O São Paulo arrendou o Maracanã na primeira partida da decisão da Copa do Brasil. Trabalhou a bola depois de trabalhar a cabeça. Fortaleceu o psicológico para ganhar do Flamengo em seu quintal e colocar em fogo alto a fervura do treinador Sampaoli. Dessa forma, os comandados de Dorival Júnior, liderados no campo por Nestor e Caio Paulista, ambos pelo lado esquerdo, e por Raphinha, na direita, que não deu mole para Bruno Henrique, tomaram conta do jogo e da bola, não se desgastaram e sabiam exatamente o que fazer com ela. Lá na frente, o platinado Calleri, que ficou a cara do Ted Boy Marinho, fez o gol da vitória e correu até a última gota de suor.
Os são-paulinos seguraram a bola, preferiram tocar de pé em pé e se conscientizaram de que era preciso até mudar algumas características, como as de Lucas. O jogador abriu mão de suas arrancadas em dribles e velocidade para entrar na valsa dos passes no meio de campo. Calleri ficou lá na frente, de olhos bem abertos, com sua tradicional briga pela bola e à espera de uma, uma única bola, que veio nos acréscimos do primeiro tempo. Dorival congestionou o meio de campo e não deixou o time de Sampaoli jogar.
Se o São Paulo sabia o que fazer, o Flamengo foi o contrário disso. Mostrou mais emoção e menos razão. Correu errado durante todo o primeiro tempo. Havia três atacantes (Pedro, Gabigol e Bruno Henrique) e nenhum armador. Gerson, um volante, foi quem mais se aproximou disso, mesmo assim longe do que faria um atleta da posição. O lado direito do time de Sampaoli se transformou na via Dutra para o São Paulo, ora com Nestor, ora com Caio Paulista e ora até com Calleri.
Wesley correu sozinho pelo setor e não deu conta de marcar seus adversários paulistas, sempre em dupla. As tímidas jogadas do Flamengo no primeiro tempo foram com Bruno Henrique. Gabigol e Pedro não funcionaram. Foi uma aula de estratégia e entrega. Parecia difícil o cenário mudar.
O segundo tempo foi melhor um pouco para o Flamengo, que ficou mais com a bola e rondou a área do goleiro são-paulino, mas nem mesmo a técnica propagada dos jogadores rubro-negros entrou em campo desta vez. Não se viu nada do time do Rio. Everton Ribeiro, mesmo em fase ruim, deu algum frescor à equipe. A maior prova da decepção dos apaixonados torcedores foi vê-los deixando o Maracanã antes mesmo do fim da partida. Perderam o que quase nunca perdem, a esperança. Não tiveram forças nem para criticar a equipe após a derrota por 1 a 0.
O Flamengo jogou como vinha jogando, com certa dose de empáfia, muita confiança e quase nenhum futebol. O São Paulo continuou sua transpiração e dedicação até o fim. Deixou no sagrado gramado do Maracanã tudo o que podia, do bom futebol do primeiro tempo ao suor na etapa final. Como disse Raphinha após a vitória no primeiro jogo da final da Copa do Brasil, nada está definido. Mas que o São Paulo encaminha um título inédito, isso encaminha.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.