Não são somente os fãs que tentam se aproximar de João Fonseca. Desde que se tornou famoso em nível nacional, neste início de ano, o tenista de apenas 18 anos se tornou alvo de empresas, candidatos a patrocinadores e convites de todos os tipos. Quase todos são recusados por Gustavo Abreu, responsável por gerir a carreira do atleta. “Muitos não entendem que o João não é um influenciador, é um atleta de alto rendimento”, diz o agente do tenista ao Estadão.
É neste tom que Guga, como é mais conhecido, toma as principais decisões relativas à nova estrela do esporte nacional. Ele deixa claro que, apesar de todo o apelo gerado por Fonseca nas últimas semanas, nada vai mudar na forma como sua carreira é administrada. “100% das decisões privilegiam o resultado esportivo. Tudo na carreira do João até aqui tem apenas uma prioridade: colocar ele lá no topo.”
Agente e amigo da família do atleta, Guga reconhece que o furor causado por Fonseca surpreendeu a todos ao redor do tenista. Mas só fez a gestão reforçar a cautela e o pé no chão. “Não vamos transformar o João num fenômeno de marketing ou comercial antes de ele virar um fenômeno esportivo. Quero que essas coisas andem juntas. Tudo o que ele conquistou até agora é espetacular, mas é relativo. É espetacular porque ele tem 18 anos. Se tivesse 30 anos com essa carreira, seria legal, mas não seria espetacular”, analisa.
“Se eu quiser transformar o João em um fenômeno comercial, é razoavelmente fácil. É só aceitar todos os patrocínios e convites. Mas não vamos fazer isso. Nosso time é muito alinhado, pensamos exatamente a mesma coisa. Quando ele estiver lá em cima, aí sim isso será inevitável”, pondera o agente.
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Nas últimas semanas, Fonseca foi alvo de convites dos mais diversos, até mesmo para fazer palestras, com apenas 18 anos. “Tem muita demanda para o João estar presente em algum lugar ou evento. Fazer ensaio de fotos, palestra. Tem demanda de tudo o que você pode imaginar. Até convite para carnaval, declinado, claro”, conta Guga Abreu. “Não vou fazer o João pegar um avião para ir a um evento em São Paulo, por exemplo. Se ele fizer isso, vai estar deixando de dormir na hora certa. A prioridade total é o esporte.”
De olho nos resultados esportivos do jovem brasileiro, o gestor prioriza escolhas técnicas do treinador Guilherme Teixeira em detrimento de eventuais premiações e cachês. “Se numa semana tem dois ATPs 500 e um paga muito para o João, perguntamos ao Gui: qual é o que você prefere? ‘Ah, queremos esse porque a altitude é menor’. Então será esse.”
Gestão inovadora na carreira de João Fonseca
A carreira de Fonseca conta com uma gestão incomum no mundo do tênis. Via de regra, os tenistas assinam contratos com agências especializadas. A mais famosa do mundo é a americana IMG, que já contou com estrelas como o suíço Roger Federer e a russa Maria Sharapova.
A empresa, constituída para gerir os direitos de imagem do jovem carioca, é encabeçada pelo próprio Abreu, economista com longa experiência no mercado financeiro e amigo da família de Fonseca desde a infância. Ele coordena uma equipe de seis pessoas, sem incluir o time técnico do tenista, liderado por Guilherme Teixeira, com preparador físico e fisioterapeuta.
“Nunca pensamos em criar um formato novo. Na verdade, existem vários formatos, desde a agência full service, até outros, mais simples”, explica Abreu. No ano passado, Fonseca recebeu propostas de agências, incluindo a IMG. A ideia, contudo, não foi totalmente descartada para o futuro. “Conversamos com todo mundo. Não temos preconceito com nenhuma ideia. Vamos fazer o que for melhor para o João. Se ficar claro que o melhor é uma agência, eu vou para a arquibancada feliz.”
Fonseca já teve seu nome ligado à TEAM8, agência fundada pelo próprio Federer e pelo americano Tony Godsick, ex-empresário do suíço. Em contato com o Estadão, Godsick negou qualquer proposta formal ao tenista. Mas não poupou o atleta brasileiro de elogios.
“Conheço os pais de João há alguns anos. Crico (Christiano Fonseca, pai do tenista) e eu temos mantido um forte relacionamento ao longo dos anos. Tenho muito respeito pelo incrível talento de João e realmente acredito que ele é um jogador único em uma geração, um grande talento e tem todos os atributos para se tornar um superstar global”, afirmou o americano à reportagem.
Quem são os patrocinadores de João Fonseca
Atualmente, Fonseca conta com quatro patrocinadores, todos de peso no circuito: XP, Rolex, Yonex e ON. A lista, contudo, poderia ser bem maior. “Muitas empresas nos procuram para parcerias, permutas e trocas. Não vamos fazer isso. Queremos grandes marcas, empresas que têm a ver com o João, contratos que criem um relacionamento. E eu preciso ter certeza de que, ao adicionar essa empresa, eu não vou atrapalhar o João.”
Abreu reforça que o principal “pilar” da gestão da carreira é “evitar muitos compromissos” fora de quadra. “Sem isso, ele não chega onde queremos que chegue.” O agente diz que os atuais patrocinadores compreendem a situação. “Claro que tem contrapartidas nos contratos e eu preciso me certificar de que essas contrapartidas não influenciam na rotina dele.”
‘João Fonseca é como se fosse uma Startup’
Aos 18 anos, Fonseca vive situação rara no tênis nacional. Com seus apoios, já consegue se bancar com tranquilidade no circuito. A maioria dos brasileiros só consegue tal feito após títulos e, geralmente, uma posição dentro do Top 50 do ranking - João tem apenas um troféu de nível ATP e é o 60º do mundo.
Abreu afirma ter ciência sobre o caso raro que tem em mãos. E compara a situação com uma Startup. “Os patrocinadores não refletem a posição dele no ranking. E, sim, as expectativas que todos têm sobre a posição que ele vai ocupar. É como se fosse uma Startup. Na verdade, os patrocinadores estão antecipando que esse garoto pode se tornar um grandíssimo jogador no futuro. Então, tem valor. Se ele tivesse os mesmos resultados e com 23 anos, os valores seriam muito menores.”
Uma das empresas que decidiu apostar em Fonseca é a XP, também do mercado financeiro. “Quando o vi em quadra, algo me chamou atenção imediatamente. Ele não era apenas talentoso tecnicamente, mas tinha uma postura e um olhar diferentes. Era o olhar de quem pretende fazer história”, diz Guilherme Benchimol, fundador e presidente executivo do Conselho de Administração da XP Inc., em entrevista ao Estadão.
Fã de tênis, Benchimol viu Fonseca pela primeira vez em quadra na chave juvenil de Wimbledon, em 2023. “A decisão de patrocinar o João foi muito mais do que apenas um investimento em um atleta promissor. Foi uma conexão genuína com sua história e com os valores que ele representa. Desde o primeiro momento, me identifiquei com a trajetória dele”, afirmou. “Ele é jovem, talentoso e tem a ambição de enfrentar os maiores do mundo. Além disso, a forma como ele encara sua carreira, com profissionalismo e mentalidade de longo prazo, está completamente alinhada com o que acreditamos na XP.”
