João Fonseca pode ser o próximo grande sucesso e joga melhor do que sugere sua idade

Enquanto jogador de tênis, o brasileiro também é adolescente. Seu maior desafio é consistência: descobrir como vencer quando não está no seu melhor dia

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Por Matthew Futterman (The Athletic/NYT)
Atualização:

Qual é o momento certo para criar expectativas em torno de um tenista promissor? As pessoas tinham visões sobre o futuro de Carlos Alcaraz quando ele tinha 10 anos, idade em que a Babolat e outras grandes empresas de raquetes de tênis às vezes começam a distribuir equipamentos e brindes para os atletas mirins. No Les Petits As, da França, o principal torneio para juniores de até 14 anos, qualquer candidato que acumule bons resultados em games, sets e partidas logo verá um agente ao ouvido de seus pais ou assinará um contrato.

Segundo essas métricas, acreditar em João Fonseca, o adolescente brasileiro tranquilo, de cabelos claros e ondulados, que já consegue sacar a 225 km/h, parece uma aposta bem conservadora. Mais alguns números: aos 18 anos, Fonseca foi o jogador mais jovem a entrar no ATP Next Gen Finals, em Jeddah, Arábia Saudita, uma competição para os tenistas masculinos mais bem classificados de até 20 anos; e com 1,85m, ele está na faixa ideal — nem muito alto, nem muito baixo — dos jogadores que venceram a maioria dos Grand Slams na última década.

João Fonseca derrotou o russo Andrey Rublev, número 9 do mundo, em sua estreia na chave principal do Australian Open. Foto: Asanka Brendon Ratnayake/AP

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Fonseca cresceu idolatrando Roger Federer, parte do motivo por que seu principal patrocinador é a On, a fabricante suíça de artigos esportivos na qual Federer tem uma participação significativa. A On contratou Fonseca — nascido Rio de Janeiro — há dois anos, quando ele tinha apenas 16 anos.

“Disseram que seríamos eu, Iga (Swiatek) e Ben Shelton”, recordou-se Fonseca durante uma entrevista, no mês passado. “Claro que eu disse sim.”

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Talvez a perspicácia empresarial de Fonseca seja tão precoce quanto seu talento no tênis. Uma ação da On valia US$ 17,36 há dois anos. Hoje vale cerca de US$ 55 (R$ 342,65 na cotação do dia). Seu contrato permite que ele viaje com um fisioterapeuta em tempo integral; e também o colocou na quadra de treino com Shelton, de 22 anos, quando eles participaram dos mesmos torneios.

Na primeira vez que se encontraram, no Mallorca Championships de 2023, Shelton descobriu que Fonseca era o novato na equipe On e sugeriu que eles treinassem juntos no dia seguinte.

“Eu pensei: ‘Eu não sou nada e você quer treinar comigo?’”, disse Fonseca.

Ele não era nada naquela época e certamente não é agora. Ele ganhou o título júnior do US Open em setembro de 2023, a temporada em que se tornou o primeiro tenista brasileiro a liderar o ranking júnior. Em fevereiro, derrotou Arthur Fils na primeira rodada do Rio Open, 6/0, 6/4. Na época, a derrota pareceu ser um grande revés para Fils, que agora está classificado entre os 20 melhores do mundo e era o favorito para o torneio ATP Next Gen Finals, que começou em 18 de dezembro.

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Eles se enfrentaram na última partida do primeiro dia. Fonseca venceu Fils novamente, em cinco melhores de quatro game sets, ao quebrar um deuce de morte súbita no set final sacando como um veterano. Quatro vitórias depois, ele tinha o troféu e um cheque de mais de US$ 500 mil para levar para sua casa, no Rio, o campeão com a classificação mais baixa na história do ATP Next Gen Finals e na lista dos vencedores mais jovens, ao lado de Jannik Sinner e Carlos Alcaraz.

Oito vitórias depois, Fonseca estava em sua primeira chave principal do Grand Slam em Melbourne, enfrentando o número 9, Andrey Rublev. Ele jogou bem o suficiente nos primeiros 12 games, sacando consistentemente, mas com um retorno sem controle. Assim que o tiebreak começou, ele travou. Rublev ganhou apenas um ponto, com um ace; Fonseca ganhou sete e os dois sets seguintes para avançar para a segunda rodada do Australian Open.

A primeira derrota no Brasil se tornou mais palatável para Fils desde que ocorreu.

A comparação óbvia com um jogador de ponta é Sinner, o número 1 do mundo, dado o forte saque de Fonseca, a potência na linha de base e o comportamento discreto dentro e fora da quadra. Pronto para tirar o oponente do eixo quando se inclina para um forehand, ou talvez um backhand de duas mãos na linha, ele também consegue mudar de marcha.

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No Masters 1000 de Madri, Fonseca perdeu um set para Alex Michelsen, um americano que é outro rival na categoria de até 20 anos. Superado em rebatidas cruzadas de forehand, Fonseca começou a disparar bolas diretas no meio e fazer Michelsen gerar ângulos, rebatendo qualquer bola curta para os cantos. Michelsen não foi capaz de passar no exame: Fonseca meteu 6/0 para empatar a partida e prevaleceu no terceiro set.

“Ele é um jogador que consegue jogar o seu melhor sob grande pressão. E tem capacidade de se adaptar rapidamente a diferentes situações”, escreveu seu treinador, Guilherme Teixeira, por e-mail. Teixeira tem trabalhado com seu pupilo desde seus 11 anos; a mãe de Fonseca, Roberta, assiste ele jogar há muito mais tempo.

Roberta, que também respondeu perguntas por e-mail, afirmou que nunca viu seu filho ficar nervoso antes de uma partida. Ela se lembra dele perdendo quando tinha 8 ou 9 anos porque voleava de volta ao jogo bolas que iam para fora. Ele ficou muito chateado ao deixar a quadra, mas, assim que viu sua mãe, começou a implorar para que ela o inscrevesse em outro torneio.

Nada disso, nem a qualificação para o ATP Next Gen Finals, garante nada. Alcaraz e Sinner venceram em sua ascensão, mas o torneio também contava com versões mais jovens de Alexander Zverev, Stefanos Tsitsipas, Daniil Medvedev, Taylor Fritz e Casper Ruud — todos finalistas do Grand Slam, mas apenas um deles, até o momento, vencedor. Medvedev venceu o US Open em 2021. Muitos dos oito lendários nunca chegaram nem perto no final de cada temporada.

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As atuações do brasileiro João Fonseca têm encantado o mundo do tênis. Foto: Asanka Brendon Ratnayake/AP

Fonseca fez parte da lista de 2024 ao lado de Fils e de Luca Van Assche, da França; de Michelsen, do eventual finalista Learner Tien, e de Nishesh Basavareddy, dos EUA; de Jakub Mensik, da República Checa; e de Shang Juncheng, da China, que também atende pelo seu nome americanizado, Jerry Shang.

É difícil dizer se haverá algum finalista do Grand Slam nesse grupo. Os jovens com estilo e lugar no Les Petits As podem ser bons, mas cautela diante do hype adolescente é uma posição muito mais segura. O Brasil não produz um tenista masculino de ponta desde Gustavo “Guga” Kuerten, o tricampeão de Roland Garros e ex-número 1 do mundo que ajudou a revolucionar o tênis adotando precocemente cordas de poliéster.

Por décadas, jogadores do País e do restante da América do Sul tiveram que superar sua iniciação quase exclusivamente no saibro. O desafio é muito maior para eles do que para jogadores de outros centros de saibro, como a Espanha, por causa da distância que os sul-americanos têm de viajar para encontrar diferentes superfícies de quadra e oponentes. Não é de se admirar que os jovens tendam a gravitar em torno do futebol, um esporte muito mais acessível, e conversem sobre a influência dos troféus da Copa do Mundo, de Ronaldo Nazário e de Neymar. Para jogar tênis no Brasil, você precisa ser membro de algum clube privado.

Fonseca se lembra de viajar para a Europa para competir pela primeira vez quando tinha cerca de 13 anos. Ele jogou em uma quadra pública na Alemanha com uma vista pitoresca. As bolas de tênis pareciam gratuitas e ilimitadas. “Na Europa, você tem muito mais ajuda”, disse ele.

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Fonseca teve a sorte de nascer em uma família abastada, com pais loucos por esportes. Sua mãe flertou com o vôlei profissional. Ela e o marido, que competiu no tênis júnior no Brasil quando adolescente, correram meias-maratonas e competiram em ciclismo de estrada e de montanha e corridas de aventura.

“O esporte corre em nossas veias”, disse Roberta.

João praticou quase todos os esportes que lhe apresentaram, incluindo futebol, vôlei, natação, judô, skate, surfe e esqui, além do tênis. Sua mãe disse que ele se destacava em todos.

Aos seis anos, ele marcava todos os gols em torneios de futebol na equipe de sua academia e também jogava na defesa. Ele sabia nadar nos quatro estilos desde cedo, e seu clube de natação o colocou no time de competição. Ele chegou à faixa roxa no judô aos 10 anos.

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Teixeira percebeu seu potencial no tênis quando o viu pela primeira vez, aos 11 anos. A qualidade de suas rebatidas e seu contato puro com a bola eram muito à frente em relação a outras crianças de sua idade e mais velhas, mas Teixeira notou algo mais. As vitórias não o empolgavam tanto e as derrotas não o deixavam tão triste.

“Em temporadas de torneios, você precisa competir e praticar semana após semana e ser capaz de controlar suas emoções”, disse Teixeira. “Ele simplesmente reinicia a mente e começa outra vez.”

No último ano, o primeiro de Fonseca como profissional pleno, Teixeira viu aumentar essa dedicação. Fonseca está tratando o tênis como sua carreira pela primeira vez, se envolvendo em treinos e sessões de ginástica, com o que Teixeira descreve como um novo nível de seriedade.

Veja a seguir um cronograma típico de um dia de treinamento de Fonseca, que começa com testes em seus músculos para determinar o quão firme ele pode treinar naquele dia:

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  • 8h30: Testes
  • 9h: Fisioterapia e aquecimento
  • 10h: Academia
  • 11h: Treino na quadra
  • 13h: Almoço e descanso
  • 15h: Quadra
  • 16h30: Academia
  • 17h30: Fisioterapia, se necessário

Teixeira disse que Fonseca também está prestando mais atenção ao descanso e à alimentação. Ele é aplicado nos exercícios respiratórios, que podem ajudá-lo a permanecer calmo durante as partidas. Melhorar seu jogo de pés está no topo da agenda para 2025.

Mas Fonseca ainda é adolescente. Só consegue ficar um mês ou pouco mais longe de casa antes de a fadiga e a saudade se instalarem. Na temporada passada, ele tentou disputar torneios por quatro ou cinco semanas, antes de voltar para casa para algumas semanas de treinamento e visitas a amigos e parentes.

Enquanto jogador de tênis, ele também é adolescente. Seu maior desafio é consistência: descobrir como vencer quando não está jogando seu melhor jogo. No tênis júnior, o melhor jogador — aquele com a melhor técnica e as melhores rebatidas — geralmente vence o torneio. Mas não é isso que acontece quando a coisa fica séria.

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“No circuito profissional, muitos jogadores conseguem encontrar as soluções, e os que encontram mais soluções durante os torneios, durante semanas, têm os melhores resultados”, disse Fonseca.

Ele tem tempo, mas para algumas coisas é impaciente, especialmente para se livrar da suposta lealdade ao saibro e às quadras lentas. Em vez disso, Fonseca quer se especializar em quadras de grama. “Eu amo Wimbledon”, disse ele. “Quero ser como Sinner ou (Novak) Djokovic. Esses caras jogam bem em qualquer quadra.”/TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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