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Futebol, seus bastidores e outras histórias

Opinião | Seleção retoma Eliminatórias sem confiar em Neymar, com as mesmas caras e uma aposta: Diniz

Dois jogadores poderiam estar no grupo, mas não estão por problemas extracampo: Antony foi cortado após acusações de agressão na namorada e Paquetá teve o nome retirado da lista depois de investigação de envolvimento em ação ilícita de apostas

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Foto do author Robson Morelli
Atualização:

As caras são quase as mesmas, a não ser a do treinador Fernando Diniz, que entrou no lugar de Ramon, que estava interinamente substituindo Tite após seis anos no comando do Brasil. A seleção brasileira começa sua caminhada nas Eliminatórias mais fáceis das últimas décadas, agora com seis vagas para a Copa do Mundo de 2026. O torcedor perdeu seu apetite com o time nacional. Nem a camisa amarela ele andava usando porque ela se misturou com a política brasileira. O resgate, portanto, é total a partir desta sexta.

Mas o que esperar do Brasil liderado por Neymar, o mesmo que fracassou com o time nas Copas de 2014, 2018 e 2022? Os jogadores são os mesmos, salvo um ou outro. Por exemplo, o último a chegar foi o Gabriel Jesus, que assumiu o lugar de Antony, cortado por causa das acusações de agressões à antiga namorada.

Neymar retorna para a seleção brasileira após fracassos nas últimas três Copa do Mundo Foto: Vitor Silva/CBF

Paquetá enrolado

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Quem também não foi chamado por problemas extracampo foi Paquetá. O jogador está bastante enrolado com a máfia das apostas. Seu CPF está sendo investigado na Inglaterra por cometer ações ilícitas em jogos oficiais para beneficiar terceiros. As acusações são sérias e as informações que tenho é que elas colocam a corda no pescoço do jogador. Se não fosse por isso, ele seria convocado.

As Eliminatórias passaram a ser brincadeirinha para o Brasil. Nem de longe elas vão dar um caminho para o time se fortalecer e aumentar sua confiança. Mas é o que se tem na América do Sul. Melhor, portanto, jogar bem do que não jogar nada. As seleções rivais, algumas delas, melhoraram, mas o Brasil sempre passou o carro em todas elas, menos na Argentina. No ciclo passado, no entanto, não houve esse confronto no Brasil por causa da pandemia e depois o jogo foi, digamos, ‘esquecido’ pela CBF e AFA.

O que fazer com Neymar

Neymar disse que quer ficar. Então, ele continua sendo o ‘cara’ do time. Todos sabemos que ele fracassou nas últimas Copas e também no PSG. Quais garantias o torcedor brasileiro tem de que, desta vez, será diferente? Nenhuma. Não se pode contar com Neymar. Seu tornozelo ainda é um ponto de interrogação. Está bem, mas vai continuar tomando pancada.

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Saber como Diniz vai usá-lo é outra dúvida. Os times do treinador do Fluminense demoram para deslanchar e têm altos e baixos, mas não deixam de ser interessantes. Ele terá os melhores brasileiros à disposição. Então, talvez consiga arrancar leite de pedra mais rapidamente. É preciso ter jogadas ensaiadas, estratégias bem definidas, liberdade, coisa que a seleção não tem há anos. Jogar a bola para Neymar é ver o que vai dar tem se provado um erro. É preciso parar com isso.

Ancelotti vem mesmo?

Há ainda a data estipulada para Diniz ir embora, junho de 2024, quando Carlo Ancelotti assumiria. A CBF diz que está tudo certo para quando o treinador italiano deixar o Real Madrid. O assunto esfriou na Espanha. Há muita desconfiança em relação a isso, ao acerto definitivo. As partes falaram sobre a possibilidade. Mas tanto Ancelotti quanto o clube de Madri não se pronunciaram. Só a CBF falou. Se acontecer, a seleção vai voltar à estaca zero.

Espera-se mais de Vini Jr. nessas Eliminatórias e na seleção, assim como de Rodrygo, mais encorpado para assumir um papel de destaque na equipe. Não me parece que o jogo será pelas laterais com Danilo (Juventus), Vanderson (Monaco), Caio Henrique (Monaco) e Renan Lodi (Olympique de Marselha). Mas entendo que o Brasil pode crescer pelo meio de campo, onde o jogo nunca deve acontecer sempre.

Pelo meio de campo

A seleção tem opções de qualidade nesse setor, mas é preciso mudar a mentalidade, abrir mais mão da marcação em detrimento da criação e das jogadas ofensivas e soltar os dribladores e atacantes, sem pedir para que eles cubram as laterais, por exemplo. Parece ‘chover no molhado’, mas ninguém confia no Brasil mais. O interesse pela seleção tem durado 90 minutos, o tempo do jogo, quando dura.

Uma coisa é certa com Fernando Diniz: seus times gostam da bola e não abrem mão de ficar com ela. Opa! Já é um avanço. Porque teve época em que dar a bola para o rival era uma estratégia de jogo. Nunca foi. Acelerar as jogadas com se vê no futebol inglês de clube é um sonho possível com atacantes rápidos. É preciso tempo para treinar que o time nunca tem, mas também é preciso orientações claras. É preciso ainda enterrar o passado e tentar vida nova.

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Sem favorecer atletas

E, pelo amor de Deus, sem essa história de ‘família Diniz’ ou coisa do tipo. Nem fechar grupos e dar a certos atletas condições favoráveis, se é que me entendem. Jogadores precisam ter vontade de vestir a camisa do time. Vontade mesmo e não somente no discurso. O torcedor precisa saber disso e, assim, voltar a gostar da seleção. O Brasil joga nesta sexta, contra a Bolívia, em Belém, e depois, na terça, diante do Peru, em Lima.

Opinião por Robson Morelli

Editor geral de Esportes e comentarista da Rádio Eldorado

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