanto da acusação quanto da defesa. Daniel Alves está preso porque a Justiça de Barcelona entende que há risco de ele deixar a Espanha e, como ocorreu com Cuca e Robinho, em caso de condenação, não ter a pena aplicada.

PUBLICIDADE

Daniel Alves não foi julgado, mas será. Muito menos teve sua condenação anunciada. Nesse ponto, seu caso se diferencia totalmente dos outros dois. Cuca e Robinho são homens condenados por estupro que não cumpriram suas penas porque voltaram para o Brasil. Daniel Alves está preso por precaução enquanto o caso caminha na Justiça de Barcelona. Depois desse período de investigação e depoimentos das partes, os magistrados da Espanha vão decidir: condenado ou absolvido.

Na primeira opção, uma pena será imposta, que deve ser de até dez anos de prisão, segundo os especialistas. Se for absolvido, ele deixa o presídio onde vive desde 20 de janeiro, prova sua inocência para a sociedade e segue sua vida como um homem livre e sem nada dever para a Justiça. Não há prazo para que o julgamento aconteça.

Opinião por Robson Morelli

Editor geral de Esportes e comentarista da Rádio Eldorado

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.