Pelo sexto ano seguido, o Brasil tem a possibilidade de conquistar o Circuito Mundial de Surfe. Gabriel Medina foi campeão em 2014 e 2018, Adriano de Souza em 2015 e agora Medina, Italo Ferreira e Filipe Toledo têm ótimas possibilidades de colocar o País no lugar mais alto do pódio pela quarta vez nessa geração que ficou conhecida como "Brazilian Storm". Eles competem com Jordy Smith (África do Sul) e Kolohe Andino (EUA) pelo troféu no Pipe Masters, última etapa do ano que começa neste domingo, no Havaí, com transmissão da ESPN.
A excelente geração de atletas no surfe está colocando o esporte em evidência cada vez mais no Brasil. Só que esse domínio não ocorre apenas pelo talento dos surfistas e sim por uma combinação de fatores. O Brasil tem extensa faixa litorânea, o custo para a prática não é alto, a estrutura de competição para jovens talentos é boa em relação a outros países, existem ídolos na modalidade, grandes marcas estão patrocinando o esporte, houve profissionalização na carreira dos principais atletas e, por último, o surfe entrou no programa olímpico.
Esse sucesso trouxe também para o surfe empresas que pouco tempo atrás não faziam parte desse mundo. Uma das pioneiras foi a Oi, de telefonia, que agora investe em atletas, banca os “naming rights” da etapa brasileira do Circuito Mundial e promove eventos de base. "Quando uma marca como a Oi, que não é endêmica desse mercado, investe desse jeito no surfe, obviamente isso chama atenção de outras marcas. Esse movimento da Oi estimula que outras empresas invistam cada vez mais no esporte", explica Bruno Cremona, gerente de eventos e patrocínios da Oi.
Quando ele fala de uma marca "não endêmica" ele se refere a empresas que inicialmente não faziam parte do mundo do surfe, que girava em torno de algumas marcas tradicionais como Billabong, Quiksilver, Rip Curl e Hang Loose, entre outras. Outro dado interessante é que o surfe é transmitido principalmente via streaming, pois as competições só ocorrem se o mar estiver em boas condições. Com isso, a Oi aproveita para reforçar sua estrutura de telefonia e dados aos fãs.
O Bradesco, por sua vez, apostou em Gabriel Medina como garoto-propaganda. "Ele tem níveis incríveis de recall e admiração em públicos variados e nos permite gerar conversas interessantes para a marca e para a sociedade. Sua trajetória vitoriosa de disciplina e persistência inspira a todos, em especial o público mais jovem como ele, de uma geração hiperconectada, criativa e extremamente digital. A parceria tem total sinergia com o momento da marca", diz Márcio Parizotto, diretor de marketing do banco, lembrando ainda que existe patrocínio a Sophia Medina, irmã do bicampeão mundial, e ao IGM, o instituto criado pelo surfista para formar atletas.
Quem também dropou nessa onda foi a Jeep, que desde 2015 patrocina a WSL (Liga Mundial de Surfe) e a cada ano vem reforçando essa parceria. "A marca se apoia em quatro pilares principais (Aventura, Autenticidade, Paixão e Liberdade), por isso, se aproximar de um esporte que também tem a sua base nestes pilares sempre foi um caminho natural", conta Frederico Battaglia, diretor de marketing para a América Latina do Grupo Fiat Chrysler.
A Jeep também patrocina surfistas, entre eles Filipe Toledo, que traz a marca colada em sua prancha. "Isso faz parte de uma estratégia da marca para se conectar com a base de fãs de todo mundo que abraçam o estilo de vida radical e se preocupam tanto com o meio ambiente quanto com a sociedade que os rodeia", continua Battaglia.
Gestão. Medina tem sua carreira gerenciada pela empresa Go4It. Essa é uma tendência que chegou ao surfe para ficar. Segundo Felipe Stanford, diretor de parcerias globais e atletas da empresa, boa parte dos surfistas da elite mundial conta com uma pessoa que faz toda a gestão de carreira e marca.
"O Gabriel Medina virou sinônimo de alta performance e inovação em função de tudo que faz sobre a prancha. Além disso, ele é jovem, carismático e muito ligado à família. Todas essas características fazem dele único no universo de surfe e levam ele a ter uma legião de fãs nas redes sociais", diz, citando os mais de 8 milhões de seguidores no Instagram.
Felipe Borges, diretor de patrocínio da G8 Sports e que cuida da carreira de Adriano de Souza, Tatiana Weston-Webb e Silvana Lima, entre outros, relaciona muitas dessas mudanças ao desejo de ter o estilo de vida dos atletas. "Antes o surfista batia o escanteio e tinha de correr para cabecear. Ele era conceituado como o cara que não queria nada com a vida e o esporte ficava preso naquele nicho. Mas muita coisa mudou e hoje ele é o exemplo da geração saúde, que não sai à noite, tem alimentação saudável e que muitos jovens querem ser", explica.
Para os próximos anos, a tendência é de aumentar o crescimento. Alfio Lagnado, proprietário da Hang Loose, acompanha esse mercado desde cedo. Sua empresa sempre foi ligada ao surfe, ele patrocina eventos e vê enorme potencial no esporte. "O Brasil se tornou protagonista com vários títulos mundiais e tem chances reais de medalha na Olimpíada. O surfe traz uma associação com juventude, saúde e harmonia com a natureza, ou seja, valores que toda grande marca quer se associar", afirma.
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