Sem estrelas, Brasil Open aposta em 'bravura' da nova geração e no Ibirapuera

ATP 250 mantém política de não pagar por medalhões e investe em estrutura centralizada em ginásio para atrair fãs e agradar tenistas

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Por Rafael Franco

A 19ª edição do Brasil Open começa nesta segunda-feira, no ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, com os seus organizadores confiantes de que poderão superar os vários obstáculos que voltam a colocar em dúvida o sucesso do evento, assim como ocorreu nos últimos anos na tradicional competição.

Com o status de ATP 250 desde a sua estreia no calendário, em 2001, então quando Gustavo Kuerten vivia o seu auge, o torneio reinou absoluto como o principal do tênis do País pelo menos até 2013. E até 2011 o mesmo foi realizado na Costa do Sauipe, na Bahia, antes de passar a ser disputado na capital paulista.

Ginásio do Ibirapuera visto de fora. Foto: Werther Santana/Estadão

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Neste período, o espanhol Rafael Nadal foi campeão por duas vezes do evento, assim como Guga. A partir de 2014, porém, a competição começou a ser ofuscada pelo Rio Open, inserido no mesmo período da gira sul-americana de saibro do circuito profissional e com status de ATP 500, o único jogado na América do Sul e com premiações bem mais atrativas aos jogadores.

A edição deste ano do torneio na capital fluminense acabou no domingo, mas viu as suas principais estrelas perderem seus jogos da chave de simples nas rodadas iniciais. O fato representou uma grande decepção aos organizadores, também pelo fato de que alguns destes tenistas receberam cachê para estarem no Rio, prática não adotada pelo Brasil Open em conduta defendida com orgulho por Luis Felipe Tavares, diretor do ATP 250 paulistano. 

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"Inúmeros são os obstáculos para trazer jogadores mais conhecidos para esse tipo de evento. Uma das armas que os promotores usam é justamente pagar garantia, ou seja, dinheiro, para que os atletas se exibam, caso a constatar no recente evento realizado na cidade do Rio de Janeiro, onde algumas estrelas da chave principal simplesmente perderam na estreia e rumaram ao (aeroporto do) Galeão", disse Tavares, em entrevista ao Estado, na qual em seguida valorizou as novas promessas e os objetivos genuínos buscados pelos tenistas menos badalados que hoje participam do Brasil Open. 

"Aqui preferimos ver a bravura e o empenho da jovem geração nacional e internacional sedenta por pontos (no ranking da ATP) e dinheiro da premiação, que tem se mostrado bem superior aos medalhões de costume", reforçou o dirigente.

Tavares sabe, porém, que a presença de grandes estrelas poderia atrair maior público ao evento e receitas importantes, sendo que o Brasil Open vem enfrentando problemas financeiros nos últimos anos. E, em meio a este contexto de crise, o diretor apontou o processo de transição do novo governo de Jair Bolsonaro na gestão do esporte de alto rendimento no País como uma das barreiras a serem superadas pela organização.

"Os principais obstáculos têm se dado na área administrativa e na morosidade com que alguns processos relativos à organização e produção do evento, em função de eventos alheios à organização do torneio tais como mudanças administrativas no governo federal e a fusão do Ministério do Esporte com o Ministério da Cidadania", ressaltou Tavares, que mesmo assim se mantém otimista no sucesso da competição.

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QUADRA COBERTA COMO TRUNFO

Um dos motivos para o diretor apostar neste êxito é o fato de que o Brasil Open continua sendo o único ATP 250 realizado em quadra de saibro coberta. Isso garante que os jogos não serão interrompidos pela chuva, diferentemente do que ocorreu quando o torneio ocorreu por dois anos no Esporte Clube Pinheiros, em 2015 e 2016. "O que nós podemos oferecer para o público é que, em um período chuvoso como é o da gira sul-americana (do calendário), aqui em São Paulo o Brasil Open é jogado em quadra coberta para que o público possa assistir aos jogos com tranquilidade, evitando maiores transtornos. E para os jogadores também é bom, pois a programação de jogos não é prejudicada por fatores climáticos", lembrou.

A praticidade também foi apontada por Tavares como um atrativo para este Brasil Open. "Para essa edição conseguimos concentrar toda a estrutura do evento dentro das instalações do ginásio do Ibirapuera, possibilitando assim uma maior integração entre jogadores, público, jornalistas e os demais envolvidos", disse, se referindo ao fato de que acomodações como a sala reservada aos tenistas e a área médica, por exemplo, migraram da parte externa para o interior do ginásio.

O fato de o Ibirapuera não possuir um sistema de ar-condicionado e submeter torcedores, tenistas e jornalistas a um forte calor em determinados momentos, principalmente em dias de jogos com casa cheia, esteve entre os pontos criticados por público, imprensa e jogadores em outros anos de disputa da competição. No ano passado, quando voltou a ser disputado no ginásio, o local recebeu reparos em sua estrutura e melhorias nos vestiários dos tenistas para poder atingir o nível cobrado pela ATP. 

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Ao ser questionado pela reportagem se novas intervenções foram promovidas nestes aspectos para beneficiar tenistas e o público, Tavares preferiu não entrar em detalhes ao comentar o assunto, mas enfatizou: "Tudo o que está ao nosso alcance foi feito para atender os jogadores. Como de praxe, as instalações são vistoriadas e aprovadas pela ATP". 

VERBA MAIOR, NÍVEL PARECIDO

A captação de verbas por meio de projetos de empresas aprovados pela Lei de Incentivo ao Esporte também teve a sua importância exaltada por Tavares, sendo que para esta edição do Brasil Open a organização conseguiu a aprovação de R$ 6.609.189,61 para o torneio. No ano passado, metade deste valor (R$ 3,3 milhões) foi captada por meio deste mesmo dispositivo, após R$ 3,8 milhões terem sido autorizados inicialmente pelo governo federal. 

"O atual modelo de promoção de eventos de alto rendimento com o Ministério do Esporte (Secretaria Nacional de Esporte) é que tem possibilitado algumas empresas, que preferem se resguardar de suas verbas de marketing, aplicar assim em Leis de Incentivo ao Esporte. Esse tem sido o modelo aqui no Brasil há alguns anos", disse o diretor, para depois completar: "Ainda assim, com as inúmeras adversidades pelas quais o nosso país tem passado na área política e econômica, gerando uma grande incerteza para o mercado, essas captações têm se mostrado eficientes quanto ao seu objetivo, restando assim nas mãos dos promotores os riscos inerentes a operações desse porte". 

Embora a captação de recursos tenha sido bem maior para este Brasil Open, a organização deixou claro que nenhuma parte desta verba pode ser destinada ao pagamento de cachês que atrairiam a presença de tenistas do primeiro escalão da ATP. Assim, o nível técnico mediano da disputa será parecido com o que foi visto nas últimas edições do torneio, cuja direção aposta também na paixão do bom número de fãs paulistanos pelo tênis como motivo suficiente para acreditar que o sucesso da competição não depende da presença de grandes astros. E isso poderá, ou não, ser confirmado com o início das disputas das chaves principais do evento nesta segunda-feira.

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