A seleção brasileira, saco de pancadas nas Eliminatórias e muito sem graça nas Copas do Mundo e outras competições recentemente, precisa ganhar seus dois próximos amistosos, contra Inglaterra, dia 23, e depois diante da Espanha, dia 26. O Brasil entrou no “modus vitória” depois das surras que levou nas Eliminatórias da Copa de 2026, ocupando atualmente a sexta colocação na classificação geral. É vergonhoso em se tratando de seleção brasileira. Então, o primeiro passo do novo técnico Dorival Junior é ganhar as partidas.
Teria muito peso derrotar dois grandes adversários europeus na Europa. Para a imagem do time pentacampeão mundial, isso daria um refresco pelas más campanhas nas últimas temporadas, com fracasso no Catar e uma frequente troca de treinadores depois da saída de Tite, com direito a bate-boca de Dunga com o colega de trabalho, demissões de interinos e outros não tão interinos assim no cargo, acreditando na ilusão de que Carlo Ancelotti tomaria o primeiro voo para o Rio depois da temporada europeu com o Real Madrid e tudo mais que tem envolvido a nossa gloriosa seleção.
Não há nada de bom para comentar sobre o time, nem mesmo sobre sua versão olímpica, que nos fez o favor de ficar fora dos Jogos de Paris deste ano. E olha que o Brasil é o atual campeão olímpico, bicampeão, diga-se. Dorival tem de dar um basta dessa desorganização.
A camisa amarela da seleção só é usada ultimamente em manifestações políticas pró-Bolsonaro, como se viu no fim de semana na Avenida Paulista, em São Paulo, por exemplo. Quando o assunto é futebol, a “amarelinha” é escondida no fundo da gaveta. Ninguém quer saber dela.
Dorival tem a missão de tirar a seleção do buraco e resgatar seu prestígio diante dos brasileiros. Espera-se que ele, com sua experiência e sem a condição, pelo amor de Deus, de ser um treinador “em teste” no cargo, como fez a CBF com Ramon e Fernando Diniz, consiga dar jeito no time. Para mim, ele tem algumas missões ao longo dos meses, até a Copa do Mundo de 2026, isso se o Brasil se classificar. A seleção brasileira nunca ficou fora de Copas do Mundo. Sua fase é tão ruim que a dúvida começa a ser comentada.
Por onde deve começar Dorival:
1 - Mesclar sua convocação com jogadores que atuam no exterior e no Brasil, de modo a dar mais oportunidades para os atletas dos times brasileiros, gostem ou não os dirigentes. Há muitos jogadores no País.
2 - Organizar minimamente o jeito de se jogar do Brasil. Dar um padrão simples para que todos possam entender como correr em campo, cada um na sua posição. Não inventar.
3 - Não insistir com jogadores que já tiveram suas chances e não deram em nada. Saber distinguir jogador de time de jogador de seleção.
4 - Não tratar nenhum desses jogadores de forma especial ou diferente.
5 - Acabar com a panelinhas.
6 - Pedir mais disposição, respeito e, principalmente, vontade para os jogadores convocados. O torcedor quer ver o time correndo e “brigando” em campo.
7 - Acabar com as firulas, modismos e qualquer dessas tendências que tire o foco do atleta dos jogos.
8 - Abrir os treinos para que o torcedor veja, pela imprensa, o que está sendo feito nos treinamentos, de modo a acabar também com a impressão do torcedor de que os caras só brincam em serviço.
9 - Fortalecer os setores do time por parte: começar com a defesa, ajeitar o meio de campo, o mais problemático, e depois definir o ataque. É importante ter um esquema tático montado, um principal, e depois, com o tempo, treinar opções.
10 - Usar os jogadores nas suas respectivas funções e habilidades.
Pedir menos e de forma mais assertiva aos jogadores
Como se vê, tem muita coisa para Dorival e sua comissão fazerem ao longo dos meses na CBF. Ele tem de começar de algum jeito. A lista já é esse começo. O jogador sabe exatamente porque ele está sendo chamado. Se possível, dentro de campo, após algumas orientações, o treinador deve confiar no elenco, desde que todos saibam o que precisam fazer. Com os últimos treinadores, até mesmo com Tite, duvido que todos sabiam suas funções.
Dorival tem de pedir menos e de forma mais assertiva. O que pedir, por exemplo, para Vini Jr. além de sua disposição de pegar a bola mais pela esquerda e partir para cima dos marcadores até chegar ao gol, sempre tendo um centroavante acompanhando as jogadas?
Todos sabem que futebol não é uma ciência exata nem Dorival é Pep Guardiola, técnico do Manchester City e tido como o melhor de todos. O torcedor sabe disso. O que ele espera é ver um time que lute e corra, que não tenha frescura nem mimimi, tudo o que estamos cansados de ver nos últimos anos na seleção. Dorival tem de dar mais personalidade para o Brasil e, consequentemente, para seus jogadores. Não dá para recomeçar deixando tudo igual.
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