Queria escrever sobre o calendário do futebol brasileiro de 2024, anunciado pela CBF, e tão desumano quanto os últimos, com muitos jogos e pouco tempo para treinar e descansar, com muitas viagens e deslocamentos e duas competições para ‘atrapalhar’ o bom andamento do futebol nacional, que são a Copa América dos EUA e os Jogos Olímpicos de Paris. Queria ainda abordar a decisão da Fifa de escolher a Arábia Saudita como país-sede da Copa do Mundo de 2034 e tudo o que isso representa para a geopolítica da região e quase nada para o futebol. Será uma Copa facilmente esquecida a não ser para quem ficar com o título. O quente do dia, no entanto, é Botafogo x Palmeiras, no Rio, pelo Brasileirão.
Esse jogo vai parar tudo. A rodada 31 do Nacional vai ser acompanhada de várias maneiras, cada torcedor com seu terço nas mãos. Cada um também com seu pedido nessa reta final para salvar o ano. É ‘reza brava’ de tudo quanto é jeito. Há muita fé no futebol brasileiro, característica de seu povo. A rodada vale muito.
O Palmeiras vai tentar colocar fogo no parquinho do Botafogo. Seis pontos separam os dois primeiros colocados da competição. Em casa, o time do Rio sabe que precisa ganhar para evitar que eles se aproximem ainda mais na tabela. É crucial somar os três pontos para subir a diferença e continuar com uma partida a menos na conta. O Botafogo deixou de jogar um jogo. Batendo o Palmeiras, leva para nove pontos a vantagem, continua com sobras e ainda terá uma partida deixada para trás para fazer.
O roteiro do Botafogo é mais conhecido. O time, mesmo sob o olhar desconfiado de todos os torcedores dos outros times, mantém a liderança do Brasileirão há muitas rodadas, ora por méritos, ora por falta de méritos dos rivais. Agora é o Palmeiras que pressiona, mas já foram Flamengo, Grêmio e Bragantino.
Há muita desconfiança com tantas trocas de técnicos. Quem comanda o Botafogo é Lucio Flavio. Era Bruno Lage. Já foi Luís Castro. Há um ar de interinidade no comando. Ele tem a aprovação dos atletas e tudo o que isso significa. Ocorre que há problemas. A derrota para o Cuiabá foi dolorida na rodada passada. E pode ter consequências.
O Palmeiras já esteve em seu inferno-astral, quando diretoria, conselheiros e torcida se engalfinharam numa briga interna de poder, desavenças e vaidade. O futebol tentou ficar à margem disso e conseguiu emplacar vitórias seguidas, de modo a estar num viés de alta para o jogo contra o líder do torneio. A alegria que reina no Palmeiras não ganha jogo, mas ajuda muito.
Nesta semana, o clube festejou os três anos de trabalho do técnico Abel Ferreira, seu sucesso e o de sua comissão e tudo o que isso representa para o time. Há como tirar proveito dessa condição nesta quarta. Vejo o futebol como consequência de vários fatores dentro de um elenco. A técnica dos jogadores é apenas um deles. E isso todos sabem que os atletas do Palmeiras têm.
É nessa condição que o time de Abel quer dar um xeque no Botafogo e no Campeonato Brasileiro, se não ainda um xeque-mate, ao menos tenta a jogada que pode levar a isso no tabuleiro. Passa necessariamente pela vitória. Nada mais interessa. Na parte psicológica, o Palmeiras está mais acostumado a viver momentos assim do que o líder Botafogo, adormecido por anos no futebol nacional. É fácil? Não. O Botafogo vem se mostrando um time capaz de resolver seus problemas dentro de campo com os ovos que tem na cesta. Joga em casa. Não por acaso tem o artilheiro do Brasileirão, Tiquinho, com 16 gols. Não por acaso também soma 18 vitórias.
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