Após ter alcançado campanha histórica em Roland Garros, na França, Bia Haddad se animou e animou o Brasil na disputa também do mais tradicional dos Grand Slams. O Torneio de Wimbledon começou segunda-feira passada, em Londres. Bia sabia que não seriam apenas as rivais que teria de desafiar. A número 1 do Brasil tentou mais uma vez superar os problemas físicos que vinha colocando em risco sua carreira desde o início de sua trajetória entre os profissionais. Nesta segunda, ela não resistiu às dores nas costas (lombar) e abandou jogo das oitavas de final diante da casaque Elena Rybakina, atual campeã do torneio britânico.
Em 12 anos de atividade no circuito, a brasileira sofreu sete lesões mais preocupantes. Foram quatro cirurgias neste período, algumas delicadas, que colocaram em risco a sua carreira no esporte. O problema mais recente aconteceu logo em seu primeiro jogo após a semifinal de Roland Garros, quando se tornou a primeira brasileira a alcançar tal fase na era Aberta do tênis, iniciada em 1968.
Na grama do Torneio de Nottingham, a brasileira sofreu um escorregão numa troca de bola e começou a sentir dores musculares na parte de trás do joelho direito. Por precaução, desistiu de competir em Birmingham dias depois. Nesta semana, abandonou sua segunda partida em Eastbourne, também na Inglaterra, por causa das mesmas dores. “A lesão está controlada, evoluiu, mas ainda me incomoda, e pode levar meses para sarar completamente”, afirmou a tenista.
Bia chegou a Wimbledon com apenas duas partidas completas sobre a grama neste ano, sendo uma delas com vitória. Além disso, perdeu dias seguidos de treino em razão de dores e sessões de fisioterapia. A situação pouco favorável podia até reduzir as chances da brasileira na grama de Londres. Por outro lado, é certo que Bia já se acostumou a superar desconfortos físicos de todos os tipos no circuito, quase uma rotina para a atleta de 27 anos.
Seus primeiros desafios físicos vieram em 2013. Em Campinas (SP), num torneio de nível ITF, sofreu uma queda em quadra no saibro e machucou o ombro direito. Foram pouco mais de dois meses de afastamento. Logo ao voltar ao circuito, em outro ITF, desta vez nos Estados Unidos, teve seu primeiro caso de hérnia de disco, algo que enfrentaria em outros anos.
Na ocasião, o susto foi grande. A hérnia afetou a sensibilidade nas pernas da tenista, com apenas 17 anos, na época. Sua primeira grande cirurgia resolveu o problema. Mais quatro meses de afastamento longe das quadras. A temporada 2014 foi de recuperar o terreno perdido no circuito da ITF, já vislumbrando a transição para a WTA, a elite do tênis feminino.
Bia crescia no ranking, passava a desafiar rivais de maior peso no circuito, inclusive no Rio Open. Começava a confirmar as expectativas criadas sobre o seu tênis desde os tempos de juvenil. Até que durante os Jogos Pan-Americanos de Toronto, no Canadá, as dores naquele mesmo ombro direito voltaram. E, desta vez, uma operação era necessária. A temporada precisou ser finalizada em julho.
Seis meses depois, retomava a tarefa de “subir a montanha” do circuito. Nova ascensão no ranking e foco nos torneios da WTA. Ela emplacou boa sequência de torneios em 2016. Nas férias, porém, fraturou três vértebras num acidente doméstico, no fim de dezembro. Perdeu o mês de janeiro de 2017, em recuperação. Mas ganhou fôlego ao longo do ano, até então o seu melhor como profissional. A ausência de problemas físicos naquela temporada até surpreendia a tenista. “É o primeiro ano que termino sem problemas físicos”, destacou Bia ao Estadão, na época.
Em 2018, um novo problema de hérnia de disco fez a atleta necessitar de mais um procedimento cirúrgico. Ela não pisou em quadra durante três meses. A retomada em 2019 veio com força, com direito a vitória sobre a espanhola Garbiñe Muguruza, campeã de Grand Slam, em Wimbledon. Porém, novo revés atrapalhou a carreira da brasileira. Uma suspensão por doping, que ela conseguiu provar ter sido não intencional, e a pandemia praticamente anularam a temporada 2020 da tenista.
Ao retornar, no fim do ano, teve diagnosticado um tumor benigno no dedo médio da mão esquerda. Mais três meses de afastamento. Desde então, Bia vem embalando no circuito, entre vitórias sobre tenistas do Top 10, novos recordes para o tênis brasileiro no próprio ranking e ascensão incontestável, culminando nas atuações de brilho em Roland Garros, neste ano.
Ao mesmo tempo, vem exibindo visível maturidade após cada revés. A cada lesão, Bia vem mostrando tênis mais sólido e maior força mental em meio aos jogos. “A gente sabia que ela iria vingar. Mas aí ela se machucava. Ficava me perguntando: ‘quando ela vai acontecer?’ Eu sempre dizia que ela precisaria jogar uns dois ou três anos seguidos sem ter nenhum tipo de intervenção para virar Top 30 do mundo”, disse Gustavo Kuerten ao Estadão, no ano passado. Em Londres, ela fez partidas longas e teve de virar algumas delas após perder o primeiro set. Isso ajudou a desgastá-la. Ela chorou ao anunciar seu abandono. Foi abraçada pela adversária.
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