O público que se acostumou a ver Rafael Nadal erguendo troféus em Roland Garros nas duas últimas décadas, com jogadas explosivas e batalha até o fim, presenciou uma cena rara nesta segunda-feira. Carente de ritmo e com o físico como um rival a mais na Philippe-Chatrier, a quadra principal do Grand Slam de Paris, o rei do saibro lutou, mas não foi páreo diante de um embalado Alexander Zverev, quarto do mundo, e deu adeus logo na estreia da competição pela primeira vez na história com derrota por 6/3, 7/6 (7/5) e 6/3 após 3h05 de jogo.
Nesta que pode ser a última edição de Roland Garros ao multicampeão, a organização havia preparado uma festa de despedida para Nadal sob o risco da eliminação precoce que se confirmou. O espanhol, entretanto, avisou ainda no domingo que pretende disputar a edição em 2025 e as homenagens foram adiadas. Mesmo assim, pediram que ele discursasse após o jogo, algo comum só aos ganhadores dos jogos. Humilde, Zverev optou por passar a palavra ao adversário, de quem já havia sido derrotado em Roland Garros.
Em francês, Nadal mandou um “muito obrigado a todos”, e afirmou que não sabia descrever o que estava sentindo. “Com todo o sucesso que tive aqui, tem sido um processo lindo, todas as lembranças, o que me faz sentir tão especial, são todas as pessoas, o apoio inesquecível, incluindo minha família, amigos e treinadores. Não posso agradecer o suficiente”, afirmou.
Desejou, ainda, uma boa competição para Zverev e voltou a deixar aberta a possibilidade de voltar em 2025. “É difícil fazer uma previsão. Há uma grande chance de eu não voltar, o corpo está se sentindo melhor, então não posso ter certeza. Talvez em dois meses seja o suficiente (para anunciar), mas é algo que não sinto ainda.” Ele ainda deve disputar, ao menos, Os Jogos de Paris-2024 no local, data que definirá seu futuro.
Foi somente a quarta derrota de Nadal em Roland Garros em 115 partidas. Das 18 aparições no Grand Slam, ele havia sido campeão em 14, um recorde difícil de ser superado. Seu pior resultado no torneio foi nas oitavas de final de 2009, com derrota diante do sueco Robin Soderling. Os outros dois reveses foram diante de Novak Djokovic (quartas de 2015 e semifinal de 2021). O líder do ranking e atual campeão estava nas tribunas da Philippe-Chatrier, assim como o compatriota Carlos Alcaraz e a polonesa Iga Swiatek, melhor tenista da WTA.
Nadal entrou em quadra buscando transmitir que estava bem fisicamente. Com bom movimento de pernas e saltitante, queria provar que ainda consegue jogar em alto nível. Mas estranhou o piso no qual se acostumou a ganhar títulos e uma quebra logo no primeiro game, sem pontos, custou o primeiro set.
O rei do saibro, dono de 14 títulos na terra batida de Paris, até equilibrou as ações logo após perder o serviço. Mas o embalado alemão, campeão em Roma, soube manter a vantagem. Após salvar dois breaks no quarto game, aproveitou bem a primeira chance de fechar. Em parcial de quase nove minutos, fechou em 6 a 3 no terceiro set point, graças a bola de Nadal na rede. O game foi em grande estilo, com Zverev buscando uma incrível curta e sobrevivendo às pancadas de Nadal.
Ciente que a falta de ritmo era um adversário a mais para o espanhol, Zverev acelera as jogadas e investia no saque forte para comandar a partida. Não demorou, portanto, para ter chances de quebra. Mas viu o vibrante rival salvar duas bolas para igualar o set em 2 a 2. Deu pulinhos na quadra e sob os gritos de “Nadal, Nadal”, empolgou.
Em linda curta, Nadal quebrou o saque do alemão e foi aplaudido de pé em seu melhor momento no jogo que começou bastante difícil. Acostumado a andar na frente nos jogos em Roland Garros, fechou o serviço e transformou a quadra em estádio de futebol.
Com o serviço para fechar em 6 a 4, Nadal não viu a cor da bola e, com enorme dificuldade na potente esquerda do alemão, permitiu o empate. Zverev recuperou a confiança e virou. O jogo foi ao tie-break. No game desempate, fechou com 7/5 no segundo set point, com devolução na rede do rival, abrindo 2 a 0 - apenas na edição de 2015 o espanhol saiu com essa desvantagem em um duelo em Roland Garros.
O terceiro set começou com Nadal tendo de salvar um 15/40 no saque. Fechou e quebrou a seguir. Diferentemente dos anos de glória, contudo, novamente não sustentou a vantagem. Para confirmar o serviço e ter 3 a 2, precisou salvar quatro breaks e lutar por 12 minutos.
O último esforço de Nadal no jogo, já acusando enorme desgaste, pouco adiantou. Zverev estava concentrado e forte para não permitir o ressurgimento do espanhol no jogo. Com três pontos diretos, abriu 5 a 3 e ficou perto de uma das mais importantes vitórias da carreira. Com a terceira quebra na parcial, após bola fora, o alemão celebrou o triunfo por 6 a 3. O aplauso final veio para ambos, mas com reverência para Nadal, que permaneceu na quadra.
FAVORITOS AVANÇAM
Segundo do mundo, o italiano Jannik Sinner estreou em grande estilo em Roland Garros. Sem ameaças, fez 3 a 0 sobre o americano Christopher Eubanks, parciais de 6/3, 6/3 e 6/4, avançando a segunda rodada.
Outro Top 10 com estreia boa foi o grego Stefanos Tsitsipas, algoz do húngaro Márton Fucsovics em sets diretos. O cabeça 9 fez 7/6 (9/7), 6/4 e 6/1.
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