Diretor do Rio Open fala de Fonsecamania, mudança de data do torneio, ameaça saudita e futuro WTA

Lui Carvalho, diretor do maior torneio da América Latina, disse considerar tirar a competição do Jockey Clube no RJ após sucesso de vendas e de João Fonseca

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Foto do author Felipe Rosa Mendes
Atualização:
Foto: Joao Pires/Fotojump
Entrevista comLui CarvalhoDiretor do Rio Open

Cada vez maior, o Rio Open sofreu um teste de estresse em sua 11ª edição. O torneio de nível ATP 500 viveu nesta semana a chamada Fonsecamania, a veloz ascensão do jovem João Fonseca ao status de ídolo nacional. O carioca de 18 anos causou um alvoroço no Jockey Club Brasileiro nos dois primeiros dias de competição. E escancarou uma situação cada vez mais visível: o hipódromo está ficando pequeno para o grande evento de tênis.

A conclusão também é compartilhada por Luiz Carvalho, diretor do Rio Open. Em entrevista ao Estadão, ele admitiu que avalia alternativas para sediar o torneio nos próximos anos. Mas faz questão de destacar que o crescimento do torneio neste ano não tem relação direta com a Fonsecamania, que assustou Carvalho, apesar de toda sua experiência com o mundo do tênis e seus novos ídolos.

Rio Open pode mudar de local após Jockey Clube ficar 'pequeno' para magnitude do torneio e suas estrelas Foto: PEDRO KIRILOS

Lui, como é mais conhecido, também reconheceu que a competição poderá mudar de data diante da crescente influência da Arábia Saudita no mundo do tênis. O país do Oriente Médio pode sediar um Masters 1000 na mesma época do ano do Rio Open. E a oficialização parece próxima, segundo o próprio diretor do torneio brasileiro, conhecido pelo fácil trânsito pelos bastidores do tênis mundial. O brasileiro também é diretor dos Torneios de Hong Kong e Chengdu, ambos na China - já foi o principal gestor do tradicional Queen’s, na Inglaterra.

Lui também fez uma revelação importante sobre o sonhado retorno do torneio feminino, da WTA, que já foi disputado junto com o Rio Open no mesmo Jockey Club Brasileiro, na década passada. Ao Estadão, ele disse que o acerto está próximo e a competição poderá ser realizada novamente em solo nacional em 2026.

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Confira os principais trechos da entrevista:

A Fonsecamania te assustou?

A resposta é sim e não. Dois anos atrás, quando ele jogou aqui pela primeira vez, já dava para ver que ele era diferenciado. Não só pelo jogo em si, que é absurdo, mas porque tem um carisma que só dá para comparar com o de Guga. Não é uma coisa forçada. Ele tem aquele sotaque carioca que faz ele ficar ainda mais ‘likeable’. Está sempre de semblante calmo, parece que nunca está com pressa ou nervoso. Tudo aconteceu muito rápido e isso me assustou. Mas, ao mesmo tempo, trabalhamos a vida inteira para isso, né? Eu falo que ele é a ‘geração Rio Open’, um dos garotos que se manteve no esporte por causa do Rio Open.

Você precisou reforçar a segurança do Fonseca no início da competição?

Sim, achamos que cinco pessoas dariam conta. Mas não deram. Era muita criança, né? Tivemos que tomar ainda mais cuidado, com todo um treinamento específico. Antes do João chegar, conversamos com todos os seguranças sobre essa situação, com muita criança ao redor dele. O João sofre de um problema bom: ele é muito acessível, é um garoto quer tirar foto, quer parar para atender a todos. Por isso, eu aloquei mais pessoas para fazer a segurança dele.

A presença do jovem tenista ajudou a fazer o evento crescer neste ano?

Acho que todo esse movimento que está acontecendo com o tênis é pré-João Fonseca. Não para tirar o mérito dele. Mas já vínhamos esgotando os ingressos nos últimos anos. O que aconteceu pós-João Fonseca é que a procura ficou ainda maior. As pessoas agora querem ainda mais, mas todo o sucesso do evento em relação a marcas parceiras, um recorde de 40 marcas parceiras, pré-João Fonseca. Acredito que a gente vai realmente entender a contribuição dele no ciclo de 2026.

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Como o torneio está crescendo neste ano?

O que fizemos para esse ano para atender essa demanda maior é colocar mais equipe para atender a todos numa qualidade excelente. O nível de qualidade tem que ser incrível ou excelente o tempo inteiro, não abrimos mão disso. Reforçamos segurança e limpeza, por exemplo. Em todas as áreas praticamente teve um reforço de pessoas. O número de funcionários aumentou, dependendo da área entre 20 e 50%. A área de segurança foi uma das que mais foi reforçada, com aumento de 30 a 35% em relação a 2024.

Está faltando espaço para o Rio Open?

Obviamente, estamos fisicamente restritos, não conseguimos crescer fisicamente. Apenas para cima, com contêineres de dois andares, porque já não tem mais espaço físico. Eu recebo muitos questionamentos de quadra, porque você não cresce a quadra, porque de fato, fisicamente, não tem mais como crescer. E tem um ponto importante: se aumentar o número de quadras, precisa crescer também os espaços de serviço, precisa ter mais banheiro, mais concessionárias, mais espaço maior do pórtico de tiqueteira, mais gente entrando e saindo, mais segurança. Isso exponencializa tudo.

O Jockey Club ficou pequeno demais para o Rio Open?

Esse é um desafio nosso, estamos conversando sobre isso há um tempo. Até porque, os ingressos estão sempre esgotados, vemos que existe demanda para mais. Somos muito cautelosos e não queremos aumentar o valor, queremos que o evento seja acessível a todos. No momento a gente está em várias discussões com várias opções. Vamos entender o que podemos fazer. Não é uma coisa da noite para o dia, porque o evento é grande e estamos dentro de um clube privado. O que podemos falar é que não estamos parados, não estamos de olhos fechados. Estamos entendendo o mercado. Queremos oferecer experiência real para mais pessoas, esse é o nosso objetivo. Se 65.000 pessoas passam por aqui, gostaríamos que fossem 100 mil.

O local do Rio Open já poderia mudar para 2026?

Para o ano que vem, é difícil que tenha mudança. Não descartamos nada, mas não deve ser para o ano que vem. Não é um movimento simples. Somos muito cautelosos nestas mudanças. Mas reconhecemos que existe a necessidade para tanto.

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As desistências de Holger Rune e Lorenzo Musetti, duas das principais atrações do Rio Open, te decepcionaram?

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São coisas que acontecem, né? Trabalhamos no lineup por dois ou três anos, sempre olhando para a frente. Então, eu fiquei chateado obviamente porque é uma das partes principais do torneio que gostamos de oferecer ao público. Gerou uma frustração, não é uma coisa que a gente gosta de saber. O Musetti está aqui até sexta para fazer tratamento. É uma lesão legítima, ele mostrou até a imagem da ressonância para nós. E o Rune teve essa questão física em Buenos Aires e acabou nem conseguindo vir. Faz parte do risco que a gente corre quando a gente contrata os jogadores.

A Arábia Saudita está perto de criar um torneio de nível Masters 1000 e a data poderia coincidir com o Rio Open. Isso te preocupa?

Estamos super envolvidos em todas as negociações, em todas as discussões. Existe um entendimento muito claro da ATP de que, em caso de qualquer movimento de data, eles vão nos posicionar num espaço do calendário no qual a gente possa, entre aspas, sobreviver. No sentido de ter uma semana que dá para atrair os atletas. Existem agora centenas de cenários diferentes, diferentes opções de calendário. Se você mexe numa pecinha, mexe em tudo. E podem afetar também o circuito feminino. É tudo muito interconectado. Mas eu estou com boas perspectivas.

O Rio Open poderá ser prejudicado por esse movimento dos sauditas?

Estou 100% a par de tudo para ter certeza de que não seremos desfavorecidos em qualquer tipo de negociação de calendário. A vantagem do Rio Open é que pode entrar em qualquer ponto da temporada porque aqui faz tempo bom o ano todo. Conversei com um dos funcionários da ATP nesta semana e ele me falou para ficar tranquilo porque a entidade não vai deixar o Rio Open morrer.

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Quando teremos o retorno do WTA ao Brasil?

Continuamos trabalhando duríssimo nesse projeto. Ainda temos alguns passos para concluir essa operação. O que posso dizer é que a oportunidade está muito perto. Ainda não está concluído. Seria um sonho retomar aquela data (que já pertenceu ao Rio Open, mas foi negociada na década passada). Esse é um projeto muito importante para mim. Até prometi à Bia (Haddad Maia) que ela jogaria um dia de novo num WTA no Brasil antes de encerrar a carreira. Acredito que estamos próximos do acerto.

O retorno seria realizado no Rio ou em São Paulo?

Seria um torneio de nível WTA 250, em local ainda a definir. Nosso mercado é o Brasil. E seria em quadra dura. Estamos trabalhando com várias opções, por isso não posso bater o martelo. Tem chance de voltar já no ano que vem. A data atual deste torneio feminino é logo depois do US Open, uma data boa. Mas a WTA pode realocar a competição em outra data, como a entidade achar melhor. Mas eu mesmo faço parte do Conselho da WTA e temos habilidade para fazer qualquer tipo de movimentação. Não para benefício próprio, mas para benefício do calendário.

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