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Opinião|Final do Paulistão leva torcedor de volta para os guichês das bilheterias, lembrando os anos 80

Torcedores eram tratados como ‘gado’ nessa época, tinham de encarar filas demoradas sob sol e chuva, confusão, cambistas e até ‘borrachadas’ dos policiais para dispersar os encrenqueiros

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Foto do author Robson Morelli
Atualização:

A final do Paulistão 2023 volta no tempo e faz lembrar as decisões do futebol no Estado na década de 80, quando quase tudo era improvisado e o torcedor sofria como ‘gado’ para comprar seu ingresso. Neste ano, Água Santa e Palmeiras lutam pelo título. Como são duas partidas, cada mandante é responsável por organizar seu jogo. O time de Diadema sofre mais porque faz a sua primeira decisão estadual em sua existência. Tem, portanto, mais problema e nenhuma experiência.

De cara, a decisão lembra daqueles tempos em que as partidas do Paulistão eram jogadas em cidades do interior mesmo não tendo seus respectivos times envolvidos nas finais. Presidente Prudente era um local muito requisitado pela Federação Paulista de Futebol (FPF).

Fila de torcedores para comprar ingressos na Arena Barueri para a partida da final do Paulistão entre Água Santa x Palmeiras Foto: Felipe Rau / Estadão

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De anos para cá, a FPF passou a responsabilidade dessa organização para os clubes, principalmente no que diz respeito à venda dos ingressos. Ocorre que o estádio do Água Santa, em Diadema, não tem condições estruturais ainda para receber um duelo deste porte, de modo a fazer com que seus dirigentes escolhessem outro lugar para atuar. Isso confundiu o torcedor, como era no passado. Pensou-se no Morumbi, na Neo Química Arena e na Vila Belmiro, mas nenhum desses lugares estava em condições ou foram liberados. Optou então por Barueri.

O segundo problema que fez lembrar o ‘futebol raíz’, também chamado de ‘futebol amador’ de décadas atrás, foi a decisão de levar de volta o torcedor para as bilheterias. Fazia tempo que elas não eram acionadas como foram agora: uma alternativa porque a venda de entradas online não suportou a quantidade de procura. Deu crepe no app contratado pelo Água Santa.

A arena Barueri tem capacidade para 31 mil torcedores. A carga deve ser um pouco menor a pedido da Polícia. Quando o site de venda foi colocado no ar, na quarta-feira, os interessados acessaram todos ao mesmo tempo, o que derrubou a conexão. Travou tudo. Na quarta-feira mesmo, o clube de Diadema teve de se desdobrar para resolver a pendência. Parte da resolução do problema foi resgatar o velho e bom bilheteiro, aquele profissional que em muitos casos era alguém ajeitado pelo próprio clube com outras funções e tarefas para ficar nas bilheterias, para vender os ingressos.

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Quem de nós nunca viveu isso para comprar entradas para jogos de futebol? A solução, tão logo divulgada nesta semana, fez o torcedor voltar para as imediações dos estádios, como no passado, em filas, sob sol ou chuva, para comprar sua entrada. Ninguém arredava pé. Muitos enrolavam seus patrões no emprego para passar o dia na fila.

Foi assim na arena Barueri. O estádio do Água Santa em Diadema teria o mesmo procedimento. O torcedor voltou então para as filas nas bilheterias, esperando por horas o guichê abrir e ele ser atendido. No futebol dos anos 80 e 90 era assim que funcionava. Não havia outra forma de ter o seu bilhete. Vale lembrar que nem todos conseguiam adquirir sua entrada, porque elas acabavam e só aí os torcedores eram avisados nos guichês. Quase sempre dava confusão. A fila virava uma bagunça. A polícia tentava colocar alguma ordem. O pau comia.

Nessa época, o torcedor comum também tinha de conviver com os cambistas, aqueles ‘profissionais’ que colocavam meninos na fila para comprar o maior número de entradas a fim de vendê-las depois por preços bem mais caros. Era assim que eles ganhavam dinheiro e atendiam os torcedores que estavam dispostos a pagar pelos seus serviços. Jogos de finais eram superfaturados, até cinco vezes mais o valor da bilheteria.

Existia ainda a desconfiança da falsificação das entradas. O comprador só respirava aliviado quando ele passava na catraca. Antes disso, ele não tinha nenhuma certeza ou confiança de que tinha comprado do cambista um bilhete verdadeiro. Também para coibir o cambismo, os policiais tentavam prender alguns deles. Ainda hoje há esse tipo de venda nas imediações dos estádios, mas bem mais discreta. O delivery acabou com tudo. Os cambistas hoje estão trabalhando por WhasApp.

O primeiro dia de venda de ingressos para a final entre Água Santa e Palmeiras não teve registro de confusão. Os torcedores em Barueri voltaram para as filas nas bilheterias. Houve dois lugares de venda: o estádio de Diadema e a arena Barueri. O app também voltou a funcionar. Muitos palmeirenses se valeram dele para comprar suas entradas. Até o fim deste artigo, não havia informação se os ingressos para essa primeira partida da decisão do Paulistão havia acabado. Para o jogo seguinte, no Allianz Parque, o Palmeiras assume esse serviço.

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Opinião por Robson Morelli

Editor geral de Esportes e comentarista da Rádio Eldorado

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