Simone Biles passou dois anos cuidando de sua saúde mental desde a Olimpíada de Tóquio, em 2021, quando teve sérios problemas e se afastou das competições. Aos 26 anos, depois de duas temporadas longe das provas, ela retornou às competições neste sábado com uma medalha de ouro no US Classic, em Chicago, torneio classificatório para o Nacional da categoria. Simone Biles está de volta a um ano para os Jogos Olímpicos de Paris.
Com a confiança crescendo a cada rotação, Biles disparou para sua primeira vitória em meio ao animado público americano. A pontuação geral da ginasta foi de 59,100, cinco pontos melhor do que Leann Wong, medalha de prata. Joscelyn Roberson ficou com o bronze.
Biles conseguiu a melhor pontuação em três das quatro disputas, mostrando no evento classificatório que continua sendo a mesma Simone Biles de sempre, só que agora em nova versão de si mesma. A americana quatro vezes medalhista de ouro em Olimpíadas dominou no solo, salto sobre a mesa, barras assimétricas e trave de equilíbrio para garantir mais um primeiro lugar em sua vitoriosa carreira.
“Eu me sinto muito bem onde estou agora, mentalmente e fisicamente”, disse Biles. “Ainda acho que há algumas coisas para trabalhar nas minhas rotinas, mas para o primeiro encontro de volta, eu diria que correu muito bem”.
Simone Biles iniciou as competições nas barras assimétricas com uma pontuação de 14,000, a terceira melhor nota da disputa, que já mostrava o que estaria por vir. Ela subiu a nota na trave de equilíbrio, com 14,800. A campeã emendou ótimos passos no chão, com pontuação de 14,900. Ela ainda terminou com um salto duplo sobre a mesa. A arena mostrou toda sua empolgação com a última nota de 15,400, que colocou Simone na frente das outras 30 competidoras.
Foram 732 dias cuidando de sua saúde mental, desde que abandonou cinco provas na Olimpíada de Tóquio. A ginasta feminina mais condecorada da história revelou que só intensificou os treinamentos após o casamento com Jonathan Owens, jogador de futebol americano, no fim de abril. Ela veio para a competição com um collant preto e branco e uma aliança de casamento de silicone, comprada para usar enquanto compete, além de um colar escrito “Owens”.
“No começo, sempre que eu voltava aos treinos, acho que em setembro, estava meio que me divertindo na academia tentando entrar em forma novamente. Eu tirei quase outubro inteiro e parte de novembro porque estava fazendo muitas palestras e as festas de fim de ano chegaram. Então apenas foquei em estar em forma e manter a rotina”, disse.
“Quando chegou o ano novo, comecei a aumentar a frequência, mas ainda tinha algumas coisas, estava trabalhando no casamento. Eu sentia que Laurent (Landi, seu treinador) estava sempre um passo à frente. Depois de maio, começamos a intensificar, mas antes disso eu estava apenas treinando. Nós apenas notamos que chegou o momento e Laurent (Landi) disse que iríamos competir no Classics. Meio que não foi falado que eu competiria, nós apenas sabíamos”, revelou Biles.
O US Classic é considerado uma espécie de aquecimento para os campeonatos dos Estados Unidos que acontecem no fim deste mês. Os campeonatos mundiais estão previstos para outubro e ainda há a Olimpíada a menos de um ano. “Eu sabia que poderia voltar e, com sorte, ter uma chance”, disse ela. “É sobre realmente cuidar do meu corpo agora. Então é isso que devemos fazer. Está funcionando.”
FOCO NA SAÚDE MENTAL
A americana de 26 anos não entra em uma competição desde agosto de 2021, quando defendeu os EUA nos Jogos de Tóquio. Na ocasião, Simone Biles não chamou a atenção pelas conquistas, mas por ter desistido de diversas provas, como a final do individual geral, para priorizar sua saúde mental. Ela não estava bem. Acusou o desgaste emocional e a pressão em seus ombros.
Ela alegou que estava sofrendo com “twisties”, termo usado no meio da ginástica para explicar a perda de referência espacial sofrida por um atleta na execução de algum movimento qualquer. Não consiga focar nem se concentrar. A situação poderia colocar em risco sua integridade física ao cometer erros graves em suas apresentações.
Ao vir a público para explicar a situação, Biles trouxe à tona as discussões sobre saúde mental, um dos assuntos mais comentados ao longo daquela Olimpíada e dos anos que se seguiriam. Havia a expectativa de que a americana quebrasse diversos recordes e marcas históricas da ginástica em Tóquio, o que acabou não acontecendo em razão da decisão de sua desistência. A ginasta soma sete medalhas olímpicas, sendo quatro de ouro. A maioria foi obtida nos Jogos do Rio-2016. Na capital japonesa, ela foi prata por equipes e bronze na trave, conquistas que a fizeram empatar em número de medalhas olímpicas na história da ginástica americana com Shannon Miller.
Ao fim daquela edição da Olimpíada, Simone Biles deixou em aberto a possibilidade de se aposentar antes mesmo dos Jogos de Paris-2024. O anúncio desta quarta, porém, abre a possibilidade de que a americana esteja na França, no próximo ano. Os últimos dois anos foram um turbilhão na vida pessoal da competidora, apesar do afastamento das competições. Ela se tornou uma das maiores defensoras dos atletas na busca por saúde mental.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.