Neymar está de volta. O atacante fez sua primeira partida pelo PSG desde fevereiro, quando se machucou e passou por uma cirurgia no tornozelo direito. Fazia mais de cinco meses que ele não atuava. Não jogou nos três primeiros amistosos do time de Paris na Ásia, mas jogou durante os 90 minutos nesta quinta-feira, marcou dois gols e deu uma assistência na vitória de 3 a 0 sobre o fraco Jeonbuk Hyundai, um time sul-coreano com sede na cidade de Jeonju e administrado pela empresa automobilística Hyundai. Não é o ‘time da firma” porque está na liga nacional. Mas é quase. Neymar deitou e rolou.
Mas o que esperar do atacante em sua 10ª temporada na Europa? Não é uma pergunta fácil de ser respondida. Mais uma vez há muita expectativa em torno do jogador de 31 anos, ainda um dos melhores do mundo, mas também o menos valorizado e o mais desprestigiado e também por quem se tem enorme desconfiança de sucesso. Neymar construiu essa fama na Europa, menos no Barcelona e muito mais no PSG.
Ninguém pintou Neymar como ele. As tintas de seu retrato no futebol foram pinceladas por ele mesmo, como um Picasso em seus traços disformes. Neymar é exatamente o que ele construiu na Europa. Ele tem plena consciência disso porque nunca responsabilizou ninguém sobre o que virou. Talvez até aceite e se conforme seu papel. Chegou como Batman e se transformou em Coringa. Nos últimos anos é visto num misto dos dois personagens, como ele próprio se pregou na parede de seu escritório em quadro e também se apresentou na minissérie sobre sua vida e carreira da Netflix chamada “O Caos Perfeito”. Neymar é o caos e nenhum caos é perfeito.
Mas como futebol é uma mãe e amor de mãe se renova a cada dia, Neymar tem a chance, mais uma vez, de mudar sua história na Europa. Se quiser, claro. Sem Messi e com Mbappé enrolado em seus desejos de sair e de ficar, Neymar pode ser o “cara” do PSG sob o comando do amigo Luis Enrique.
A temporada, desse ponto de vista, pode se mostrar promissora para ele. Temo queimar a língua porque outras também se mostraram dessa forma e deu em nada. Neymar sempre quis reinar sozinho, por isso ele deixou o Barcelona de Messi. Mas nunca conseguiu o que queria no PSG, primeiramente pela ascensão de Mbappé e depois pela chegada também de Messi a Paris. Ele manteve sua majestade, mas nunca foi rei.
Luis Enrique é peça importante em um possível renascimento de Neymar na Europa. O treinador espanhol o conhece desde os tempos de Barcelona, viu seu potencial de perto e confia nele. Mais do que ganhar a Copa dos Campeões, o brasileiro tem de se recolocar entre os melhores do continente.
Não há mais Messi nem Cristiano Ronaldo pela primeira vez. Esse era o plano quando ele deixou o Santos cheio de sonhos: esperar pelas ‘aposentadorias’ da dupla que reinava absoluta na Europa e assumir o posto. Isso esfriou porque Neymar caiu de produção e se afastou dos melhores. Virou piada na Copa do Mundo da Rússia com seu cai-cai e nunca mais foi o mesmo.
Ele vai para a décima temporada desde que chegou, em 2013, na Europa. Tem idade para ser mais responsável e menos moleque ou inconsequente. Caminha para o fim de sua carreira, o que deve acontecer nos próximos cinco ou seis anos. Mas para dar certo, ele sabe que só há um caminho e é dentro de campo, fazendo o que diz ser o que mais gosta na vida. Até sobre isso há desconfiança. Jogar futebol, por vezes, saiu do seu foco.
Ganhar tudo na França precisa ser o objetivo do PSG. Fazer uma boa campanha na Liga dos Campeões também. Para isso, o brasileiro tem o primeiro desafio que é recuperar a confiança do torcedor de Paris. Ele não é bem-vindo na cidade, mas todos sabem o poder do futebol e dos resultados de campo para mudar cenários. Neymar queria sair. O PSG queria que ele saísse. Nada disso deu certo. Agora, prestes a retomar a temporada 2023/2024, ele parece ser o novo ‘dono’ do PSG. Só depende dele.
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