Depois de muitos anos, o São Paulo não começa uma temporada do zero. Isso é muito bom para o time do Morumbi e para os seus torcedores. A campanha de 2023 colocou o trem nos trilhos para um 2024 mais tranquilo, ao menos sem aquele desespero de encontrar treinador, montar um time competitivo e driblar a desconfiança da torcida. O São Paulo continua sob o comando de Dorival Junior. A equipe está formada, com a boa notícia da permanência de Lucas Moura. Calleri volta zerado depois de passar por cirurgia. E assim vai ocorrer já para o Paulistão com a maioria dos jogadores.
Então, esportivamente, o Tricolor retoma a temporada descansado e recuperado e com apetite de vitórias e conquistas. Mas isso todos têm. O que diferencia o time campeão da Copa do Brasil é sua nova fase, mesmo com os pés no chão, mais assertiva do que em outras temporadas. Há um elenco legal, competente e mais entrosado. E há uma comissão técnica que não é apunhalada pelas costas. Dorival tem o respeito de todos e também respeita seus jogadores. Isso é meio caminho andado em se tratando de São Paulo. O grupo tem pelo menos cinco atletas acima da média, o que faz diferença.
Essa condição permitiu à diretoria de futebol observar e fechar com alguns reforços com antecedência e sem aquele desespero com a pressão da torcida. O São Paulo está mais organizado e tem um planejamento estruturado neste ano para a temporada seguinte. Ou seja: não é mais aquela bagunça sem rumo de anos anteriores.
Mas ainda está longe de navegar em águas tranquilas, principalmente no que diz respeito ao caixa do clube. Salários e direitos de imagens precisam ser pagos. As contas ainda não fecham no clube. Todos os acertos e as receitas deste ano não foram suficientes para honrar os compromissos e isso é um problema. Problema que parece sem solução na gestão do futebol brasileiro.
O clube está no vermelho, mesmo com a torcida lotando o estádio e com a conquista da Copa do Brasil, competição cujo prêmio é o maior do País. É preciso responder por esse dinheiro. A CBF pagou R$ 70 milhões ao campeão, isso sem contar as cotas por fase. Esse dinheiro não estava previsto. R$ 70 milhões! Pagar o que deve é o que um clube honrado tem de fazer como principal objetivo. A Lei Geral do Esporte, aprovada em maio, cobra isso. Dá direitos e deveres aos cartolas do futebol, com punição em caso de abuso.
Há acertos encaminhados para 2024 com o uso do Morumbi e novos parceiros, mas o clube terá de vender jogadores. Isso vai enfraquecer o elenco de Dorival, mas servirá para pagar as contas (tomara) e dar tranquilidade até o meio do ano. Houve uma bobeada em relação à renovação de Caio Paulista e ele pode acabar fora do São Paulo. O problema é que, sem contrato, ele sai de graça. Caio tem vínculo com o Fluminense. Em caso de negociação, é o clube do Rio que vai receber e não o São Paulo.
O departamento de futebol deu uma cochilada. Há insinuações no clube de que o jogador não queria ficar. Se for isso mesmo, as partes precisam esclarecer. O futebol movimenta dinheiro demais e muita paixão para tomar essas bolas nas costas e não ser verdadeiro com os seus torcedores.
O São Paulo é um gigante adormecido que precisa se levantar. Já está de joelhos depois desta temporada, mas precisa fazer mais e melhor em 2024. Os sorrisos voltaram ao Morumbi, mas eles têm tempo de validade. Se não tiver uma boa gestão, tudo desanda de novo e o time volta a figurar no fim da fila entre os rivais de São Paulo.
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