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Opinião|Todo mundo quer ganhar o jogo no grito com a arbitragem, que é fraca por culpa de atletas e técnicos

Jogadores deveriam se envergonhar das simulações de faltas e treinadores tentam justificar derrotas jogando os erros do seu time no colo dos árbitros: até cartolas estão reclamando sem pudor

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Foto do author Robson Morelli
Atualização:

Parece que não tem ninguém felizão com a arbitragem nos Estaduais, um teste para o quem por aí na temporada. Uma chuva de reclamações toma conta de presidentes e jogadores abertamente, com menos pudor do que no passado. As desavenças vão desde a marcação de um pênalti até a anulação de jogadas decisivas com a ajuda do VAR. Alguns árbitros contestados são novos e já chamados de “uma nova safra do apito”, como o paulista Fabiano Monteiro dos Santos, de 26 anos apenas, que comandou a vitória do Corinthians diante do Botafogo, em Ribeirão Preto.

O primeiro gol do time de António Oliveira saiu após um pênalti contestado pelos jogadores do time do interior. Durante toda a disputa, o árbitro foi cobrado. Fiquei na dúvida do pênalti, mas ele conduziu bem o jogo nas demais jogadas. O pênalti não decidiu o jogo, mas abriu caminho. Fabiano fala e gesticula demais, mas todos nós sabemos como são chatos os jogadores em campo. Todos querem ganhar no grito e todos querem enganar o juiz.

Edina Alves foi criticada pela arbitragem da partida entre São Paulo e Santos, no MorumBis, pelo Paulistão 2024 Foto: Denny Cesare / Estadão

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Também na vitória do Santos sobre o São Paulo, no MorumBis, a árbitra Edina Alves, bem mais experiente, foi bastante criticada por também marcar um pênalti em favor do time de Fábio Carille. O engraçado foi saber que o Santos, antes da partida, fez uma reclamação da escolha da árbitra para o clássico. Não a queria no apito. A pressão, portanto, começou antes mesmo da partida.

No Rio, vascaínos e fluminenses também não aprovaram as decisões do árbitro no clássico empatado sem gols. Bola na mão, impedimentos, jogadas mais duras, tudo é motivo para condenar o homem do apito. As federações tentam lançar novos árbitros com o eterno pedido dos clubes para uma renovação e a esperança de acertar na questão. Mas leva tempo para formar e nem todos estão preparados para avançar de fase. Os mais rodados já conhecemos e muitos não vão mudar.

A atual safra é ruim. Passa com nota 5. Isso faz anos. Mas há uma disposição de tentar acertar. Há ‘peneiras’ para quem quer tentar a carreira antes de eles serem lançados aos leões. Há testes de todos os tipos. Mas lá dentro, com a bola rolando, é muito mais difícil. Os árbitros que estão apitando no Paulistão, por exemplo, superaram esses primeiros desafios, de modo a avançar na possibilidade de vingar.

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O problema é que eles são preparados e amadurecidos dentro de campo, com a bola rolando e o apito na boca, em torneios que valem muito para os clubes e para o torcedor. Os são-paulinos ficaram chateados com a derrota diante do Santos dentro do MorumBis. Foi a segunda seguida sob o comando de Thiago Carpini depois daquela semana ótima de tabu derrubado contra o Corinthians e título da Supercopa diante do Palmeiras. A pressão caiu, assim como o rendimento do time. Mas o culpado é sempre o árbitro.

Em alguns casos são mesmo. A melhora da nossa arbitragem passa necessariamente pelo amadurecimento dos jogadores, treinadores e dos dirigentes.

Os atletas ainda acreditam que podem enganar a arbitragem com tantas câmeras espalhadas pelo estádio e com a ajuda do VAR. Simulam o tempo todo, levando as mãos ao rosto por qualquer coisa. É uma malandragem ridícula, porque são desmentidos pelas imagens. Deveriam se sentir envergonhados.

Os treinadores olham o futebol não com a razão, mas com a camisa do seu time. Se a falta é para o rival, seja ele quem for, o juiz está errado. O quarto árbitro é incomodado até por decisão de lateral para um ou para outro. Os técnicos entendem que estão sempre sendo prejudicados. E quando colocam alguma coisa na cabeça, infernizam o assistente até ganhar amarelo. Abel Ferreira é assim, mas não é único. Os treinadores acham que estão sempre certos em tudo. Não estão. Muitas de suas declarações, broncas e críticas não passam de mera opinião.

Os cartolas são mais comedidos, mas está virando moda responsabilizar derrota na conta da arbitragem. Presidentes e dirigentes que são, eles deveriam trabalhar para melhorar o comportamento de seus treinadores e jogadores, que na maioria das vezes passam do ponto no jogo. Mas eles próprios, nem todos, se comportam como torcedores de arquibancadas.

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A arbitragem no futebol brasileiro não vai melhorar se não tiver a parceria dos clubes, de treinadores e dos jogadores, passando, claro, pelos cartolas. A maioria das reclamações contra a arbitragem, depois de analisadas de cabeça fria, é infundada, sem sentido, que só caracteriza o desespero de quem não sabe o que está fazendo ou que quer ganhar a qualquer custo. Mano Menezes, antes de deixar o Corinthians, vivia em pé de guerra com os árbitros. Reclamada de tudo.

As federações e os clubes precisam trabalhar melhor e mais essa aproximação da arbitragem, de suas regras e comportamentos, com os atletas. Não basta ter um encontro no começo da temporada e não participar de mais nenhum evento educativo entre as partes. O árbitro não é inimigo dos jogadores.

Opinião por Robson Morelli

Editor geral de Esportes e comentarista da Rádio Eldorado

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