Análise | ‘Guga por Kuerten’ escancara espírito de campeão, mas documentário peca pela superficialidade

Documentário do Disney+ estreia no dia 10 de setembro e reforça a potência mental de um dos maiores atletas da história brasileira

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Foto do author Felipe Rosa Mendes

Imagine estar a apenas um ponto de sofrer uma das mais duras derrotas de sua carreira num dos palcos mais importantes da história do tênis mundial. Gustavo Kuerten viveu essa experiência em 2001, quando era favorito a conquistar o tricampeonato de Roland Garros. Ele sabia que a eliminação estava próxima, mas pensou que um vacilo do rival seria o suficiente para buscar a monumental virada. E foi assim que aconteceu.

Esse pensamento confiante e vitorioso, tão próprio dos grandes campeões, é o principal achado da série documental “Guga por Kuerten”, a estrear no streaming Disney+ no dia 10. Em tempos de discussões sobre força e saúde mentais no esporte, a obra revela toda a potência mental de um dos maiores atletas da história brasileira em cinco episódios que poderiam ser mais longos e aprofundados.

Guga foi o principal representante do Brasil no tênis masculino. Foto: Fabio Motta/Estadão

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Hoje com 47 anos, o catarinense revê sua carreira nas quadras com bom distanciamento e a maturidade que sempre o acompanhou. A cada episódio, Guga escancara a confiança elevada que resultava num espírito de campeão, antes mesmo de levantar seu primeiro troféu da carreira.

Do documentário desponta um tenista que tinha total ciência da sua capacidade e da sua superioridade técnica diante de alguns dos grandes campeões da sua geração. Uma autoestima que não incorria em arrogância, desvio recorrente no mundo do tênis, porém sem perder a competitividade e a agressividade do seu estilo de jogo.

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Amado pela torcida, o brasileiro também conquistava os rivais. Um dos pontos altos do documentário é o depoimento de personagens importantes na trajetória de Guga, como os russos Evgeni Kafelnikov e Marat Safin e o espanhol Alex Corretja. O suíço Roger Federer, o espanhol Rafael Nadal e o sérvio Novak Djokovic também aparecem e são a cereja do bolo entre as participações especiais na obra.

A cada episódio, Guga surpreende ao lembrar com detalhes do que sentiu e viu em quadra em cada partida. Recorda suas estratégias e o que projetava para cada adversário, exibindo uma inteligência emocional acima da média para um atleta de 20 e poucos anos, na época do seu auge nas quadras.

Os depoimentos sinceros do catarinense contrastam com a superficialidade do documentário ao falar dos dramas vividos por sua família, principalmente no início da carreira. Os grandes desafios atravessam a tela rapidamente nos primeiros minutos da série, que logo adentra a campanha inesperada do tenista em Roland Garros em 1997, quando foi campeão mesmo sendo um tanto desconhecido na elite do tênis mundial.

O documentário foca sua atenção nos resultados, passando ao largo da vida pós-carreira, com filhos, família, instituto e problemas físicos, aqueles mesmos que encerraram sua trajetória precocemente e deixaram algumas sequelas. Mesmo quanto aos resultados dentro de quadra, faltaram informações importantes, justamente na incrível virada sobre o azarão americano Michael Russell, aquele mesmo que quase acabou com a campanha de Guga na edição de 2001 de Roland Garros, citado no início deste texto - o catarinense venceu por 3 sets a 2 após estar perdendo por 2 a 0, com um match point contra, nas oitavas de final.

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Em ritmo ainda mais acelerado, o último episódio tenta amarrar todas as pontas que ficaram soltas, sem apresentar o verdadeiro tamanho do ídolo, um dos maiores do esporte brasileiro, presente na mesma prateleira de Pelé e Ayrton Senna.

Análise por Felipe Rosa Mendes

Jornalista natural de Florianópolis (SC), formado pela UFSC. Repórter de Esportes do Grupo Estado desde 2008. Já cobriu Copa do Mundo, Roland Garros e GPs de Fórmula 1 e da Fórmula E in loco. Integrou a 18ª turma do Curso Intensivo de Jornalismo Aplicado do Estadão e o 6º Curso de Jornalismo Econômico do Estadão em parceria com a FGV.

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