Pela primeira vez a turma do futebol está de mãos dadas para limpar a sujeira das apostas esportivas dentro de campo, com o envolvimento de quadrilhas especializadas e de jogadores profissionais que se venderam ao dinheiro fácil. Fácil e ilícito. Esses atletas não se deram conta da gravidade de suas ações quando aceitam receber um simples cartão amarelo durante determinada partida e ajudar criminosos a ganhar rios de dinheiro nas casas de apostas. Nunca mais serão “pessoas livres” e vão sempre estar nas mãos e sob ameaçadas desses bandidos.
A CBF tomou a frente para defender seu produto, de modo a pedir para o ministro da Justiça a abertura de um inquérito sobre o assunto na Polícia Federal. Há muita preocupação dentro dos corredores da entidade como nunca antes. Desta vez, nada está em suas mãos. A CBF não tem o controle nem sabe a profundidade do esquema. Por ora, todas as investigações no Campeonato Brasileiro dizem respeito às edições das séries A e B do ano passado. Mas não se sabe, ao certo, se a atual disputa está livre da contaminação.
Afetar a credibilidade do futebol é desmoronar uma estrutura que envolve muita gente, de atletas profissionais, passando por árbitros e treinadores até chegar aos clubes e em seus patrocinadores. De acordo com a consultoria EY, o futebol movimenta anualmente R$ 52 bilhões na economia do Brasil. Isso equivale a 0,72% do total do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro. Há ainda os que se valem do futebol de forma informal, como os ambulantes nas imediações dos estádios que vendem seu produto.
Há também a negociação do futebol brasileiro para o exterior. O produto futebol. Mais de 160 países compram as transmissões do Brasileirão, por exemplo.
A turma do futebol se ligou que as manipulações de resultados e suas ramificações dentro das casas de apostas colocam o futebol em risco. Essa preocupação também é da Fifa, com quem a CBF tem contatos recorrentes sobre o problema no Brasil. Há muito cuidado para não fornecer informações equivocadas ou que possam fazer com que qualquer sentimento de desconfiança em relação aos jogos se alastre e se torne incontrolável como uma queimada em terras secas.
Quem pode condenar as fraudes e o envolvimento de atletas está fazendo isso sem dó, como treinadores e dirigentes de clubes, sempre em cima do muro para tudo. Mesmo os jogadores que não foram arrolados nas investigações da Operação Penalidade Máxima, do Ministério Público de Goiás, mas que, por algum, motivo tiveram seus nomes ventilados no esquema de manipulação estão sendo afastado de suas atividades. Alguns contratos, como tem noticiado o Estadão, desses atletas estão também sendo rompidos. Ninguém está passando a mão na cabeça dos jogadores envolvidos.
Esse comportamento duro, com mãos ferro, já faz parte das medidas que a turma do futebol encontrou para limpar a sujeira que esse esquema de apostas trouxe para o futebol brasileiro. Como disse Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, o futebol vai sobreviver a mais essa. Ele sobreviveu às máfias da Loteca e do Apito e mais recentemente à pandemia e aos estádio vazios, e vai sobreviver também às manipulações de resultados nas casas de apostas. A Europa teve problemas parecidos e conseguiu dar a volta por cima sem ter seus campeonatos maculados.
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