Os vestiários de Roland Garros têm sido palco de risos, lágrimas e muito nervosismo. As lendárias portas de madeira dos armários, que sobreviveram às várias renovações, não podem contar histórias, mas Stéphan Brun, coordenador de relações com jogadores da Federação Francesa de Ténis (FFT), pode.
Os vestiários da quadra central de Roland Garros, o Philippe Chatrier, foram construídos em 1928 e reformados em 2020, junto com as arquibancadas. Mas, de comum acordo com os jogadores, as portas de madeira dos armários foram preservadas, prolongando a memória de momentos únicos.
Porém, uma anomalia atrapalha a numeração dos armários do vestiário feminino: depois do vestiário 18, em vez do 19, passa o 18 bis.
Isso porque o 19 era o armário da campeã alemã Steffi Graf e, durante uma cerimônia em sua homenagem no Madison Square Garden, em Nova York, em 1999, poucos meses após sua aposentadoria, a porta deste “lembrança”.
Leia também
Reis e presidentes à espera
Alguns tenistas, como Novak Djokovic ou Rafael Nadal, preferem pedir uma área no vestiário e não tanto um número específico, tendo direito a dois armários como os demais grandes jogadores.
Outros, porém, como Diego Schwartzman, têm um número da sorte. Certa vez, o argentino conseguiu desbancar um jogador que havia chegado antes dele e que ficado com o número 52, seu favorito. Depois de pedir desculpas, o jogador explicou que “não poderia jogar se não tivesse o 52″, lembra Stéphan Brun.
O acesso de visitantes ocasionais aos vestiários, mesmo os mais famosos ou poderosos, está sujeito à vontade dos próprios jogadores. Muitos nem imaginam entrar por iniciativa própria “por respeito”, diz Brun. Assim, os campeões mundiais de futebol, os pilotos de Fórmula 1, Usain Bolt ou o cantor Prince, tiveram de esperar em frente à porta até que Nadal lhes desse luz verde para entrar ou sair.
“Quando Rafa vence e o rei de Espanha está aqui, o monarca nunca se permitiria entrar no vestiário, o encontro acontece entre os dois vestiários” masculino e feminino, diz Brun.
Ele também lembra como ninguém se atreveu a perguntar a André Agassi se ele aceitou a visita do ex-presidente Bill Clinton para confortá-lo após a derrota do americano nas quartas de final para Sebastien Grosjean, em 2001. “Sua comitiva me disse que não valia a pena” perguntar, lembra Brun, recordando que Agassi liderava o placar por 2 sets a 0 até Clinton subir às arquibancadas...
Atmosfera mais aconchegante
Brun também se lembra de momentos emocionantes, como quando Roger Federer comemorou sua única vitória em Paris em 2009: “Parecia que ele tinha acabado de ganhar seu primeiro Grand Slam quando já tinha 14 anos”.
O estresse também é palpável nos jogadores que chegam pela primeira vez à Capela Sistina do tênis: para eles, “é um choque”, diz Brun. Há vários anos que o ambiente no vestiário se tornou um pouco mais acolhedor: os espanhóis têm tendência a “falar alto”, mas assim que percebem que um jogador está concentrado prestam atenção, revela Brun.
E Djokovic deu uma volta pelo vestiário após a vitória no ano passado para ter certeza de que o finalista não estava, antes de comemorar o título com seu time. Mas também há momentos do passado que Brun prefere não revelar: “Não sei dizer quem fumava cigarros... Aconteceram muitas coisas nesses vestiários, foi divertido”, conclui sem revelar mais alguma pista.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.