Ao eliminar a espanhola Sara Sorribes Tormo por 2 sets a 1 nesta segunda-feira em Paris, com parciais de 6/7, 6/3 e 7/5, Bia Haddad Maia continua trilhando sua trajetória de sucesso no tênis. Ela igualou o feito de Maria Esther Bueno, referência da modalidade feminina no País, e é primeira brasileira a avançar às quartas de final de Roland Garros desde 1968. Número 14 do mundo, Bia pode sonhar com o top 10 do ranking feminino da WTA. Precisa de mais uma vitória para chegar lá.
Bia se profissionalizou em 2010. Ela tem 1m85m de altura e é canhota. Tem 27 anos, portanto, algumas boas temporadas para conseguir dar seus passos no tênis e se manter competitiva. Ela é de São Paulo.
“Primeiro de tudo, gostaria de agradecer a todos que vieram me apoiar, os brasileiros que vieram”, afirmou a tenista em entrevista logo após a classificação às quartas de final. “Não é apenas sobre tênis, muita coisa vem na minha cabeça. Estou muito feliz que eu não desisti e fui até o meui limite.” Além da marca de Maria Esther, a brasileira é a primeira, tanto no masculino quanto no feminino, a chegar a esse estágio da competição desde Guga, em 2004.
A alta expectativa sobre Bia não é descabida. O resultado desta segunda faz com que Bia continue se provando no cenário mundial. Nas duplas, ela já havia alcançado a final do Aberto da Austrália, no último ano, e conquistado títulos no circuito da WTA. Em maio, chegou ao top 10 da categoria, tornando-se a sétima tenista brasileira a alcançar o feito em duplas.
“As meninas e as jovens que acreditam e sonham estão vendo que é possível (se destacar no circuito). Se a gente está lá hoje, em quatro ou cinco meninas, é porque esse caminho é possível. Estamos abrindo portas para as novas gerações”, afirmou Bia, em entrevista no último ano. Laura Pigossi e Luisa Stefani, medalhistas olímpicas nas duplas em Tóquio, são outras tenistas brasileiras que se destacam junto a ela na escala mundial.
No profissional, Bia soube tomar boas decisões quanto a treinadores e atualmente colhe os frutos deste aprendizado. É quase uma regra ouvir a tenista elogiar Rafael Paciaroni, seu técnico, em suas entrevistas. Isso faz com que Bia Haddad seja a tenista mais bem preparada do Brasil desde Maria Esther Bueno, única a levantar troféus de Grand Slam em simples na história do esporte brasileiro.
Bia sonha com esse feito. No circuito WTA, conquistou o título de simples no Aberto de Saint Malo, em 2022. Resta repetir seu desempenho em Grand Slams – o que pode acontecer já neste Roland Garros, em Paris. A brasileira enfrentará a tunisiana Ons Jabeur, número 7 do ranking.
“O momento do tênis feminino (brasileiro) é especial e cada um tem sua responsabilidade na sua área, fazendo o seu melhor em prol do tênis. Estou tentando fazer a minha parte e, se cada uma puxar a outra para cima, seremos melhores sempre”, disse ao longo de sua temporada passada. É fato que 2022 foi a melhor temporada de sua carreira, mas Bia almeja voos mais altos. Seu desempenho na França pode ajudá-la nessa caminhada.
“Minha meta agora é ser Top 10. Este é o meu objetivo e estou trabalhado bastante para alcançá-lo”, declarou a tenista, que admite sonhar também com a medalha olímpica nos Jogos de Paris, em 2024. “Sei que há muita coisa para melhorar. acredito que tudo nasce conforme a gente planta. No que estiver no meu controle, gostaria de ajudar nessa transformação do tênis feminino”, afirmou.
Obstáculos superados
Com sua nova equipe, formada aos poucos em meio à pandemia da covid-19, Bia superou o grande obstáculo de sua carreira: as lesões. Desde que despontou no circuito, os problemas físicos são a única constante. Foram cirurgias no ombro e nas costas, fratura no braço, acidente doméstico e até um tumor benigno na mão esquerda.
Essa rotina de lesões começou a mudar em 2021, em seu retorno ao circuito após cumprir suspensão por doping. Mais madura, começou a entender melhor o seu corpo e estabeleceu como prioridade o bem-estar físico e a regularidade. Naquele ano, emplacou uma série de 21 torneios seguidos, sem qualquer interrupção por lesão, algo raro em sua carreira. Em 2022, viveu sua primeira temporada sem qualquer problema físico.
O crescimento técnico ficou escancarado ainda dois anos atrás, quando exibiu uma sequência de dez finais e nove títulos em poucos meses, ainda que em torneios menores do circuito. Ela jogava o que acreditava ser o seu melhor tênis. Até iniciar a temporada 2022. Bia foi vice-campeã de duplas no Aberto da Austrália, um feito histórico para o tênis feminino e um aperitivo do que viria pela frente.
Foram dois títulos e três finais de nível WTA. Curiosamente, os troféus vieram na grama, superfície onde Maria Esther brilhou com regularidade. Teve ainda um título e um vice nas duplas. Como consequência, disparou nos dois rankings. Em simples, fez história com a melhor colocação de uma brasileira - não havia essa lista na época de Maria Esther. Chegou ao 15º posto, que ainda sustenta. Nas duplas, atingiu o 12º lugar então.
Diante da evolução gradual ao longo dos anos, a boa performance em 2021 faz 2022 parecer um ensaio do que está por vir nesta temporada. Até mesmo Guga Kuerten previu a ascensão da compatriota. “A Bia é uma menina que a gente sabia que iria vingar. Eu sempre dizia que ela precisaria jogar uns dois, três anos seguidos sem ter nenhum tipo de intervenção...”, afirmou o ex-número 1 do mundo ao Estadão em 2022.
O próprio Guga é a referência para avaliar o crescimento de Bia. Sua temporada 2022, em termos de conquistas e subida no ranking, só se compara a 2001, segundo melhor ano da carreira do tricampeão de Roland Garros.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.