Augusto Melo terá de ser melhor do que seus antecessores no Corinthians. No dia 6 de dezembro, ou antes, ele saberá em qual divisão o time vai jogar na próxima temporada, na Série A ou na B do Campeonato Brasileiro. No último jogo, uma derrota dolorosa: 5 a 1 em casa diante do Bahia, de Rogério Ceni. A torcida saiu revoltada de Itaquera e os associados decidiram mudar o rumo nas urnas no dia seguinte.
Sábado, o candidato da situação perdeu as eleições para presidente e viu seu desafeto, de colete à prova de balas, ganhar o pleito. Antes do resultado, o que ouvi de amigos corintianos era a terrível escolha entre dois candidatos sem a menor condição de assumir um clube cuja receita anual está na casa dos R$ 800 milhões e com dívidas impagáveis em seu primeiro ano de gestão, talvez nem no segundo e no terceiro.
Como a Lei Geral do Esporte prevê punição e cadeia aos maus dirigentes, todos os presidentes terão de prestar contas com a Justiça em caso de desvio de dinheiro ou enriquecimento ilícito e favorecimento a terceiros. A lei existe e isso dá tranquilidade ao torcedor, ou deveria dar. Duílio Monteiro Alves pode ter sua gestão questionada após deixar o posto. Os dirigentes de futebol estão sendo observados com lupa sob o prisma do artigo 165 da lei, uma espécie de conduta, com deveres e obrigações, comportamento lícito e transparente, sob a pena de até quatro anos de prisão. Então, diria aos amigos corintianos que acabou a farra de não prestar contas da dinheirama que entra e sai dos clubes.
Augusto Melo será beneficiado pela lei, de modo a ter de mostrar e provar tintim por tintim os seus passos sem olhar para trás, porque o que se vê no retrovisor é uma gestão de péssima qualidade no futebol, passando pela administração da arena, até bater numa dívida de R$ 1 bilhão.
Não vejo a oposição tão distante da situação, uma vez que Augusto Melo já esteve na mesma mesa de Andrés Sanchez, o patrão na última década. O novo presidente terá de ser e parecer melhor.
Augusto Melo só não assume um clube no fundo do poço porque o futebol feminino do Corinthians impede. O time festejou o título paulista neste domingo (diante do São Paulo, em Itaquera, diante de 40 mil torcedores) e tem um legado deixado pelo técnico Arthur Elias. Seu trabalho é um oásis no deserto em que transformaram o Parque São Jorge.
Ninguém festejou a vitória de Melo nas urnas, a não ser aqueles que torciam para o fim da era perdida de Andrés. Não há o que comemorar. Existe a possibilidade de o novo presidente se cercar de pessoas competentes, que não chutam portas da arbitragem, que saibam gastar o dinheiro, que não demitam treinadores a torto e a direito, que façam transações às claras, que paguem as dívidas, que entendam os anseios do torcedor... e por aí vai.
Não sei se é possível, mas é o que o Corinthians precisa.
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